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A emergência sanitária no Brasil teve fim em abril. Foi anunciada em pronunciamento do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e recebida com alegria pelos brasileiros. Nem todos os prefeitos, gestores de órgãos públicos, reitores de universidades, promotores de justiça e diretores de escola entenderam, porém, que já podíamos voltar a circular como antes, ainda que seguindo alguns cuidados.

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Até hoje há lugares em que as pessoas são obrigadas a usar máscaras ou apresentar passaporte da vacina. Isso mesmo depois que governadores e prefeitos autorizaram e patrocinaram festas de carnaval, promovendo aglomerações.

Como muitos políticos também curtiram a folia, era de se esperar que os atos tirânicos, autoritários, desumanos até, tivessem ficado no passado. Infelizmente os tiranos gostaram de “brincar” de controlar pessoas e as perseguições seguem em vários lugares do Brasil.

A título de “proteção da saúde”, punem, segregam, causam constrangimento ou, até pior, deixam famílias sem sustento pelo simples prazer de dizer: "eu mando". O mais revoltante é que alguns impõem regras duríssimas para os outros, mas eles próprios não seguem essas regras.

Demitidos por falta de vacina

Esta semana, em Curitiba, o prefeito Rafael Greca (União-PR) assinou a demissão de dois servidores públicos. Ambos eram concursados. Tinham, portanto, estabilidade no emprego. O problema foi que ousaram não se vacinar contra Covid. Pouco importa se foi por convicção ou recomendação médica. Exonera!

O mais absurdo disso é que são dois servidores que, durante toda a pandemia, estiveram na linha de frente, enfrentando o vírus com as poucas proteções e informações que havia, sem abandonar os pacientes: um médico e uma técnica de enfermagem.

Além de não levar isso em consideração, o prefeito também ignorou a lei estadual que proíbe o passaporte da vacina em todo o Paraná. A lei foi aprovada e sancionada em abril, antes mesmo de o ministro da Saúde decretar o fim da emergência sanitária no país.

A prefeitura de Curitiba preferiu seguir um decreto, exigindo a vacinação de todos os servidores públicos municipais. Finge não saber que decreto não tem força de lei.

É claro que se esses servidores recorrerem à Justiça, se ainda existir Justiça, vão ganhar a causa. O prefeito poderá ser obrigado a reintegrar a técnica de enfermagem e o médico aos postos de trabalho, engolir em seco e pagar indenizações, caso a Justiça estipule indenização por danos morais.

Nós, contribuintes, vamos ter que pagar pela irresponsabilidade, incompetência e tirania do gestor. Fico me perguntando: para quê isso?

Por que causar tamanho constrangimento para pessoas que, até onde se saiba, trabalhavam corretamente, salvaram muitas vidas na pandemia e também antes dela. Por que criar um provável imbróglio jurídico à toa? Quem o prefeito pensa estar salvando com tamanha arbitrariedade?

Outros casos

A Gazeta do Povo - um dos raros jornais do Brasil que denunciam as perseguições e a segregação absurdas impostas por governantes, gestores de órgãos públicos ou diretores de instituições de ensino - tem inúmeras reportagens publicadas nos últimos meses. Seguem alguns títulos só para mostrar a que ponto chegamos.

-- Professora de escola municipal é exonerada em SC por não se vacinar

-- Pai é impedido de acompanhar nascimento do filho por falta de vacina

-- Justiça do Trabalho mantém demissão por justa causa de funcionária que não se vacinou contra Covid

-- TST não vai cobrir tratamento para Covid-19 de servidores não vacinados

Para conhecer outros absurdos ainda cometidos pelo Brasil, clique no play da imagem que ilustra esta página. Você vai descobrir que crianças pequenas ainda estão sendo obrigadas a usar máscaras em escolas de Campinas (SP) e Juiz de Fora (MG), para citar apenas dois exemplos.

Na coletânea de atos tirânicos de reitores universitários que cito no vídeo, vai ficar estarrecido com a decisão mais recente dos gestores da Universidade de Brasília (UnB), que adotou um selo para vacinados, deixando ainda mais explícita a segregação. Não à toa muitos estão associando ao que se praticava na Alemanha nazista para diferenciar judeus de alemães.

Para aqueles que aprovam toda essa tirania e se deixaram aprisionar pela ideia de que estão protegidos ao se submeter a controle de prefeitos, reitores, ou quem quer que seja, deixo como reflexão um pequeno trecho de um texto literário.

É sobre liberdade e coragem, medo e aprisionamento. Essa breve junção de palavras, carregada de significado, é frequentemente atribuída ao autor russo Fiódor Dostoiévski, e faria parte da obra Os Irmãos Karamazov. Na verdade, a autoria é de um brasileiro, o escritor Rubem Alves.

"Somos assim: sonhamos o voo, mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio, porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o ‘não ter certezas’. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram."

Trecho da obra Religião e Repressão, de Rubem Alves.

Se você está certo de que está protegido na gaiola e não entende que a emergência sanitária acabou, tudo bem. Mas deixe os outros voarem. Há quem ainda preze pela liberdade como nosso bem maior.

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