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Manifestação contra o ultradireitista Jean-Marie Le Pen, em 2002. Foto: Reprodução/internet
Manifestação contra o ultradireitista Jean-Marie Le Pen, em 2002. Foto: Reprodução/internet| Foto:

Na história recente das eleições presidenciais da França, por duas vezes os franceses foram colocados diante de um cenário inusitado para um país acostumado a decidir entre conservadores e socialistas (ou, entre centro-direita e centro-esquerda). Em 2002, o ultradireitista Jean-Marie Le Pen chegou ao segundo turno contra todos os prognósticos feitos no início da campanha eleitoral. Em 2017, a extrema-direita novamente chegou ao topo da disputa, com Marina Le Pen, filha de Jean-Marie.

Tanto pai quanto filha conquistaram milhões de eleitores com propostas que há quase duas décadas têm ficado no centro do debate eleitoral em vários países europeus.

Capa do jornal Libération, que tomou partido contra Le Pen.

Jean-Marie Le Pen apresentou uma plataforma em que se destacavam o combate à imigração, ‘não’ à união entre pessoas do mesmo sexo, discriminação religiosa, restabelecimento da pena de morte e renegociação dos tratados França-Europa. Durante a campanha era comum incitar o racismo, a homofobia e o ódio.

Jean-Marie Le Pen foi militar e defensor da tortura. Na campanha de 2002, o jornal Le Monde revelou que o líder de extrema-direita torturou adversários durante a guerra de independência da Argélia (1954-1962). O Le Monde publicou quatro depoimentos inéditos de argelinos que explicam em detalhes os métodos de tortura que, segundo eles, foram utilizados por Le Pen, como choques elétricos no corpo molhado.

Marine Le Pen procurou eliminar de seu programa políticas discriminatórias pregadas por seu pai e, com isso, reduziu sua rejeição em determinados segmentos da sociedade francesa, como integrantes de grupos LGBT. Mas manteve muitos das aversões da extrema-direita, como o ódio a imigrantes. Tanto que em seu programa de governo a candidata propunha “negar o acesso gratuito aos cuidados de saúde básicos a migrantes em situação ilegal”. Também pregava o isolacionismo, com a saída da França da União Europeia.

Marine Le Pen amenizou políticas discriminatórias pregadas por seu pai, mas enfrentou forte rejeição dos franceses. Foto: Boris Horvat/AFP

A questão é: como os franceses agiram diante da realidade que se criou em 2002 e 2017? Nas duas ocasiões houve uma grande união das forças democráticas (conservadores, socialistas, centro-direita e outros agrupamentos políticos) do país para evitar a chegada ao poder de extremistas. Tanto eleitores como líderes políticos abandonaram certas divergências para evitar riscos à democracia.

Foi uma decisão difícil para o então primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno das eleições de 2002. Mas ele teve a coragem de apoiar o rival histórico no segundo turno contra Le Pen. Abertas as urnas, o centro-direitista Jacques Chirac obteve maioria esmagadora, com mais de 80% dos votos. E o curioso da história: anos depois, na eleição de 2012, a centro direita foi derrotada pela centro-esquerda de François Hollande, do Partido Socialista (PS).

Em 2017, os líderes dos dois tradicionais partidos excluídos do duelo final se juntaram em torno da candidatura do centrista Emmanuel Macron contra a líder da extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN). Estavam do lado de Macron o conservador François Fillon e também Benoît Hamon, do Partido Socialista (PS), entre outros. A união deu vitória a Macron.

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