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Disputa pelo comando do BID
| Foto: Reprodução/BID

Argentina, Chile, México e Costa Rica articulam com a União Europeia (UE) um movimento para tentar impedir que o governo de Donald Trump tire do controle dos latino-americanos a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas esse bloco não poderá contar com o Brasil. O governo de Jair Bolsonaro já declarou apoio ao candidato de Trump. Outros vizinhos, como Colômbia, Equador e Uruguai, também estariam do lado de Trump.

A estratégia de vários países latino-americanos, com apoio da UE, é adiar a eleição, prevista para setembro. A proposta desse grupo prevê levar a escolha para março de 2021, contando que até lá os EUA terão eleito um novo presidente e há chance de Trump não ser reeleito.

A batalha pelo controle do BID não é por pouco. Fundado em 1959, o banco tem capital superior a US$ 100 bilhões de dólares. Esse dinheiro é uma das principais fontes de financiamento para projetos de desenvolvimento no continente. Todos os países da América Latina e Caribe são tomadores de empréstimo.

Os EUA são o principal contribuinte da instituição, repassando em média US$ 12 bilhões de dólares ao ano. Outros grandes contribuintes são membros da União Europeia, o Canadá, o Japão e o Reino Unido.

Assim como tem pressionado para elevar sua influência em várias outras organizações multilaterais para as quais os EUA fazem grandes repasses de recursos, Trump busca tomar as rédeas do BID e assim ter maior peso nas decisões sobre a destinação de investimentos na América Latina e Caribe.

A avaliação é que, caso seja mantida a eleição para setembro, o nome indicado por Trump, Muricio Claver-Carone, seria eleito. Claver-Carone é filho de cubanos, nascido em Miami (Flórida), e integrou o grupo que levou Trump à vitória nas eleições presidências contra Hillary Clinton.

Os adversários da iniciativa de Trump argumentam que um dos compromissos firmados na fundação do BID é que o presidente da instituição seria escolhido pelos países latino-americano e o vice-presidente proposto pelos Estados Unidos. O acordo teve a aprovação dos presidentes Dwight D. Eisenhower e John F. Kennedy e, desde então, por seis décadas, foi mantido. Os críticos argumentam ainda que, ao colocar um norte-americano na presidência do BID, Trump pretende politizar a instituição multilateral.

O peso do voto de cada país (em %) no BID

Países membros mutuários

  • Brasil 11,35
  • Argentina 11,35
  • México 7,30
  • Venezuela 3,40
  • Chile 3,12
  • Colômbia 3,12
  • Peru 1,52
  • Uruguai 1,22
  • Bolivia 0,91
  • República Dominicana 0,61
  • Equador 0,61
  • Guatemala 0,58
  • Jamaica 0,58
  • Costa Rica 0,46
  • Honduras 0,46
  • El Salvador 0,47
  • Haiti 0,46
  • Nicarágua 0,46
  • Panamá 0,46
  • Paraguai 0,46
  • Trinidad e Tobago 0,43
  • Bahamas 0,21
  • Guiana 0,16
  • Barbados 0,14
  • Belize 0,12
  • Suriname 0,09

Países regionais não mutuários

  • Estados Unidos 30,01
  • Canadá 4,00

Países não regionais não mutuários

  • Japão 5,00
  • Itália 1,97
  • Espanha 1,96
  • França 1,90
  • Alemanha 1,90
  • Reino Unido 0,96
  • Suíça 0,47
  • Bélgica 0,33
  • Suécia 0,33
  • Países Baixos 0,20
  • Noruega 0,17
  • Dinamarca 0,17
  • Finlândia 0,16
  • Áustria 0,16
  • Israel 0,16
  • Portugal 0,05
  • Croácia 0,05
  • Eslovênia 0,03
  • Coreia do Sul 0,004
  • China 0,004

Claver-Carone rebate os opositores a seu nome. Ao jornal The New York Times, disse que a reclamação número um que sempre foi feita é que os EUA nunca se importaram o suficiente com o BID e que o governo norte-americano jamais dispensou a atenção necessária à instituição. “Na administração Trump, estamos mudando isso”, afirmou. Em outras entrevistas a diversos veículos, lembrou o fato de ser filho de latino-americanos (cubanos).

Do outro lado, o nome mais forte é do argentino Gustavo Beliz, ex-diretor do Instituto para a Integração da América Latina e Caribe e atual secretário de Assuntos Estratégicos do presidente Alberto Fernández, adversário político de Bolsonaro.

A candidatura de Beliz, que já contava com apoio do México, ganhou apoio recente do Chile, um aliado histórico dos EUA na região. Na quinta-feira (6), o governo do Chile disse que o país é partidário de adiar a eleição do BID. O anúncio chileno foi feito um dia depois de o México ter defendido o adiamento e recebeu elogios públicos do presidente argentino.

O governo Bolsonaro chegou a manifestar esperança de emplacar um brasileiro no comando da instituição. O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ao secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, que o Brasil gostaria de indicar o economista Rodrigo Xavier para a função, mas foi atropelado pela decisão de Trump.

Em meados de junho, diante da ofensiva do presidente dos EUA, os Ministérios da Economia e das Relações Exteriores divulgaram nota afirmando apoio ao candidato de Trump. “O Governo brasileiro recebeu positivamente o anúncio do firme comprometimento do governo dos Estados Unidos com o futuro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por meio da candidatura norte-americana à presidência da instituição”, afirma o documento.

O alinhamento do Brasil ao candidato norte-americano aumentou a chance de vitória do norte-americano. Os Estados Unidos sozinhos têm 30% dos votos, o Brasil 11% e a Colômbia, 3%. Para ser eleito, o candidato precisa de ao menos 50% dos votos. Claver-Carone declarou em junho que já contava com os votos necessários para vencer.

Esse aparente favoritismo do candidato de Trump, entretanto, não significa tudo. A estratégia dos opositores mira o quórum mínimo necessário para validar a votação, de 75% dos votos. Somente as abstenções de União Europeia (16%), Argentina (11%), México (7%) e Chile (3%) já seriam suficientes para adiar a escolha. De acordo com o regulamento interno da instituição, sem quórum, a votação seria adiada para a próxima assembleia geral, em março de 2021.

O próximo presidente do BID vai substituir o colombiano Luis Alberto Moreno, que está há 15 anos no comando do banco.

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