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Reciclagem, biotecnologia e economia circular

Beatriz Bevilaqua

Beatriz Bevilaqua

Jornalista e Comunicadora de Startups. Formada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), foi condecorada em 2013 pelo Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, em Curitiba, pelo Sindijor PR e, em 2019 E 2021, como Melhor Profissional de Imprensa do Brasil pelo Startup Awards, maior premiação do ecossistema de startups da América Latina. Instagram @beatrizbevilaqua.

Resíduos e lixo doméstico

Startups pelo futuro do planeta: reciclagem, biotecnologia e economia circular

29/10/2021 12:00
O crescimento da população global gera um aumento exponencial do consumo e da produção de resíduos em todo planeta. Atualmente, um terço do lixo doméstico é composto por embalagens. Cerca de 80% das embalagens plásticas são descartadas após o primeiro uso. Além disso, 30% de toda comida do mundo é desperdiçada anualmente, o que equivale a 1,3 bilhão de toneladas de alimentos que poderiam servir 113 milhões de pessoas que já morreram de fome aguda.
Dando continuidade à nossa série de reportagens em minha coluna aqui no GazzConecta, hoje vamos falar sobre startups com soluções de reciclagem, biotecnologia e economia circular. A Plasticor é uma startup brasileira que desenvolveu um plástico compostável, de base nanobiotecnológica, que varia de cor em contato com o alimento e a partir da cor da embalagem é possível dizer se o conteúdo alimentício está estragado ou apto para consumo. A solução é pioneira no mercado de embalagens inteligentes no Brasil.
“A análise de cor, por meio do biosensoriamento, permite a identificação em tempo real se o alimento envolvido com o filme está próprio ou não para consumo.”, explicou Lorena Ballerini, fundadora da Plasticor. O principal objetivo da empresa é promover sustentabilidade ao mercado mundial de embalagens e alimentos.

Resíduos x Reciclagem 

De acordo com a Abrelpe, hoje o Brasil recicla em média apenas 3% de todo o resíduo gerado. Mais da metade das cidades do Brasil ainda destinam os seus resíduos para lixões, outra parte destina para aterros sanitários. Em ambos os casos, temos a perda do material por não reciclarmos.
Luiz Grilo, fundador da Residuall, se especializou no segmento de resíduos. Ele é natural de Pindamonhangaba, a capital da reciclagem do alumínio no Brasil. Desde pequeno, ele sempre escutava falar de quanto potencial temos na reciclagem, quanto impacto e empregos poderiam ser gerados neste segmento.
Equipe Residuall
Equipe Residuall
A Residuall é uma das principais referências no desenvolvimento e aperfeiçoamento de soluções para a Logística Reversa. “Para mudarmos esse cenário, estamos desde 2014 desenvolvendo e implementando Sistemas de Logística Reversa para todos os resíduos gerados. Com isso, conseguimos conectar as grandes empresas, cooperativas, recicladoras e a população, por meio do desenvolvimento de programas de Logística Reversa que aumentam a taxa de reciclagem do Brasil”, explicou Luiz.
Hoje a startup possui clientes com projetos importantes na reciclagem de diferentes resíduos, como: a Cargill com a logística reversa do Óleo de Cozinha Usado, a Suvinil na reciclagem das Tintas Imobiliárias, e a Nestlé no segmento das embalagens diversas.
Este ano a empresa cresceu 220% em relação ao faturamento do ano passado. E a perspectiva até o final de 2021 é chegar em 300%. “Hoje somos responsáveis por gerenciar um dos maiores programas de reciclagem de óleo de cozinha usado do mundo, com a marca Liza. Em nossa plataforma, já rastreamos a reciclagem de mais de 30 milhões de litros de óleo de cozinha usados que foram reciclados e transformados em biodiesel”, explicou.

