O PT nunca foi uma maravilha eleitoral no Paraná. Desde que foi fundado, em 1980, o partido lançou nome próprio para o Palácio Iguaçu sete vezes. De Edésio Passos, em 1982, a Flávio Arns, em 2006, os petistas só conseguiram passar dos 15% dos votos válidos com Padre Roque, em 2002, que somou 16,4% e acabou em quarto lugar.
Nos últimos tempos, contudo, criou-se uma euforia em torno de Gleisi Hoffmann. Em 2006, ela conseguiu polarizar uma difícil disputa pelo Senado com Alvaro Dias (PSDB). Em 2010, elegeu-se senadora com um desempenho impressionante – conquistou meio milhão de votos a mais que Roberto Requião (PMDB), que havia acabado de deixar o terceiro mandato no governo do estado.
Em 2011, o potencial de Gleisi foi às alturas quando a presidente Dilma Rousseff resolveu nomeá-la ministra-chefe da Casa Civil. Nunca um paranaense havia ocupado um cargo tão relevante no primeiro escalão federal. Além disso, o marido dela, Paulo Bernardo, consolidou-se como um dos ministros mais longevos da história – ocupa um assento na Esplanada desde 2005.
Em 2012, Gleisi também conquistou uma vitória importantíssima ao embarcar na candidatura de Gustavo Fruet (PDT) para prefeito de Curitiba. A tomada da capital colocou em xeque a estratégia de Beto Richa (PSDB) para chegar à reeleição. Há dois anos, tudo se encaminhava para uma disputa polarizada entre tucanos e petistas, nos moldes da campanha presidencial.
Pela primeira vez, o PT despontava como protagonista em uma eleição paranaense. As circunstâncias, no entanto, foram mudando gradativamente. Richa aprendeu com as lições de 2012 e imediatamente após a derrota de Luciano Ducci (PSB) começou a ampliar o leque de alianças, ao atrair Ratinho Júnior (PSC) para o secretariado.
Também radicalizou o discurso de que o Paraná foi discriminado pelo governo federal para minar sua gestão e fortalecer Gleisi. Encastelada no Palácio do Planalto como uma espécie de faz-tudo de Dilma, Gleisi demorou muito responder ao bombardeio. E, quando deixou a Casa Civil, atuou no Senado como porta-voz do governo para assuntos indesejáveis, como os escândalos de corrupção na Petrobras.
O último suspiro de reabilitação foi a decisão do PMDB de lançar a candidatura de Requião. A aposta era que ela e o peemedebista conseguiriam, cada um, entre 20% e 30% dos votos no primeiro turno, o que forçaria um segundo turno com Richa. Fazia sentido, mas faltou combinar com o eleitor.
Pesquisa Datafolha divulgada na última quarta-feira mostrou Richa com 44%, Requião com 28% e Gleisi com 10%. Os números não são apenas ruins, são terríveis para o PT. A candidata com maior potencial do partido no Paraná ao longo das últimas três décadas precisa aumentar o número de eleitores em mais de 60% para pelo menos repetir o feito de Padre Roque, em 2002.
Difícil de acreditar que, em três semanas, tudo vai mudar. Gleisi chegou à eleição completamente desconstruída e precisa achar uma fórmula de última hora para resgatar algo do desempenho de 2010. Talvez o único jeito seja apelar a Dilma e assumir um confronto direto com Requião.
A propósito, o mesmo Datafolha mostrou a presidente com 32% das intenções de voto no Paraná, contra 28% de Marina Silva (PSB). Uma transfusão imediata de votos entre as petistas resolveria a questão. Resta saber se a presidente, entretida com batalha nacional, vai ter tempo de socorrer a ex-ministra.
Metodologia
A pesquisa Datafolha foi encomendada pela RPCTV e pelo jornal Folha de S.Paulo. O levantamento foi feito entre os dias 8 e 9 de setembro de 2014. Foram realizadas 1.201 entrevistas em 46 municípios, com margem de erro máxima de 3 pontos porcentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número PR-00031/2014 e BR-00584/2014.
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