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(Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)
(Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)| Foto:

A partir deste domingo, o blog vai passar a publicar ocasionalmente críticas e ensaios do crítico curitibano Lélio Sotto Maior Jr., uma grande figura que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente e retratar em uma reportagem da série Perfil, publicada na edição deste domingo da Gazeta do Povo.  A série de posts, intitulada O olhar de Lélio, busca resgatar a presença e a paixão deste curitibano pelo cinema, que cativou uma geração de cinéfilos principalmente nas décadas de 1960 e 70 – incluindo aí o grande Paulo Leminski, de quem era amigo próximo – e até hoje é lembrado como um dos maiores incentivadores da sétima arte por essas bandas . O único problema é que a produção de Lélio é dispersa e não catalogada, o que nos impede de cravar exatamente quando e em que veículo os artigos foram publicados. Mesmo assim, os textos são atemporais e merecem ser degustados com calma. Para começar, segue abaixo um artigo sobre um Corpo que Cai, de Hitchcock, um dos cineastas preferidos de Lélio.

As belíssimas fotos que acompanham os posts são do amigo Marcelo Andrade, fotógrafo da Gazeta.

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(Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

(Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

As luzes de Vertigo

Ele lembrou-se do que falou Madeleine em Vertigo (Um Corpo que Cai): que ela entrava no seu sonho num corredor de espelhos e, quando chegava ao fim do corredor, ela morria. Isto na sequência marítima do filme coroada com o famoso beijo de Kim Novak e James Stewart no explodir das ondas no mar. Talvez esta sequência e a logo anterior, quando Madeleine aponta a mão para uma árvore e diz “aqui eu nasci, aqui eu morri, você nem notou”, são das mais belas do cinema. Ao fundo da cena, aquelas gigantescas sequóias que parecem uma enorme teia de aranha cósmica.

Mas a mais bela sequência de Vertigo é quando Scottie (Stewart) segue Madeleine num beco sem saída escuro e, ao abrir a porta, a encontra cercada das mais lindas flores do mundo, num esplendor de cores. Mas talvez a mais instigante cena de Vertigo seja a do cemitério: Madeleine nas brumas, perdida em contemplação, numa atmosfera de sonho.

Ou então a sequência em que ela se aproxima da gigantesca ponte vermelha de São Francisco, a Golden Gate, e se atira no mar. Madeleine é vista de longe, com sua echarpe esvoaçante ao vento do crepúsculo.

Ou talvez a sequência em que Madeleine está diante do quadro de Carlota e a câmera se aproxima de seu coque, subindo logo em seguida para o coque de Carlota Valdez. Neste momento, o espectador tem uma espécie de satori búdico. Mas a mais extraordinariamente bela sequência de Vertigo é quando Madeleine retorna das cinzas, como um fênix-pássaro-elã-fosforescência. O beijo que se segue é uma das mais belas sequências do cinema, com James Stewart completamente tomado pela paixão por Kim Novak.

Feito em 1958, este filme continua sendo o melhor de Hitchcock e um dos melhores do cinema, ao lado de 2001, de Kubrick, Teorema, de Pasolini, e Persona, de Bergman, além de, logicamente, Hiroshima, Mon Amour, de Resnais.

Estes filmes são como lâmpadas eletrônicas, a brilhar eternamente na cabeça do espectador, pelo seu caráter etéreo e sublime, algo como aquele início onírico de Bela da Tarde, de Buñuel.

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