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Startups pelo futuro do planeta

Beatriz Bevilaqua

Beatriz Bevilaqua

Jornalista e Comunicadora de Startups. Formada pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), foi condecorada em 2013 pelo Prêmio Sangue Novo no Jornalismo Paranaense, em Curitiba, pelo Sindijor PR e, em 2019 E 2021, como Melhor Profissional de Imprensa do Brasil pelo Startup Awards, maior premiação do ecossistema de startups da América Latina. Instagram @beatrizbevilaqua.

Futuro da humanidade e da vida

Startups pelo futuro do planeta: agronegócio sustentável, desperdício de alimentos e o futuro da água

27/09/2021 18:15
O livro “A vida não é útil” traz uma visão crítica pelo olhar de um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade, Ailton Krenak - líder indígena que analisa a maneira como lidamos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global.
O autor resgata a Teoria de Gaia - uma hipótese da Ecologia que estabelece que a Terra é um imenso organismo vivo: esses se mantêm em equilíbrio e em condições adequadas para sustentar a vida. Sua crítica se dirige aos "consumidores do planeta", além de questionar a própria ideia de sustentabilidade.
Dando continuidade a nossa série de reportagens em minha coluna aqui no GazzConecta, hoje vamos falar sobre agronegócio sustentável, alimentos orgânicos, o desperdício de alimentos e o futuro da água.

Agronegócio sustentável

Segundo dados do Ministério da Agricultura, o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos cresceu quase 10%, de 2020 até o momento. A Raízs, foodtech que conecta pequenos produtores com consumidores finais em capitais, vem ganhando cada vez mais espaço neste segmento.
No primeiro semestre de 2021, a empresa teve um novo salto no seu tamanho de 150% no faturamento e o crescimento de 50% na sua base de clientes, comparado com o mesmo período do ano passado. Outro destaque importante é a quantidade de alimentos que a startup “gira” diariamente, cerca de 10 toneladas de orgânicos provindos de agricultura familiar.
“Esse aumento expressivo mostra que estamos vivendo um cenário em que uma alimentação saudável de verdade, fruto de relações de produção socialmente mais justas e ambientalmente menos nocivas, é cada vez mais valorizada pela sociedade. Nosso público é bem diverso: temos mães, pessoas ligadas ao universo do bem-estar e da atividade física, médicos, nutricionistas, pessoas sensíveis às causas ambientais.” explicou Bianca Reame, diretora de marketing e produto da Raízs.
Por outro lado, de acordo com levantamento mais recente do World Resource Institute (WRI), no Brasil são desperdiçadas cerca de 41 mil toneladas de alimentos por ano. Isso coloca o país entre os 10 que mais jogam comida fora no mundo, principalmente quando se trata de frutas, hortaliças, tubérculos e raízes.

Desperdícios de alimentos

A WhyWaste surgiu em 2015 na Suécia com um sonho de eliminar o desperdício de alimentos no mundo com uso de inteligência artificial. A startup desenvolveu um sistema data-driven que ajuda o varejo a rastrear 100% das datas de validade dos produtos de uma loja possibilitando uma completa gestão do ciclo de vida do produto, análises de riscos de perdas futuras e escala na tomada de decisão voltada a mitigar a perda de produtos por validade vencida.
Hoje a empresa está presente em 17 países e quatro continentes, onde rodam a tecnologia em prevenção de perdas em varejistas como 7 Eleven (Japão), Eataly (Itália), ASDA (UK), ICA (Suécia),  Makro (Brasil) e Casa e Video (Brasil) entre outras, viabilizando reduções nas perdas por validade vencida que chegam a 60% quando comparado aos índices históricos.
Ricardo Salazar, da WhyWaste
Ricardo Salazar, da WhyWaste
“Nossas automatizações também chegam a reduzir em até 90% o tempo dedicado pelo supermercado no trabalho de monitoramento de suas datas de validade”, esclarece Ricardo Salazar, brasileiro e Country Manager da startup.
Acelerada pela recifense Overdrives, do Grupo Ser Educacional, a Whywaste hoje participa do ciclo Lisboa do programa StartOut Brasil, promovido pela Softex onde se preparam para o softlanding em Portugal.
Outra iniciativa de grande impacto sócio-ambiental é do Alexandre Bezerra, fundador da Amachains - empresa de rastreabilidade de cadeias produtivas especializada em soluções que usam Blockchain e Compliance. Ele reconhece a urgência em atacar diretamente os fatores que a provocam a crise que vivemos hoje.
Alexandre Bezerra, da Amachains
Alexandre Bezerra, da Amachains
“Estudamos a relação entre as cadeias produtivas do agronegócio e a crise ambiental. Assim desenvolvemos uma solução que transforma as cadeias produtivas do agronegócio em redes de negócios sustentáveis”, explicou Alexandre.
Por definição, rede de negócio significa que todos os elos da rede se unem na busca de um objetivo comum compartilhando dados e informações para demonstrar seus resultados. A empresa desenvolveu uma solução para o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas do agronegócio.
“Nossos clientes são principalmente produtores, mas também consideramos nossos clientes todos os demais elos das redes de negócios sustentáveis onde atuamos. Nosso primeiro lançamento foi na cadeia do café e estamos nos preparando para lançar a solução para a cadeia de hortifruti, se possível ainda esse ano”, enfatizou o CEO.
A empresa rastreia junto com os produtos, os indicadores de impacto gerados por cada elo da rede de negócio sustentável. A ideia é fornecer anualmente relatórios de sustentabilidade para todos os elos da cadeia produtiva, demonstrando por meio dos indicadores o tamanho do impacto gerado por cada um deles em um determinado ano e acompanhar essa evolução nos anos seguintes, da mesma forma será feito de forma geral com o impacto gerado na rede de negócios sustentável da qual eles participam.
“Gostaríamos de convidar todos para se unirem a nós na construção de um mundo mais justo e sustentável, justo para os produtores e principalmente para a agricultura familiar e sustentável para todas as gerações, atuais e futuras”, reforçou o convite.

