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Sara Winter, de feminista do grupo Femen a líder de direita presa pela PF
| Foto: Reprodução/Facebook

A biografia da militante Sara Winter, 27 anos, presa pela Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (15), é marcada por contradições e reviravoltas. De fundadora no Brasil da célula do grupo feminista Femen – organização fundada na Ucrânia e que ficou conhecida por protestos de topless contra turismo sexual, instituições religiosas, sexismo, homofobia, racismo, entre outros temas – Sara migrou para a militância em defesa do presidente Jair Bolsonaro e abraçou causas como o empoderamento das mulheres pelas armas e a luta contra o aborto, a ideologia de gênero, a doutrinação marxista e a prostituição, além de pregar o extermínio da esquerda.

Nascida em São Carlos (SP), em 1992, Sara Winter foi registrada como Sara Fernanda Giromini. Graduou-se em relações internacionais pelo Centro Universitário Internacional (Uninter) e, nas redes sociais, declara ter pós-graduação em ciências políticas. Também declara ser aluna do escritor Olavo de Carvalho, considerado guru de uma ala do bolsonarismo.

Sara Winter em dois momentos de sua biografia.
Sara Winter em dois momentos de sua militância.| Reprodução/Twitter/Facebook

Ativista do movimento de direita “300 do Brasil” – nome que teria sido inspirado no filme 300 de Esparta, que narra um histórico confronto entre gregos e persas no ano 480 a.C. –, Winter foi candidata a deputada federal no Rio de Janeiro em 2018 pelo DEM. Obteve 17.246 votos e não se elegeu.

O movimento “300 do Brasil” montou um acampamento na Esplanada dos Ministérios, mas as barracas foram desmontadas no último dia 13 pela Polícia Militar após ela própria ter admitido a presença de armas em posse de acampados. “Essas armas servem para a proteção dos próprios membros do acampamento e nada têm a ver com nossa militância", declarou na época.

Sara Winter
| Reprodução/Twitter

Em maio, Sara Winter foi alvo de busca e apreensão pelo inquérito que investiga disseminação de fake news contra integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). “Levaram meu notebook, levaram meu celular e levaram o meu dinheiro. Todos sabem que eu trabalho fora do Brasil. Isso significa que eu recebo em dólares”, disse na ocasião.

Quando era militante feminista no grupo Femen, um episódio que chamou a atenção nas redes sociais foi uma encenação em que Sara e outra militante usam um boneco para simular, em público, a castração do agora presidente Jair Bolsonaro. A encenação foi um protesto ao que o grupo classificava de atitudes machistas, sexistas e discriminatórias por parte de Bolsonaro.

Sara Winter em protesto que simula castração de Bolsonaro e, depois, ao lado do presidente.
Sara Winter em protesto que simula castração de Bolsonaro e, depois, ao lado do presidente.| Reprodução/Facebook/Twitter

Em algumas entrevistas, Sara Winter afirmou ter sofrido violência – inclusive sexual – e que foi prostituta por 10 meses quando tinha 17 anos. “Com 16 anos fui morar no sertão da Paraíba, atrás de um namorado que conheci pela internet. Quando saí da Paraíba e fui pra São Paulo, tinha 17 anos. Passei na faculdade, queria poder pagar a mensalidade, que era muito cara. Aí conheci uma menina que era prostituta. Ela falou: “Eu sou prostituta, mas faço programa duas vezes por semana, tô ganhando a maior grana”. E eu falei: “Eu gosto de sexo, gosto de dinheiro, e nunca pude ter dinheiro”. Fiquei nessa vida por dez meses e vi que não tem nada de legal”, contou à jornalista Marcela Duarte em entrevista ao site FFW (Fashion Forward), em 2013.

Em 2012, Winter foi presa por protestar seminua a favor do Pussy Riot, um grupo de punk rock feminista russo. Ela e outras ativistas também jogaram água com tinta no muro do consulado russo. Elas assinaram um termo circunstanciado e foram liberadas.

Depois que saiu do grupo Femen, Winter disse ter se decepcionado com as colegas da causa progressista e que se arrependeu após ter feito aborto. Criou o Movimento Antifeminista e virou autora de livros digitais como "Vadia, Não! Sete Vezes que Fui Traída pelo Feminismo".

O grupo Femen afirma que Winter foi expulsa da organização. Ao portal G1, Inna Schevchenko, líder do Femen, declarou que as integrantes ficaram surpresas e indignadas com a atuação de Winter no Brasil. O grupo, segundo publicou o G1, diz que Sara tem "ideologias perigosas" e se tornou uma adversária de todas as feministas, negando os direitos e autonomia pessoal das mulheres. "O engajamento político recente da Sara Winter e as desinformações que ela espalhou sobre o movimento feminista nos últimos anos são uma vergonha", afirmou Inna.

Sara Winter com a ministra Damares Alves, que a nomeou para o ministério.
Sara Winter com a ministra Damares Alves, que a nomeou para o ministério.| Reprodução/Facebook

Em junho de 2019, Sara Winter foi nomeada pela ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, para integrar a pasta. Ela assumiu a Coordenação-Geral de Atenção Integral à Gestante e à Maternidade do Departamento de Promoção da Dignidade da Mulher, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM). No mês de outubro do mesmo ano, foi exonerada.

Sara Winter foi presa nesta segunda-feira (15) no âmbito do inquérito que investiga manifestações antidemocráticas, aberto em abril deste ano a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). A prisão foi autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo a investigação, o grupo é suspeito de organizar e captar recursos para atos antidemocráticos e de crimes contra a Lei de Segurança Nacional. Integrantes do grupo 300 participaram de ato no último sábado (13), quando manifestantes lançaram fogos de artifícios contra o prédio do STF.

Em sua conta no twitter, foi publicado o seguinte texto após a prisão: “Sara Winter foi presa por conta de uma investigação sobre financiamento de protestos antidemocráticos. Isso mesmo, as manifestações em que idosos, crianças, deficientes, mulheres participavam em apoio ao PR @jairbolsonaro é a tal manifestação 'antidemocrática'”.

Há duas semanas, o serviço de streaming Lumine produziu e lançou o filme “A vida de Sara”, documentário que mostra a trajetória da ativista. O filme, com duração de 1 hora e 16 minutos, registra a vida de Sara Winter desde a época em que passou pela prosituição, pelo grupo feminista Femen até os dias atuais .

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