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Dados sobre coronavírus na Venezuela geram polêmica
| Foto: Divulgação/VTV

Em 18 de março, quando o Brasil já registrava o maior número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus na América Latina, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o início do fechamento das fronteiras do país. E o primeiro vizinho a ser bloqueado foi a Venezuela, dada a preocupação do governo brasileiro com uma eventual entrada em massa de venezuelanos para fugir da pandemia. “Fechamos fronteiras, mas em especial onde está nossa grande preocupação, que é a Venezuela”, disse Bolsonaro aos jornalistas.

Um mês depois da medida, segundo dados divulgados por várias instituições, a Venezuela apresenta resultados do combate à covid-19 que vêm gerando polêmica: tem o menor número de mortes por habitantes na região e o maior porcentual de doentes recuperados. E o discurso se inverteu. Agora é o governo venezuelano que diz temer a fronteira com o Brasil devido ao crescimento da pandemia em território brasileiro.

Levantamento da Universidade Johns Hopkins mostra que a Venezuela registrava até quarta-feira (15) apenas 197 casos de covid-19, com 9 mortes. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) são próximos: 193 casos confirmados e 9 mortes. Com base em dados do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, a organização Our World in Data registra que a Venezuela tem 0,32 mortes por milhão de habitantes, enquanto que no Brasil chega 7,21 mortes por milhão.

A oposição venezuelana discorda dos números e acusa o governo de manipulação de dados em meio à escassez de gasolina e falta de água. Alguns pesquisadores também levantam suspeitas.

Na quarta-feira (15), a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodrigues, comemorou nas redes sociais os resultados, que, segundo ela, são frutos das medidas tomadas pelo governo para combater o coronavírus. No Twitter, Rodrigues reproduziu dados atribuídos à Universidade Johns Hopkins, preparados pelo professor Steve H. Hanke, os quais mostram que a Venezuela é o país líder da América Latina em quantidade de testes realizados. No mesmo post também divulgou dados da Our World in Data, que coloca a Venezuela como um dos países com o menor número de infectados pelo vírus na América do Sul.

A publicação provocou reação do professor Steve H. Hanke, pesquisador que apoia medidas defendidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no enfrentamento da pandemia. Logo depois da manifestação de Rodrigues, ele fez nova publicação em que mostra quantos testes de coronavírus cada país da América Latina havia realizado por milhão de pessoas até a data de 15 de abril. Na nova publicação, Hanke não mais atribui números à Venezuela e coloca a seguinte observação relacionada ao país presidido por Nicolás Maduro: “Governo relata dados altamente suspeitos”.

O líder opositor Juan Guaidó, autodeclarado presidente da Venezuela e reconhecido por cerca de 50 países, acusa o governo de mentir sobre a pandemia. Um vídeo divulgado por Guaidó no Twitter, atribuído à Assembleia Nacional, contesta dados de testes realizados pelo governo. Segundo a publicação, o governo não tem realizado 25 mil testes diários de coronavírus, como afirma.

O ex-prefeito de Caracas, Antonio Ledezma –  líder opositor que fugiu da Venezuela em 2017, quando cumpria prisão domiciliar – chamou o ministro de Comunicação e Informação, Jorge Rodríguez, de embusteiro e afirmou que os boletins divulgados pelo governo sobre a covid-19 no país são mentirosos.

Por seu lado, o governo de Nicolás Maduro, além de enfatizar a realização massiva de testes e o baixo número de doentes, também destaca o número de recuperados. De acordo com os dados do governo, o número de pessoas recuperadas da doença supera o de contagiados.

Segundo a vice-presidente Delcy Rodrigues, um dos motivos de contenção do vírus foi uma pesquisa realizada em todo o país. Mais de 10 milhões teriam respondido o questionário para saber quem estava com sintomas de covid-19. Com os dados em mãos, toda pessoa que apresentou sintomas foi examinada e acompanhada por médicos “casa por casa”.

Maduro anunciou também, na quarta-feira (15), que a meta é realizar 10 milhões de testes, o que atingiria cerca de 30% da população. Para isso, disse que espera ajuda da China, da Rússia, da OMS, da Organização Panamericana de Saúde (Opas) e de Cuba.

O governo diz ainda que a ajuda da China tem sido decisiva para combater o coronavírus na Venezuela. No último dia 11, segundo Maduro, o país asiático entregou o quarto carregamento de ajuda humanitária, contendo 30 toneladas de insumos e materiais médicos e cirúrgicos, kits para testes PCR e medicamentos.

A administração Maduro argumenta que o bom desempenho das medidas de combate ao coronavírus pode ser comprovado com o regresso de milhares de venezuelanos que vivem na Colômbia. Segundo Maduro, 2 mil venezuelanos que atravessaram a fronteira de volta ao país foram enviados aos seus estados na quarta-feira (15) após serem submetidos a testes.

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