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Cloroquina está em estudo em todo o mundo
Fiocruz produz Cloroquina e participa de estudos clínicos no tratamento da covid-19.| Foto: Divulgação/Aen/Fiocruz

Estudos publicados nas últimas semanas não conseguiram comprovar eficácia do uso de cloroquina no combate à Covid-19. Segundo informações divulgadas nesta sexta-feira (15) pela manhã, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de mudar o protocolo de prescrição da substância no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus teria sido a ‘gota d´água’ para o pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich.

Bolsonaro quer que o uso do medicamento seja autorizado para todos os infectados pelo novo coronavírus, e não somente para pacientes graves, como é hoje. O protocolo atual do Ministério da Saúde só libera o uso da cloroquina para pacientes em estado grave da doença. Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou parecer no qual estabelece critérios e condições para a prescrição de cloroquina e de hidroxicloroquina e admite a possibilidade de uso em pacientes com sintomas leves, em início de quadro clínico.

Três entidades científicas brasileiras – Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – divulgaram documento em que recomendam a não utilização de hidroxicloroquina, cloroquina e de suas associações com azitromicina em tratamentos contra a covid-19.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a cloroquina, combinada ao azitromicina, é uma das quatro combinações de medicamentos em fase de testes em 74 países e cujos resultados são monitorados pela organização. Pesquisadores em todo o mundo seguem testando a droga.

Nesta sexta-feira (15), a porta-voz da OMS, Margaret Harris, disse que ainda não é possível concluir o efeito da cloroquina no combate ao coronavírus. "Precisamos tempo para ter os números e saber o real efeito", ponderou. Os quatro medicamentos ou combinações de substâncias considerados promissores nos estudos monitorados pela instituição são remdesivir, cloroquina/hidroxicloroquina, ritonavir-lopinavir e ritonavir-lopinavir/interferon beta.

Um dos últimos estudos sobre a efetividade da hidroxicloroquina – um derivado da cloroquina – no enfrentamento do Sars-Cov-2 foi publicado segunda-feira (11) na revista científica Jama (Journal of the American Medical Association), nos Estados Unidos.

No relatório, os pesquisadores da Universidade de Albany, no estado de Nova York, disseram não ter encontrado relação entre o uso do medicamento e a redução da mortalidade pela doença. Foram pesquisados 1.438 pacientes infectados com coronavírus em 25 hospitais de Nova York.

De acordo com o estudo, a taxa de mortalidade dos pacientes tratados com hidroxicloroquina foi semelhante à dos que não tomaram o medicamento, assim como à das pessoas que receberam hidroxicloroquina combinada com o antibiótico azitromicina.

Os pesquisadores verificaram ainda que os pacientes que tomaram a combinação de medicamentos tiveram duas vezes mais chances de sofrer parada cardíaca durante o período de análise.

Os resultados da pesquisa publicada na Jama são parecidos com os de outro estudo divulgado no The New England Journal of Medicine, na semana passada. Após análise de 1.376 pacientes no Presbyterian Hospital, de Nova York, a pesquisa indicou que não houve redução de mortes nem do risco de entubação com o uso da hidroxicloroquina.

Bolsonaro defende cloroquina
Bolsonaro segura uma caixa de hidroxicloroquina em live na noite de 9 de abril.| Reprodução/internet

Defensores da cloroquina

No final de março, o Ministério da Saúde (MS) liberou os medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina para uso em pacientes com formas graves da Covid-19, a critério médico. A decisão, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi baseada em estudos promissores que demonstram o potencial benefício dos medicamentos. Poucos dias depois, no início de abril, o uso do fosfato de cloroquina e do sulfato de hidroxicloroquina foi liberado nos Estados Unidos também para pacientes com casos graves da Covid-19, que estejam internados em hospitais. A decisão foi tomada em caráter emergencial.

O que Bolsonaro quer é ampliar a autorização de uso de cloroquina para todos os pacientes com coronavírus. Por determinação do presidente, o general Eduardo Pazuello - alçado a chefe interino do Ministério da Saúde nesta sexta-feira (15) -, deve assinar o novo protocolo da pasta que libera o uso da cloroquina até mesmo em pacientes com sintomas leves da Covid-19.

A substância cloroquina é usada no tratamento de malária, artrite reumatoide e lúpus. Em meados de março, o infectologista Didier Raoult, da Universidade de Medicina de Marselha (França), anunciou ter realizado pesquisa com 26 pacientes contagiados com coronavírus. Segundo o pesquisador, seis dias após os pacientes terem tomado cloroquina o vírus havia desaparecido em 75% deles.

Outro médico que ficou famoso foi Vladimir Zelenko, que declarou ter curado centenas de pacientes (entre 400 e 500) com Covid-19. O tratamento experimental propagado por Zelenko combina o antimalárico hidroxicloroquina, o antibiótico azitromicina e sulfato de zinco. Zelenko é médico de família que atua em Kiryas Joel – comunidade do estado de Nova York com cerca de 35 mil judeus hassídicos (divisão interna do judaísmo ortodoxo).

Os anúncios de Raoult e Zelenko serviram para reforçar as posições favoráveis à cloroquina defendidas pelos presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro – este último tem postado fotos nas redes sociais exibindo caixas do medicamento.

Em abril, Didier Raoult voltou à tona com resultados de um novo estudo sobre a ação da hidroxicloroquina. Raoult e sua equipe aumentaram a amostra de voluntários, um dos principais questionamentos recebidos em estudos anteriores.

Desta vez, segundo Raoult, 1.061 pacientes que apresentaram resultado positivo para o Sars-Cov-2 receberam o tratamento por “pelo menos três dias”. Dez dias depois, nove em cada 10 apresentaram carga viral zero, segundo o médico. Cinco pacientes (0,5%), com idade entre 74 e 95 anos, morreram. Segundo a equipe, “nenhuma toxicidade cardíaca foi observada”.

Após a divulgação do novo estudo do médico francês, cientistas afirmaram que a metodologia utilizada por ele não permite concluir que o tratamento evita o agravamento dos sintomas, a persistência do vírus e o grau de contágio. “Infelizmente, na ausência de um grupo comparativo (que receberia um placebo), é extremamente difícil saber se o tratamento é ou não eficaz”, disse Arnaud Fontanet, epidemiologista do Instituto Pasteur e membro do Conselho Científico sobre a Covid-19 da França.

Remdesivir

Ao mesmo tempo em que mergulha na polêmica sobre uso de cloroquina, o Brasil enfrenta dificuldade para ter acesso a um medicamento apontado como promissor no enfrentamento do novo coronavírus.

Na quinta-feira (14), a farmacêutica norte-americana Gilead Sciences, que fabrica o antiviral Remdesivir, resolveu abrir mão da patente para facilitar o acesso ao medicamento em 127 países. No entanto, o Brasil ficou de fora da lista. O Remdesivir vem sendo testado contra a covid-19 e aponta ser promissor, mas - assim como a cloroquina - ainda não há comprovação científica de sua eficácia.

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