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A internet veio abaixo, porque o papa Francisco aceitou receber a visita do ex-presidente Lula. Causou surpresa mesmo, afinal o lógico seria um criminoso condenado pela Justiça estar preso e não passeando pelo mundo. E do papa espera-se a bênção a quem segue os preceitos católicos e respeita os mandamentos da igreja ou a quem comete erros, mas se arrepende, busca a confissão e o perdão. Não parece ter sido o caso.

Depois da visita de Lula ao Vaticano já teve artigo de todo o tipo, seguido daqueles comentários raivosos que viraram praxe nas redes sociais, mas quero voltar ao tema porque esta é uma ótima oportunidade para resgatar alguns pontos que não devem ser esquecidos.

Lula: do calvário à liberdade para chegar ao Vaticano

Primeiro é preciso lembrar quem é Lula atualmente: um ex-presidente da República, que cometeu crimes, está sendo investigado, responde a vários processos e, em dois deles, já está condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, não só por um juiz, mas por colegiados de juízes. No caso do tríplex do Guarujá, além da condenação por um juiz de primeira instância (Sérgio Moro, à época titular da 13ª Vara de Justiça Federal em Curitiba) ele foi condenado por dois colegiados de juízes (TRF-4 e STJ).

É importante ter em mente também, que o ex-presidente não foi solto por ter conseguido provar que é inocente. Isso ele disse que faria, lembram? Quando estava preso Lula afirmou que não trocaria sua dignidade pela liberdade e que só aceitaria ser solto se fosse reconhecida sua inocência. Isso não aconteceu, mas o ex-presidente esqueceu a própria palavra e decidiu sair da prisão, ainda que continuasse como culpado e condenado perante a Justiça brasileira.

Lula também "esqueceu" o que tinha dito antes de ser preso, em abril de 2019. Palavas dele: "provem uma corrupção minha que eu irei a pé pra ser preso." Ele falou que tinha tanta certeza que ser "a viva alma mais honesta do país" que se provassem que ele tinha cometido algum crime viria a pé se entregar para a polícia federal em Curitiba. Quando saiu a primeira ordem de prisão contra ele, refugiou-se na sede do sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo, fez aquele teatro todo, comício até, antes de se entregar e vir para cá de jatinho mesmo, pago com dinheiro público.

Em novembro de 2019 Lula foi liberado da sala especial da sede da Polícia Federal em Curitiba, onde ficou preso por um ano e sete meses, graças à decisão do STF, que garantiu liberdade a criminosos enquanto houver recursos a serem analisados por tribunais superiores - o que, na prática, significa dizer que bandidos com dinheiro suficiente para pagar bons advogados (dinheiro roubado ou não) podem ficar livres, enquanto os advogados ficarem recorrendo das sentenças.

Francisco: do Vaticano ao calvário de ter recebido Lula

Quanto ao papa Francisco, ele aceitou receber a visita do ex-presidente brasileiro condenado a pedido de um amigo de Lula e conterrâneo seu - o atual presidente da Argentina Alberto Fernández -, que tinha, ele próprio, visitado o Vaticano duas semanas antes.

Deixando de lado as tendências esquerdistas do papa, já manifestadas nesse e em outros episódios, vale dizer que ele está no papel de líder religioso, de receber quem quer que esteja disposto a acolher uma orientação ou bênção sua.

Papas são assim. João Paulo II perdoou o homem que atirou nele e inclusive pediu que a Justiça italiana revisse a condenação de prisão perpétua, o que foi feito. O atirador acabou solto depois de ter cumprido 19 anos de prisão. Antes disso o próprio papa foi visitá-lo na cadeia.

Então vamos pensar que o papa Francisco tenha aceitado receber a visita de Lula acreditando que conseguiria levar a ele alguma consciência.

Fatos, interpretações e desmentidos

O problema foi o que aconteceu de fato durante a visita. O PT apressou-se em divulgar que eles discutiram assuntos como a situação da Amazônia e o clima político na América do Sul. O Instituto Lula tentou tirar vantagem política, publicando no Twitter que o momento tinha sido "histórico" e que o papa Francisco e Lula se encontraram para "discutir e pensar soluções para injustiças e desigualdades no mundo". Claro que Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann e muitos outros petistas divulgaram essa versão. O próprio Lula tuitou que esteve no Vaticano para "conversar sobre um mundo mais justo e fraterno".

Depois correu nas redes sociais que o papa tinha concedido a Lula a “bênção dos inocentes”. De acordo com sites pró-Lula, a bênção seria dada apenas a alguém culpado por algo que não cometeu. Mas não há registro desse tipo de graça na Igreja.  O Vaticano acabou emitindo nota negando que a bênção tenha sido concedida.

Além disso ficamos sabendo que a visita sequer constava na agenda oficial do papa, aconteceu ala residencial do Vaticano, onde o papa mora.

De tudo isso podemos concluir que o papa poderia ser mais cuidadoso com as visitas que recebe para não passar recados confusos aos milhões de fieis que a igreja católica ainda tem. E que Lula continua sendo Lula, assim como seus seguidores mais ferrenhos continuam acreditando até nas mentiras que ele conta.

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