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Se os cartolas não tomarem jeito, o futebol-empresa não vai salvar o esporte

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Carneiro Neto
30/08/2019 14:25 - Atualizado: 29/09/2023 23:24
O presidente da CBF, Rogério Caboclo.
O presidente da CBF, Rogério Caboclo. | Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Com a falência do futebol carioca, exceto o Flamengo, que recebe milhões de verbas da televisão e invariavelmente lota o Maracanã nos seus jogos, políticos do Rio de Janeiro iniciaram o movimento para a transformação dos clubes de futebol em empresas.

Não sei se vai resolver o drama de Botafogo, Fluminense e Vasco da Gama, mas que vai mudar a face do futebol brasileiro vai. Dos 20 clubes da série A consultados a respeito do projeto de lei que tramita na Câmara Federal, 14 aprovam a ideia e seis não responderam. Os candidatos a clube empresa estão animados.

Em pequena digressão, bastaria revelar a origem ou o sentido da palavra “candidato” e que tudo estaria dito. Isso também por ser aplicado à política de maneira geral, afinal o que não falta no Brasil são candidatos a algum cargo.

Então, digo: “candidato” significa “aquele que vai mudar de condição”. Até aí, nada de mais. Principalmente, na decrépita política brasileira todos sabem que a pessoa depois que entra para a política muda muito de condição, a tal ponto que alguns se convertem em políticos incondicionais, fazem qualquer tipo de negócio.

Mas é preciso recuar um pouco no tempo. É importante voltar ao passado, à raiz da palavra “candidus”, que significa branco. Em muitos rituais de iniciação “candidus” é a cor do candidato, e a maneira como ele se veste revela a pureza de sua alma, a brancura de seus ideais.

Na peça “O Candidato”, de 1874, que foi um fracasso retumbante na carreira do escritor Flaubert, conta-se a estória de um tal de Rouselin, que se afastando dos negócios na chamada meia-idade, ao invés de se entregar à paz do ócio, resolveu candidatar-se a deputado. Tornou-se uma pessoa mesquinha, ambiciosa, vaidosa e estragou a vida da família. 

Já Voltaire tem aquele famoso romance filosófico “Cândido”, de 1759, onde o tema é o embate entre o idealismo idiota e a crueza de realidade. Aí, o otimista Cândido é educado por Pangloss a achar que o ser humano é bom por natureza. Resultado: quebra a cara, cai na real e sai pelo mundo numa série de peripécias dramáticas e irônicas.

Voltemos ao futebol nosso de cada dia.

Com a nova lei aprovada, os clubes se transformariam em empresas, nos mesmos moldes do que acontece no futebol europeu, por exemplo. Teriam a possibilidade de receber novos investimentos nacionais e estrangeiros. Até aí tudo bem. Mas muitos especialistas no assunto alertam que a mudança jurídica não resolve problemas de gestão.

Ou seja, se os cartolas não tomarem jeito não é uma simples legislação que tornará o futebol brasileiro sucesso econômico, financeiro e administrativo. A chave do negócio é controlar gastos e aumentar receitas. Além da seriedade no trato dos interesses da empresa futebolística.

É mais um menos como naquela conversinha, na manhã fria e cinzenta de Londres, entre a rainha Victoria e o Lord Melbourne quando ela pediu-lhe que definisse o que fosse governar. Com uma clareza de ofender a vista, ele respondeu em uma frase: “Governar, Majestade, é defender a sanidade da moeda e a santidade dos contratos”. Ponto.

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