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Votação em papel
Pedro Castilho, que lidera a votação, se declarou vencedor.| Foto: Reprodução/Facebook

Os números da apuração já mostram um vencedor da eleição presidencial realizada no último domingo (06) no Peru, mas o resultado oficial deve demorar para ser anunciado. O atraso se deve, em grande parte, pela votação em papel.

Processadas 100% das atas eleitorais e contabilizados 99,41% dos votos, o candidato do partido Peru Livre, Pedro Castilho, obteve 50,18% dos votos contra 49,82% de Keiko Fujimori, do Força Popular.

A diferença a favor do candidato de esquerda é apertada, de apenas 63 mil votos. Embora matematicamente seja possível reverter, pelos registros da votação no país não há mais possibilidade de mudança no resultado. Para virar o placar a candidata de direita teria de conseguir mais de 80% dos cerca de 100 mil votos válidos que ainda não foram contabilizados.

Esse desempenho, de 80% dos votos restantes, é realisticamente impossível de ser obtido por Keiko pelo fato de que uma parte dos votos ainda não contabilizados é de regiões onde Castilho registrou ampla vantagem. A votação dos redutos onde Keiko saiu vitoriosa, especialmente da região de Lima (capital) e do exterior, já foram contabilizados em 100%.

A pergunta que vem diante desse quadro é: por que até agora há grande suspense em torno do resultado da eleição? O maior problema para se proclamar um vencedor são as ações de impugnação de urnas e as denúncias de fraudes em cédulas de papel.

Votação em papel
Keiko Fujimori acusou fraude, mas não apresentou provas.| Reprodução/Facebook

A apuração tumultuada é decorrência de um sistema de votação que também deu origem a muitas confusões no Brasil no passado e hoje está extinto. Após o fim da votação, as urnas são abertas e os votos em papel são contatos manualmente. Para esta eleição, as autoridades eleitorais do Peru imprimiram 25 milhões de cédulas.

As denúncias de irregularidades apresentadas à Onpe vieram dos dois lados no dia da votação. Tanto os observadores de Castilho como os de Keiko acusaram cédulas marcadas nas seções eleitorais por fiscais dos partidos.

Observadores internacionais, que acompanharam a eleição, no entanto, afastaram a hipótese de fraude. Para eles, os casos de irregularidades foram isolados e todos foram e estão devidamente sendo apurados. Também observaram que o país tem uma das apurações mais transparentes do mundo e que há rigor das autoridades eleitorais na apuração das denúncias de qualquer irregularidade.

De acordo com relatório da Oficina Nacional de Processos Eleitorais (Onpe), órgão encarregado de fiscalizar e contabilizar os votos no Peru, das 86.488 atas processadas (100%), 85.822 foram contabilizadas como normais. As outras 666 apresentaram problemas, sendo 241 delas com votos impugnados, 101 com erros, 34 com ilegibilidade, 42 incompletas, uma com solicitação de nulidade, 34 sem assinatura, 58 com mais de um tipo de observação, 150 anuladas e 6 não instaladas.

Castilho declarou-se vencedor antes mesmo do anúncio oficial e Keiko acusou fraude, apesar de não ter apresentado nenhuma prova. O candidato de esquerda já recebeu os cumprimentos pela vitória (não oficial) de líderes da América Latina, como o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Para complicar ainda mais a situação da candidata da direita, na quinta-feira (10) o promotor José Domingo Pérez, que integra a equipe de investigação da Lava Jato no Peru, pediu ao juiz Víctor Zúñiga a revogação dos benefícios recebidos por Keiko Fujimori em 2020 e a sua consequente prisão preventiva.

O promotor afirma que candidata do Força Popular violou as regras impostas na resolução que permitiu sua libertação em 2020, quando foi detida sob acusação de lavagem de dinheiro e outros crimes. Ela está proibida de se comunicar com testemunhas relacionadas ao caso de supostas contribuições ilegais, incluindo da empresa brasileira Odebrecht, para suas campanhas presidenciais em 2011 e 2016.

O Peru, que teve quatro presidentes nos últimos quatro anos (Pedro Pablo Kuczynski, Martín Vizcarra, Manuel Merino e Francisco Sagasti), sai das urnas em situação tão instável politicamente como estava antes da campanha eleitoral.

Confirmada a vitória de Castilho, ele terá o desafio de dar estabilidade a um país dividido e desacreditado da classe política.

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