Economia Circular

Só no Brasil são descartadas 1 bilhão de garrafas plásticas de óleo lubrificante todos os anos. Mesmo depois de escorridas, essas embalagens contém 2 milhões de litros de óleo residual que vão para o meio ambiente, sendo que apenas 1 litro de óleo é suficiente para contaminar 1 milhão de litros de água, ou seja, o óleo contido em apenas uma embalagem é suficiente para contaminar 2 mil litros de água. De todo esse volume, apenas 9% é reciclado, porque os recicladores tentam descontaminar essas embalagens usando água, o que gera dois grandes problemas:
Primeiro, mesmo usando detergentes, não é possível remover todo o óleo do plástico, gerando uma matéria prima reciclada de baixa qualidade, reduzindo seu valor. Segundo, essa água tem que ser tratada, e nesse processo cada litro de óleo se transforma em até 8kg de resíduo perigoso, gerando alto custo e risco ambiental.
O mercado brasileiro de 54 mil toneladas por ano de embalagens de óleo lubrificante poderia ser transformado em R$ 400 milhões em matéria-prima reciclada.
Muitos brasileiros têm investido em negócios sustentáveis e de impactos socioeconômicos. Felipe Cardoso, é fundador da Eco Panplas. Mais do que viabilizar a reciclagem de embalagens plásticas contaminadas, de óleo lubrificante e outros contaminantes, a empresa valoriza a matéria prima reciclada para que volte a ser embalada na mesma cadeia produtiva. Por meio de processo ecológico inovador próprio que não utiliza água e não gera resíduos, eliminando o risco ambiental e gerando benefícios socioambientais e econômicos de impacto.
Equipe Eco Panplas
Equipe Eco Panplas
“Nós desenvolvemos um sistema produtivo inovador e eficiente, composto por equipamentos e processos patenteados, que separa completamente o óleo do plástico moído e do rótulo de forma ecológica: sem utilização de água, sem geração de resíduos e com um custo 30% menor que o processo com água”, explicou Felipe.
A empresa compra as embalagens contaminadas de empresas que coletam em centros de troca de óleo, realizam o processo onde recuperam e vendem todo o óleo residual, eliminando o risco ambiental. E também produzem uma matéria prima reciclada de excelente qualidade que é vendida para a indústria fabricar uma nova embalagem de óleo, com 10% redução de custo, realizando uma verdadeira economia circular.
“Nosso sonho e missão de vida desde o início é deixar este legado, entregando-o à sociedade por meio deste novo conceito e forma de reciclagem e economia circular, preservando o planeta e vidas das pessoas, contribuindo na solução dos grandes problemas ambientais da atualidade: mudanças climáticas, poluição do plástico e preservação dos recursos, principalmente os recursos hídricos”, disse Felipe.
A empresa foi selecionada e participou de programas de inovação aberta e aceleração, possibilitando apoio e parcerias com grandes empresas multinacionais como a Ambev, Braskem e Pepsico.

Logística Reversa

Renato Paquet é fundador da Pólen, uma startup cleantech que transforma resíduos em matéria-prima e realiza a logística reversa para mais de 1200 empresas no Brasil e em 8 países.“Nós atuamos neste contexto fornecendo resíduos como insumo para as indústrias e neutralizando as externalidades negativas das embalagens por meio dos Créditos de Logística Reversa, que incentivam a cadeia da reciclagem e criam viabilidade para o crescimento da triagem de resíduos e reinserção na cadeia produtiva”, explicou Renato.
Renato Paquet, fundador da Pólen
Renato Paquet, fundador da Pólen
Ele sempre esteve ligado às questões ambientais e acreditava que era possível um caminho viável para utilização de resíduos como matéria-prima sendo uma direção para a conservação ambiental. “Com isso, uni meu propósito à tecnologia para poder escalar a nossa solução para milhares de clientes em diferentes setores como, por exemplo, iFood, Unilever, Souza Cruz, Papirus, Hortifruti, Ambev e centenas de outros”, disse.
Segundo a ABRELPE, o Brasil gasta com aterramento de resíduos o equivalente a R$ 24 bilhões anualmente e recicla apenas 3% dos resíduos gerados em nosso país. Complementar a esse dado, nos deparamos com um dado da ABIMAQ que retrata o Brasil aterrando R$ 120 bilhões em resíduos que poderiam ser reciclados.
“Fizemos uma conta simples: gastamos R$ 24 bilhões para enterrar R$ 120 bilhões?! Vamos atuar nesse mercado para pararmos de enterrar dinheiro e conservar os recursos naturais do nosso país. Nós somos hoje uma scale-up, um estágio que se refere às startups em um momento de maior maturidade, com produto já validado e escalando a solução para o mercado. Nós triplicamos de tamanho ano a ano desde nosso nascimento em junho de 2017”, explicou.
Neste exato momento, a empresa está verticalizando a operação para montar centrais de triagem em locais onde a capacidade instalada para tratamento, coleta e reciclagem de resíduos seja insuficiente para atender às demandas da região. Desta forma, é possível que se aumente o índice de reciclagem do Brasil e sairmos da casa de 3% anuais.
“Queremos ser corresponsáveis por essa transformação que nosso país tanto precisa para melhoria da nossa qualidade ambiental urbana”, concluiu Renato.

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