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Flávio Bolsonaro, Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno em evento de campanha. (Crédito da foto: Mauro Pimentel / AFP)
Flávio Bolsonaro, Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno em evento de campanha. (Crédito da foto: Mauro Pimentel / AFP)| Foto:

Qualquer país quer um chefe de governo enérgico contra a corrupção, mão pesada, tolerância zero, etc. Jair Bolsonaro foi eleito, também, porque preenche a lacuna desse imaginário coletivo. Com 45 dias de governo, está prestes a fazer valer a fama e demitir alguém que ele próprio escolheu para fazer parte do seu núcleo mais próximo de poder, o ministro da Secretaria-Geral de Governo, Gustavo Bebianno.

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O caso Bebianno é mais um fruto do que supostamente é um laranjal plantado pelo PSL nas eleições de 2018 e que começa a amadurecer no noticiário. Em dimensões, não seria lá um escândalo gigantesco, indigno de comparação com mensalão, petrolão e cia. Bebianno era presidente do PSL à época do estranho repasse de R$ 400 mil a Maria de Lourdes Paixão, candidata a deputada federal por Pernambuco que não fez campanha e recebeu 274 votos, mas todas as setas apontavam antes para o atual presidente da legenda, o deputado federal (por Pernambuco) Luciano Bivar.

Além disso, como comparação inevitável, havia suspeitas anteriores de que o também ministro Marcelo Álvaro Antonio (Turismo) cultivou um laranjal para chamar de seu em Minas Gerais. A denúncia é que o PSL destinou no ano passado R$ 279 mil do Fundo Eleitoral para quatro candidatas a deputada em Minas que informaram ter contratado, com parte desse dinheiro (R$ 85 mil), serviços eleitorais de pessoas ligadas ao ministro ou empresas que pertencem a assessores, parentes ou sócios de auxiliares de Álvaro Antônio. Concretas ou não, ambas as situações cheiram à naftalina dos velhos partidos – e da velha política.

A pergunta que fica: por que Bebianno caiu direto na frigideira com óleo fervendo e Álvaro Antônio, não? Se ambos os casos tivessem sido tratados da mesma maneira, a tese da sanha moralizadora estaria valendo. Dilma Rousseff, por exemplo, modulou sua popularidade ao longo do primeiro mandato assumindo o papel de líder de uma “faxina ética” que era muito bonita na forma e bem inútil na essência.

O que chama atenção no caso Bebianno não é nem porquê da fritura, mas o como. O secretário-geral foi chamado de mentiroso pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, que publicou no Twitter o áudio de um telefonema entre pai e ministro. Na rede social, Bolsonaro corroborou o posicionamento duro e, em entrevista à Record, disse que, em caso de comprovação do envolvimento de Bebianno, “lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”.

A questão é que a origem de Bebianno, assim como a de dezenas de outros próceres da nova política, é Bolsonaro. O atual ministro, politicamente, não é ninguém, é uma invenção de Bolsonaro. Se o presidente chuta alguém que saiu da sua própria sombra – e da forma como foi – há algo mais profundo no jogo do que um simples laranjal e isso passa pelo real poder de influência dos filhos nos destinos do governo.

Nas últimas semanas, a família Bolsonaro tem lançado uma campanha interrogatória: “Quem mandou matar Bolsonaro?” Se a demissão sumária for confirmada, a questão que se levanta é: quem, de fato, mandou demitir Bebianno?

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