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Zelenko diz ter curado centenas de pacientes com no novo coronavírus
| Foto: Reprodução/YouTube

Nos últimos dias, um médico de família que atua em Kiryas Joel – comunidade do estado de Nova York com cerca de 35 mil judeus hassídicos (divisão interna do judaísmo ortodoxo) –, ganhou os holofotes da mídia internacional e ‘viralizou’ nas redes sociais. A fama de Vladimir Zelenko começou depois que ele afirmou ter curado centenas de pacientes (entre 400 e 500) com covid-19. O tratamento experimental propagado por Zelenko combina o antimalárico hidroxicloroquina, o antibiótico azitromicina e sulfato de zinco. Suas declarações ganharam eco ao serem divulgadas pelo apresentador de talk show da Fox News, Sean Hannity.

O anúncio de Zelenko chamou a atenção não só de quem espera uma cura para a covid-19. Na Casa Branca, Mark Meadows, chefe de gabinete de Donald Trump, ligou para o médico em busca de informações sobre seu plano terapêutico. Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado pessoal de Trump, fez uma entrevista com Zelenko e postou nas redes sociais. A entrevista foi replicada pelo presidente Jair Bolsonaro no último domingo, em sua página no Twitter. Autoridades e políticos de outros países, como a Ucrânia, que tem na presidência o populista Volodymyr Zelensky, também procuraram Zelenko.

O doutor Vladimir  Zelenko se formou na Escola de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade de Buffalo, no estado de Nova York, em 2000. Tem especialização em medicina familiar, com certificação do Conselho Americano de Medicina de Família (ABFM).

Nascido na Ucrânia, Vladimir Zelenko, 46 anos, publicou em 2018 uma autobiografia intitulada Metamorphosis. O texto de apresentação do livro no site da Amazon diz que a obra “descreve como a providência divina o guiou e o ajudou a superar desafios pessoais muito difíceis, incluindo um câncer”.

Ao mesmo tempo que chamou a atenção e caiu nas graças de políticos poderosos, Zelenko também despertou críticas. Pesquisadores alertam que as pesquisas em busca de medicamentos para combater o coronavírus ainda são inconclusivas e o acusam de induzir pessoas a riscos.

Reportagem do jornal The New York Times, de 2 de abril, diz que na comunidade hassídica de Nova York a fama repentina de Zelenko causou tensões. “Logo depois que ele postou no YouTube, um grupo de oficiais da vila escreveu uma carta aberta pedindo que ele parasse. Eles disseram que ele havia exagerado a extensão do surto de coronavírus em Kiryas Joel, usando uma pequena amostra de seus pacientes para prever que 90% dos moradores da vila receberiam o vírus”, publicou o jornal.

A fama de Zelenko vem acompanhada de uma série de decisões que tentam encontrar na hidroxicloroquina  “uma arma” para vencer a guerra contra o coronavírus. Na semana passada, a agência que regulamenta os medicamentos nos Estados Unidos – a Food and Drug Administration (FDA) - autorizou o uso emergencial para hidroxicloroquina e cloroquina a pacientes com coronavírus. O Ministério da Saúde do Brasil já havia autorizado, no dia 25 de março, o uso desses medicamentos no tratamento de pacientes graves com Covid-19.

Apesar dessas iniciativas, na comunidade científica há muita cautela. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, classificou como "muito frágil" uma das últimas pesquisas publicadas sobre a utilização de hidroxicloroquina.

Em artigo publicado no jornal O Globo, a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, escreve que “todos os estudos divulgados até agora são incompletos e não têm resultados confiáveis, seja contra ou a favor. São estudos que apresentam, para dizer o mínimo, muitos fatores de confusão e que não permitem concluir nada”.

Na entrevista ao ex-prefeito Rudolph Giuliani, Zelenko disse que não receita os três medicamentos (hidroxicloroquina, azitromicina e sulfato de zinco) a pacientes com sintomas leves da covid-19. Ele afirmou que só receita para pacientes que apresentam problemas respiratórios. “Tenho que ter um bom motivo (para receitar os medicamentos)”, justificou, ao afirmar que há efeitos colaterais. Sobre as dúvidas levantadas a respeito de seu tratamento, Zelenko responde: “é como medicina do campo de batalha”.

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