colunas e Blogs
Carneiro Neto
Carneiro Neto

Carneiro Neto

Carneiro Neto

Zidane, Carille e a tirania do sucesso

Por
Carneiro Neto
01/06/2018 18:04 - Atualizado: 27/09/2023 19:23
Zidane, Carille e a tirania do sucesso

Segundo Sócrates, o filósofo, não o jogador, a alma humana é comparável a um coche puxado por uma parelha de cavalos e guiado por um cocheiro.

Dois cavalos. Dois cavalos alados, segundo o filósofo grego, sendo um deles nobre e generoso, atraído por tudo o que há de elevado e perene enquanto que o outro é apenas força bruta, incapaz de distinguir entre ideais e apetites rasteiros. Se este segundo cavalo é mais forte que o primeiro, a alma tende a permanecer colocada à terra, próxima ao chão. Mas se, ao contrário, o cavalo mais nobre é o mais vigoroso, ou se o cocheiro consegue estimulá-lo e dar-lhe forças, então a alma se ergue e se aproxima do que Sócrates chama verdades eternas ou ideais.

Todas as almas e, portanto, todos os tipos humanos podem ser encontrados ao longo do percurso da vida, alguns mais perto da terra, outros do céu. Sócrates distingue e descreve, entre esses tipos, categorias diversas que merecem, a seu ver, destaque.

No alto da escala estão os pensadores e os generosos; no extremo mais baixo, os tiranos e os ambiciosos. Os dois cavalos representam a força da paixão humana.

Tricampeão na Liga dos Campeões Europeus e bicampeão mundial de clubes, com nove títulos conquistados em 149 partidas no comando do Real Madrid, o francês Zinedine Zidane renunciou ao cargo nesta semana.

Campeão brasileiro e bicampeão paulista, em apenas dois anos de trabalho, Fábio Carille também renunciou ao cargo de técnico do Corinthians.

Claro que não há termos de comparação entre a expressão de um e de outro.

Mas, se observamos com um pouquinho de atenção, descobriremos um elo nas duas decisões tomadas por profissionais vitoriosos no milionário mundo do futebol.

Respeitados, homenageados e reconhecidos pelo que realizaram em suas respectivas equipes decidiram sair por cima. No auge das conquistas e do poder que exerciam em seus ambientes de atuação.

Mas alguma coisa não estava em sintonia com os seus sentimentos.

Algumas críticas, contestações ou algo semelhante estavam ferindo os seus corações. Tanto o modesto Carille quanto o gigantesco Zidane sentiram a dor da injustiça. Da cobrança excessiva em momentos difíceis durante uma competição, de comentários que partiram de espíritos menores ou de pessoas que não aceitam o sucesso do outro.

A tirania do sucesso alcançou os vitoriosos Zidane e Carille.

Cada um ao seu modo e dentro da força da paixão, que tanto pode produzir o bem, como pode também produzir o mal. A inveja cega. A admiração gera nos indivíduos diversos graus de cegueira e de insensatez.

É aquele tal negócio do sujeito que se esforça para fazer tudo direitinho, usando o máximo de sua capacidade e inteligência para acertar, mas ao menor deslize recebe a crítica maldosa ou a insinuação de que pode ser substituído.

Então, no calor da vitória e do êxito pessoal, os dois treinadores resolveram sair de cena antes do desgaste inevitável. Saíram em busca de novos desafios, deixando os invejosos a vontade para a realização de suas maldades. Maldades bem próprias de espíritos menores, anjos caídos, que jamais terão lugar no percurso celestial.

Nota Sócrates que “o sucesso foi, desde sempre, chamado de tirano”; ele é efetivamente capaz de afastar toda tendência à moderação e estabelecer, na própria alma, uma verdadeira tirania do sucesso.

Veja também:
Agente de Vitor Roque detona Xavi e admite saída do Barcelona
Agente de Vitor Roque detona Xavi e admite saída do Barcelona
Tcheco admite emoção "inesquecível", mas prega cautela no Paraná
Tcheco admite emoção "inesquecível", mas prega cautela no Paraná
Pablo ou Mastriani? Cuca explica escolhas para o ataque do Athletico
Pablo ou Mastriani? Cuca explica escolhas para o ataque do Athletico
Contacto
Contacto
participe da conversa
compartilhe
Encontrou algo errado na matéria?
Avise-nos
+ Notícias sobre Carneiro Neto
Multidões, alegorias, falhas, protestos e gols na festa do futebol
Opinião

Multidões, alegorias, falhas, protestos e gols na festa do futebol

O desafio de Cuca entre o investimento e a realidade do Athletico
Opinião

O desafio de Cuca entre o investimento e a realidade do Athletico

Os dirigentes erram, os jogadores se omitem e os treinadores pagam a conta
Opinião

Os dirigentes erram, os jogadores se omitem e os treinadores pagam a conta