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O que significa quando uma pessoa se diz conservadora? Ela quer conservar tudo como está, sem nenhuma alteração? E quando alguém se intitula progressista, ela quer mesmo o progresso? Só progressistas querem o progresso? Parafraseando o título daquele filme que mistura drama e horror... Precisamos falar sobre conservadorismo e progressismo.

Imagino que assim como a mãe deprimida e angustiada por ter parido um assassino (o jovem Kevin do filme) é preciso encarar que viveremos em eterna culpa se não dermos um basta em mais esta confusão que afunda o Brasil numa polarização política ridícula e insuportável.

Na última coluna eu já mencionei a nefasta mania nacional de tentar enquadrar todo mundo, o tempo todo, em Esquerda ou Direita - como se as visões de como o Estado deve agir precisassem necessariamente seguir uma bússola de ponteiro engessado. Se você não leu (ou assistiu ao vídeo) pode ver clicando aqui.

Hoje quero falar de conservadorismo e progressismo para tentar clarear um pouco essa outra discussão tão obscura.

Conservadorismo e progressismo

Conservadorismo é uma corrente política que preza pela manutenção de valores, tradições e estruturas sociais; prega o respeito à propriedade privada e a meritocracia no mercado de trabalho, por exemplo. Progressismo acredita que o progresso se alcança através da ruptura com padrões sociais tradicionais. Romper seria a única forma de se obter, por exemplo, igualdade, justiça e liberdade.

Alto lá! Foram os progressistas que lutaram pela Reforma da Previdência? Não foram os representantes de partidos ditos conservadores que garantiram a ruptura com o padrão obsoleto de aposentadoria? Igualdade e Justiça só se alcança com ruptura? Não devemos manter nada do que já funciona para garantir distribuição justa de remédios ou acesso igual à educação e saúde?

Assim como Esquerda e Direita, conservadorismo e progressismo são visões diferentes, mas não estanques, de qual caminho seguir para atingir um objetivo que, imagino, é de todos: o bem comum. Por isso mesmo não deveriam ser definições usadas como etiquetas para rotular pessoas, gerar ódio e dividir a sociedade.

Tentaram me etiquetar

Pense comigo: sou progressista se eu defender uma causa como a punição a homens que agridem mulheres, porque se sentem seus donos, ou aos que praticam assédio sexual para constrangê-las, antes de exibir sua força física para impor suas vontades? Sou feminista. já que. dizem, toda mulher progressista é feminista?

Acreditem. Já fui taxada de progressista, feminista e até xingada de "feminazi", por causa de textos (e vídeos) que publiquei aqui na Gazeta do Povo, explicando o porquê do Dia Internacional da Mulher ou falando sobre a campanha do governo contra o assédio sexual no carnaval.

Um leitor também me chamou de "feminazi" no comentário de uma reportagem que eu escrevi sobre guarda compartilhada de filhos nesses tempos de quarentena. A matéria simplesmente relatava decisões judicias recentes que puseram fim a litígio entre pais e mães separados que não conseguem decidir de forma amigável quem deveria ficar com os filhos em situações específicas, como por exemplo, quando a criança tem problemas de saúde, o pai mudou-se para outra cidade ou mora com seus próprios pais, idosos.

Pois teve gente que me chamou de "feminazi", defensora de mães feministas, insensível ao direito de um pai à convivência presencial com seus filhos. Com certeza não leram o texto até o fim, que trazia várias orientações de advogados de família e promotor de justiça ao diálogo e ao bom senso, além de recomendar a manutenção das idas da criança à casa do pai, desde que more na mesma cidade e as condições de transporte sejam seguras. E ainda alertava mães que praticam alienação parental sobre os prejuízos disso para as crianças e a punição prevista, que vai de multa até à perda da guarda para quem coloca filhos contra o pai.

Agora um exemplo oposto. Fui classificada como conservadora, homofóbica e insensível à causa LGBT quando escrevi uma reportagem sobre um movimento de médicos contra a resolução do CFM que reduziu de 21 para 18 anos a idade para cirurgias de mudança de sexo e autorizou terapia de bloqueio hormonal em crianças e aplicação de hormônio do sexo oposto em adolescentes que dizem não se sentir no sexo de nascimento.

Os médicos que se opõe à resolução do CFM (aprovada sem que os pediatras, psiquiatras ou endocrinologistas fossem ouvidos) levantam questões éticas e de saúde mesmo. Há uma preocupação com efeitos colaterais gravíssimos dessas terapias e com a esterilização de milhares de jovens ditos transexuais quando a lei brasileira impede a esterilização de menores de 25 anos que não tenham pelo menos 3 filhos e se enquadrem em uma série de outras exigências. No Brasil há lei, aliás, protegendo até pedófilos e estupradores contra a possibilidade de castração química, como acontece em vários países. Seria ferir a dignidade da pessoa humana, garantida na Constituição.

É incrível que o mero trabalho jornalístico de divulgar preocupações legítimas de médicos que discordam de uma norma do CFM desperte em leitores radicais a necessidade de me rotular disso ou daquilo!

Estamos todos no mesmo barco

Essa história de um grupo que defende determinada ideologia política roubar para si o monopólio das virtudes e, por outro lado, o grupo que supostamente está no espectro oposto da ideologia política acusar todo mundo que defende minorias de estar se vitimizando, só piora a situação de polarização política insuportável que a gente vive hoje no Brasil.

É preciso saber do que estamos falando para não ficarmos alimentando mais ódio contra pessoas que podem ter uma linha de pensamento diferente da nossa para se chegar ao progresso, mas que com certeza estão pensando no bem do Brasil, assim como nós. Estamos ou não no mesmo barco, afinal?

Se você concorda ou até se discorda de mim, fique à vontade para entrar no debate através da área de comentários. Só peço que haja respeito às diferenças de opinião. Compartilhe esse texto para que mais gente reflita antes de cair na tentação de etiquetar alguém de conservador ou progressista.

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