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Em menos de quinze dias foram dois casos de brasileiros comuns, brasileiras na verdade, que de repente receberam uma ligação e do outro lado da linha estava ninguém menos que o presidente da República. O que elas fizeram para atrair a atenção do maior mandatário da nação? Reclamaram. Em alto e bom som, via redes sociais, contando com o compartilhamento da indignação.

As duas gravaram vídeos de desabafo, pedindo ajuda. Estavam enfrentando problemas com autoridades locais e se viam de mãos atadas. Uma pediu ajuda diretamente ao presidente Bolsonaro. A outra não foi tão longe, apelou ao governador do Paraná, Ratinho Jr., ao prefeito de Curitiba, Rafael Greca de Macedo, e aos vereadores da cidade.

Você pode conhecer as duas histórias clicando no play do vídeo no topo da página. Editamos os melhores trechos para você ter a sequência de tudo o que ocorreu, do momento da indignação que gerou os primeiros vídeos até os relatos posteriores à ligação do presidente. Se gostar não esqueça de deixar sua impressão, comentar e compartilhar!

Segue abaixo um resumo dessas duas crônicas da vida real, também em texto.

Dra. Raíssa Soares e a falta de hidroxicloroquina em Porto Seguro

O caso que ficou mais conhecido foi o da médica de Porto Seguro, Raíssa Soares. Ela, assim como milhares de outros médicos pelo Brasil, decidiu seguir o protocolo do Ministério da Saúde e está tratando doentes de Covid-19 com hidroxicloroquina e azitromicina logo nos primeiros sintomas.

Com os resultados aparecendo, não demorou para ela começar a ser procurada por muito mais gente do que podia atender, vindas de bairros distantes e até de cidades vizinhas. Só que isso num estado em que o governador (Rui Costa - PT) não adotou o tratamento precoce e não vinha fornecendo o remédio.

A médica conta que durante semanas pediu ajuda a empresários da região, donos de restaurantes e hotéis que torcem para que a cidade volte à normalidade. Eram eles que estavam bancando a manipulação dos medicamentos em farmácias da região para tratar os doentes do SUS.

Só que o número de infectados em busca de tratamento precoce aumentou muito e nem mesmo a ajuda do empresariado local estava sendo suficiente. No desespero de mandar pessoas com sintomas de Covid-19 de volta para casa só com um analgésico comum, sabendo que isso não ajudaria a conter a replicação viral, a Dra. Raíssa decidiu gravar um vídeo apelando ao presidente da República.

"Eu suplico, presidente. A mídia vive dizendo que o Exército tem hidroxicloroquina. Manda pra Porto Seguro, presidente", diz a médica no vídeo, que foi enviado para amigos junto com um pedido: por favor compartilhem até chegar ao presidente da República.

Pois o vídeo viralizou! Chegou a Bolsonaro em questão de horas e por diversas fontes, conforme ele mesmo contou à médica quando decidiu ligar para ela, à noite, anunciando que providenciaria o envio de um carregamento de remédios para a cidade. Isso foi numa terça-feira.

Dois dias depois, na live que faz semanalmente, às quintas, Bolsonaro relatou o caso e avisou que, no dia seguinte, Porto Seguro receberia a carga de remédios que a Dra. Raíssa precisava. E assim foi. Na sexta, apenas três dias depois de gravar o vídeo, a médica recebeu 40 mil comprimidos de hidroxicloroquina – quantidade suficiente para atender pacientes de todas as cidades da região por várias semanas.

Elisa Ruppenthal e o impedimento de vender pela internet

O segundo caso aconteceu aqui em Curitiba. A empresária Elisa Ruppenthal, dona de três lojas de calçados, gravou um vídeo relatando o drama de estar sendo impedida de trabalhar até com vendas online. Os fiscais alegavam que ela não tinha alvará para e-commerce.

Elisa, que tenta a duras penas manter 6 empregos depois de ter sido obrigada a dispensar outra meia dúzia de funcionárias devido aos decretos de fechamento do comércio não essencial, estava sozinha em uma de suas lojas quando a equipe de fiscalização chegou. Diz ela que desde o início da pandemia usa o local como escritório.

Conforme relatou no vídeo, a loja vinha sendo mantida fechada, mas a vitrine estava servindo para divulgar o número de telefone e as redes sociais para encomendas pela internet. A fiscalização não perdoou.

"Disseram que eu não podia expor nada na vitrine porque isso estimulava as pessoas a saírem de casa", desabafou a empresária no vídeo em que chega às lágrimas ao relatar que não adiantou explicar sobre a estratégia de usar a vitrine para divulgar os canais de vendas online.

