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Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil| Foto:

O metalúrgico que lidera há décadas uma das maiores centrais sindicais do Brasil não quer a aprovação da reforma da Previdência. É pelas perdas que ela trará aos trabalhadores? Não, é para evitar a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022.

Ao contrário do que o senso comum poderia induzir, esse sindicalista não está preso em Curitiba. Livre, o deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade) participou das comemorações do 1.º de Maio em São Paulo e revelou a lógica política que norteia o boicote à reforma. Segundo ele, é necessário desidratar o texto enviado pelo governo (ou seja, reduzir o tamanho da economia gerada por ele) para evitar que a folga no caixa federal turbine o bolsonarismo.

“[Uma economia de] R$ 800 bilhões, como ele [Bolsonaro] falou, garante de cara [a reeleição do presidente]. Nos últimos três anos de mandato ele teria R$ 240 bilhões para gastar, ou seja, garantiu a reeleição”, declarou o presidente licenciado da Força Sindical.

O medo da reeleição, no mundo de Paulinho, uniria ainda mais forças aos partidos do Centrão, uma espécie de central sindical de deputados liderada por DEM, PP, PR, PSD, PTB e Solidariedade e que dá as cartas na Câmara desde os idos da gestão Dilma Rousseff. “Com esse discurso, tenho certeza que a gente traz todo mundo do Centrão, porque ninguém quer a reeleição do Bolsonaro”, disse Paulinho.

Se o Centrão fechar questão contra a reforma, dificilmente Bolsonaro conseguirá os 308 votos necessários para aprová-la na Câmara. É algo bastante improvável, até porque expoentes do Centrão como Rodrigo Maia (DEM) querem a reforma. Por isso, preste atenção na palavra-chave da tese de Paulinho: desidratação.

Nessa linha, a reforma passa, desde que seus benefícios não sejam usufruídos pela gestão Bolsonaro. Qualquer cálculo nesse sentido, porém, é mera especulação. Dados que o próprio governo mantinha escondidos, e revelados no último dia 25, apontam que o fôlego orçamentário do governo será de R$ 128 bilhões entre 2020 e 2022 – metade dos R$ 240 bilhões citados por Paulinho.

R$ 128 bilhões é bom? Claro que é, mas não cobre nem o déficit de R$ 139 bilhões estipulado para o orçamento federal de 2019. Para 2020, sem reforma e com a atividade econômica se mantendo no modo rastejante, o rombo previsto já é de R$ 124 bilhões.

Do ponto de vista do carinho do eleitor, faria muito mais sentido para a turma de Paulinho deixar rolar a reforma no seu nível mais hard. Até quem não é político sabe que mexer no bolso dos velhinhos nunca deu, não dá, nem dará voto (faça um teste e jogue no almoço de família as palavras “FHC” e “fator previdenciário”). Se um verdadeiro representante dos trabalhadores não está de acordo com mudanças na lei que supostamente prejudicam os trabalhadores, é só votar contra, faz parte do jogo.

Aliás, é esse jogo cinzento, de lado a lado, que põe sombra sobre o futuro da reforma. Bolsonaro continua com aquela vergonha de matar o assunto no peito e enquadrar seu time no Congresso para fazer a proposta andar. Do outro lado, há um discurso rançoso e cego contra a reforma.

Se continuar assim, vai para os pênaltis. E pênalti na política, meu amigo, é pior que loteria. É aí que mora o risco de não aprovar nenhuma reforma – ou aprovar alguma tão meia boca que não será boa nem para o futuro político de Bolsonaro e muito menos para o do Brasil.

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