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Pandemia afeta a economia mundial
Lojas fechadas na rua 25 de Março, em São Paulo: comércio é um dos setores mais afetados pela pandemia.| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O remédio pode ser pior que a doença? Essa é uma questão que está sendo debatida em todos os cantos do planeta diante da paralisação de grande parte das atividades econômicas para conter o novo coronavírus. Praticamente todas as análises sobre os impactos econômicos da covid-19 preveem que haverá recessão, e que o ‘tamanho’ da queda vai depender do nível de paralisação e do tempo de duração da pandemia. Por outro lado, alguns estudos recentes demostram que o isolamento social e medidas rápidas de contenção do vírus podem proteger a economia do risco de uma catástrofe ainda maior.

Um desses estudos, realizado por economistas do Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) – intitulado Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu (Pandemias deprimem a economia, as intervenções de saúde pública não: evidências da gripe de 1918) –, conclui que o preço econômico das quarentenas e dos fechamentos de negócios generalizados pode ser menor do que a alternativa de manter todas as atividades em funcionamento.

Os autores da pesquisa constataram, com base em dados da chamada ‘gripe espanhola’ nos EUA, que áreas mais expostas à pandemia experimentaram um declínio acentuado e persistente na atividade econômica. Os pesquisadores examinaram o impacto da gripe de 1918 e das medidas de distanciamento social sobre a economia. Usaram dados de estados e várias cidades norte-americanas.

“Descobrimos que as cidades que intervieram mais cedo e de forma mais agressiva não apresentaram desempenho econômico pior e, de alguma forma, cresceram mais rapidamente depois que a pandemia terminou. Nossos resultados indicam, assim, que as NPIs (intervenções não farmacêuticas) não apenas reduzem a mortalidade como também mitigam as consequências econômicas adversas de uma pandemia”, escrevem na apresentação do estudo os economistas Sergio Correia e Stephan Luck, ambos do Federal Reserve Bank, e Emil Verner, do MIT.

Problemas econômicos x medidas de contenção

Os três pesquisadores destacam ainda que, ao contrário de cidades onde as medidas preventivas foram tomadas mais cedo, áreas fortemente atingidas pela epidemia tiveram problemas econômicos mais graves: queda acentuada e persistente da atividade econômica real, redução da demanda de bens duráveis (automóveis, eletrodomésticos e outros), declínio na produção industrial, aumento do desemprego e baixa nos preços dos ativos financeiros.

De acordo com o estudo, na gripe de 1918 cidades como Los Angeles, Seattle, Minneapolis e Cleveland fecharam escolas e baniram reuniões públicas mais cedo e por períodos mais longos. Outras, como San Francisco, Filadélfia e St. Paul foram menos agressivas nas políticas de distanciamento social. O primeiro grupo de cidades, segundo constataram os pesquisadores, sofreu menos mortes e, no ano seguinte, desfrutou de uma produção média industrial mais alta, gerou mais empregos, além de terem balanços bancários mais fortes que as do segundo grupo.

“Os efeitos econômicos das NPIs (medidas de distanciamento social) podem ser positivos ou negativos. As NPIs restringem as interações sociais e, portanto, a atividade econômica que se baseia nessas interações. No entanto, em uma pandemia, a atividade econômica também é reduzida na ausência de tais medidas, pois as famílias reduzem o consumo e a oferta de mão-de-obra para diminuir a chance de serem infectadas. Assim, ao mesmo tempo que as NPIs diminuem a atividade econômica, elas podem também resolver problemas de coordenação associados ao combate e à transmissão de doenças e atenuar a ruptura econômica relacionada à pandemia”, dizem os autores.

Como exemplo de políticas de sucesso implementadas para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, os três economistas citam Taiwan e Cingapura. “Os países que implementaram as medidas de isolamento iniciais, como Taiwan e Cingapura, não apenas limitaram o crescimento de infecção. Eles também parecem ter mitigado a pior interrupção econômica causada pela pandemia”, observam.

Os impactos do coronavírus na economia

Outro estudo, realizado pela consultoria McKinsey & Company e divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, prevê que as economias dos EUA e da zona do euro podem levar até 2023 para se recuperar do impacto da crise do coronavírus, mas o desastre pode ser menor se a resposta da saúde pública, incluindo medidas de distanciamento social e bloqueio, for inicialmente bem-sucedida. O desafio seguinte seria impedir o ressurgimento do vírus.

“Se a resposta da saúde pública for mais forte e bem-sucedida – controlando a propagação do vírus em cada país dentro de dois a três meses – a perspectiva poderá ser mais positiva, com recuperação econômica no terceiro trimestre de 2020 para os EUA, no quarto trimestre de 2020 para a China e no primeiro trimestre de 2021 para a zona do euro”, diz o relatório.

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