O futuro da água

Outra grande preocupação é o futuro e a preservação da água. O ano de 2050 pode ser de chão rachado ou de nascentes permanentes. Só depende do que fizermos hoje. Para Marília Lara, CEO da Stattus 4, podemos ter um olhar positivo para as próximas gerações.
“Com ações em conjunto de diversos setores e a preocupação real das organizações em preservar os recursos naturais é possível alcançarmos o equilíbrio ambiental”, explica.
Marília desenvolveu a tecnologia 4Fluid para minimizar as perdas na distribuição de água. A Tecnologia baseia-se em IoT e I.A. para fazer a interpretação dos ruídos emitidos pela distribuição de água e poder sinalizar onde tem um possível vazamento. A Inteligência Artificial já analisou mais de 1,5 milhões de ruídos em mais de 143 cidades. Como resultado de toda essa pesquisa já foram encontrados mais de 5,6 mil vazamentos e recuperado mais de 71 mil m³ de água por dia.
Ela entende que a Stattus4 por si só não resolverá toda crise ambiental, mas irá ajudar a diminuir o impacto do consumo de água na exploração dos mananciais das cidades. O principal objetivo é fazer com que o consumo de água nos centros urbanos se dê de forma mais sustentável.
Hoje o Brasil perde, em média, 38% da água coletada nos mananciais durante a sua distribuição - 90% dessa perda ocorre nos últimos 10 metros da distribuição, ou seja, entre a rua e a casa dos cidadãos. Se recuperássemos apenas 20% da água que é perdida, haveria um volume suficiente para abastecer todos os 35 milhões de brasileiros que hoje não tem acesso à água potável.
“A economia de água feita pelas distribuidoras possibilita o investimento na expansão e melhorias da rede de abastecimento, assim de forma indireta podemos proporcionar mais qualidade de vida a mais pessoas”, enfatiza.
A questão sobre perda de água é tão relevante que fazer a gestão de forma otimizada vem sendo uma busca do mercado. Seus principais clientes são as distribuidoras públicas e privadas e prestadores de serviço de engenharia para as distribuidoras.
Segundo um estudo do Instituto Trata Brasil, o Brasil perde 38% de volume de água na distribuição, isso equivale a 7,1 mil piscinas olímpicas perdidas todos os dias. Além de perdas de volume de água, ocorre também prejuízo de R$ 12 bilhões somente em 2018.
A Stattus4 teve um crescimento de 10x nos últimos 3 anos. Para esse crescimento, o sistema 4Fluid esteve em constante atualização e aplicação em campo para qualquer alteração e adaptação às mais diversas realidades.
Em 2020,  foram identificados 2.660 pontos de vazamentos que equivalem a 14 piscinas olímpicas de água perdida por dia. Este volume de água é o suficiente para abastecer aproximadamente 300 mil pessoas, que no Brasil significa a população de Palmas (TO).
 “Com esses resultados estamos muito otimistas e certeiros de conseguir fazer a diferença no cenário de desperdício de água”, concluiu a fundadora. 
Apesar de muitas previsões pessimistas e até mesmo apocalípticas sobre o futuro da humanidade e da vida em nosso planeta, estas startups demonstram que estamos criando cada vez mais soluções inteligentes, disruptivas e sustentáveis.

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