"Perguntaram se eu tinha alvará para isso e, quando eu disse que não, alertaram que eu podia ser multada, porque o alvará não autorizava as vendas online. Faz vinte anos que tenho loja. Comecei a vender no ano 2000, não tinha venda online naquela época", diz Elisa no vídeo.

Indignada a empresária foi para a casa e gravou o desabafo, que teve milhares de compartilhamentos depois de publicado nas redes sociais. Nele a empresária falava direto aos vereadores, prefeito e governador. O prefeito de Curitiba, Rafael Greca de Macedo, chegou a escrever um comentário na publicação da empresária no Facebook.

"A senhora estava com a loja aberta, a vitrine exposta e estava atendendo dentro da loja... Contrariar Decreto Sanitário do Governador chama fiscalização. Guarde sua revolta contra o vírus que mata. Está pesado, mas #VaiPassar. Mais rápido se mais gente cooperar."

Rafael Greca de Macedo, prefeito de Curitiba, em resposta à empresária impedida de usar sua loja como escritório para fazer vendas online.
| Cristina Graeml

Na mesma tarde em que o prefeito deu esta resposta por escrito, a empresária recebeu um telefonema do presidente Bolsonaro. Ele não tinha absolutamente nada a fazer, ofereceu apenas consolo.

"Eu espero que a gente resolva essa situação tua e de todo mundo no Brasil pra que a gente volte à normalidade o mais rápido possível. Tô te ligando só pra dizer que me sensibilizo com a tua dificuldade e me desculpo pela minha impotência."

Jair Bolsonaro, presidente da República, em trecho telefonema para a empresária Elisa Ruppenthal

Num segundo vídeo a empresária torna esse trecho da conversa público, agradece a atenção do presidente e conclama empresários do país inteiro a também relatarem o drama que estão vivendo.

"O mais importante que você tem é o seu pensamento, a sua voz, porque esse vídeo ele desafiava nossas autoridades mais próximas a uma ajuda, a uma resposta, cobrando eles de algum posicionamento. E eu recebi uma ligação do presidente Bolsonaro," diz Elisa.

“É isso que nós empresários precisamos, que alguém nos dê atenção.”

Elisa Ruppenthal, empresária curitibana, ao agradecer a ligação que recebeu do presidente Bolsonaro

Não acabou aí. A ligação do presidente e essa resposta da empresária para ele ("o que nós empresários precisamos é que alguém nos dê atenção") também viralizou, repercutiu de novo e reverberou na prefeitura de Curitiba.

No dia seguinte veio uma ótima notícia não só para ela, mas para todos os comerciantes e empresários curitibanos. E quem deu a notícia? O prefeito. Rafael Greca baixou um decreto autorizando e-commerce para todos os comerciantes e empresários curitibanos enquanto durar a pandemia e ainda esticou o prazo de validade dos alvarás que estiverem para vencer nos próximos meses.

Indignação gera resultado

Tanto num caso quanto no outro, a solução veio. Num deles, o da empresária curitibana, não por via direta do governo federal, mas veio. Ao receber atenção do presidente da República o caso ganhou ainda mais repercussão e sofreu uma reviravolta. Sem que Bolsonaro desse qualquer outro telefonema, secretários municipais de Curitiba e o prefeito apresentaram uma solução que beneficia não só a comerciante de calçados, mas todos os demais empresários da cidade.

Elisa Ruppenthal queria o direito de trabalhar sem colocar a saúde de ninguém em risco, encontrou uma alternativa, mas estava sendo tolhida por questões burocráticas. Reclamar publicamente chamou a atenção do presidente e, de uma forma ou de outra, fez o prefeito abrir os olhos, abolir a burocracia e resolver o legalizar o e-commerce para todos os detentores de alvará de comércio na capital paranaense.

Já a médica de Porto Seguro que botou a boca no trombone e denunciou a falta de hidroxicloroquina nas cidades da região, conseguiu resolver a questão e voltou a tratar, já nos primeiros sintomas, os doentes que querem ser tratados com o remédio. É uma escolha do paciente. Se houver prescrição médica, ele tem o direito de receber os medicamentos e não estava recebendo.

Quanto a Bolsonaro, questiona-se se ligar diretamente para as pessoas é populismo ou preocupação legítima. Fato é que a comunicação direta do presidente da República com cidadãos comuns tem trazido resultados para várias parcelas da população. Se é uma forma de governar que vai dar certo ao longo de todo o mandato, não sabemos. Nesse começo de julho funcionou e não só para essas duas brasileiras, mas para milhares de pacientes baianos e de empresário curitibanos.

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