No dia de abertura da 117.ª legislatura do Congresso norte-americano, o “reverendo” Emanuel Cleaver encerrou sua oração com as palavras “Amen and awoman”. Cleaver é representante do Missouri e pastor metodista da United Methodist Church; proferiu a oração de abertura com as seguintes palavras: “We ask it in the name of the monotheistic God... God known by many names and by many different faiths. Amen, and awoman,” Em tradução livre: “Pedimos em nome do Deus monoteísta ... Deus conhecido por muitos nomes e por muitas religiões diferentes. Ahomens e amulher”.
Você deve estar se perguntando: que tipo de oração é essa? Por que um pastor metodista, em vez de terminar a oração com o tradicional “amém”, emendou um “Ahomens e amulher”? Com a maior polidez possível (estamos invocando-a do fundo de nossa alma), tentaremos explicar a proposital confusão de conceitos perpetrada pelo senhor “reverendo”.
A palavra “amém”, como todos nós sabemos, é aquela comumente usada no fim de orações, rezas e preces. Vamos ver o que diz o famoso Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento: “vocábulo transliterado do hebraico para o grego e para a nossa língua. Quando dito por Deus, significa ‘e assim é e será’, e quando dito pelos homens, significa ‘assim seja’”. Ou seja, não guarda nenhuma relação e nem se confunde com o termo “amen”, que no contexto retrata a neutralidade de gênero promovida pela militância transgênero e LGBTQ+.
A fala reflete a repugnância ao Cristianismo da parte desses grupos “progressistas”, dispostos a desrespeitar e manusear, ao seu bel prazer, até mesmo o caráter transcendental e imaculado da confissão de fé cristã
O grande problema de Cleaver é que ele tratou uma palavra importante da tradição cristã como se fosse passível de silogismo estético (em inglês, “amém” soa como “a men”) ou da novílingua dos promotores da ideologia de gênero. Perceba conosco: estamos diante de um grave desvio, que é fruto de “um comitê [que] propôs mudanças nas regras da casa para ‘honrar todas as identidades de gênero’ e eliminar palavras de gênero como ‘mãe’, ‘pai’, ‘ele’e ‘ela’ em favor de termos neutros em relação ao gênero”. Quando desvios como estes são cultivados, germinam por entre as hortaliças da cultura civilizacional e, como inço que são, aos poucos vão abafando cada plantinha até matar a horta inteira; em outras palavras, alastram-se até destruir a civilização ocidental.
Retornando a articulação da ideologia de gênero, Ryan T. Anderson alerta: trata-se de um catecismo transgênero, uma crença com um tom descaradamente metafísico que vem para impor a substituição da crença cristã e da sua concepção sobre a pessoa humana, do Amém e do homem e mulher, pela crença da Era de Aquário: there is nothing that distinguishes a man and a woman – não há nada que distinga um homem e uma mulher.
A substituição do “assim seja” por um “Ahomens e amulheres” foi declarada em pleno início de um novo ano político nos Estados Unidos da América. Isso nos rememora o papel de influência que os EUA têm sobre o mundo, inclusive sobre o Brasil – seja para o bem, já que, como afirmamos em nosso livro Direito Religioso, “a reflexão jurídica de não embaraço ao sentimento religioso que o permeou o pensamento republicano brasileiro do século 19, na verdade, advém da Declaração de Direitos da Virgínia. Proclamada em Williamsburg no dia 12 de junho de 1776, o documento já considerava os princípios da laicidade e da liberdade religiosa como fundamentais para a constituição de uma sociedade democrática, justa e igualitária”; seja para o mal, como a fala de Cleaver no Opening Day da 117.ª legislatura.
Nesse caso, a fala mostra o que grupos que pregam a reforma gramatical, o gênero neutro e a reforma religiosa buscam: a repaginação da confissão de fé cristã e a promoção de um modelo educacional que normalize a androginia, fruto do que Leonard Sax chama, em Por que gênero importa?, de “incapacidade de reconhecer e respeitar as diferenças de sexo” e uma demonstração da repugnância ao Cristianismo da parte desses grupos “progressistas”, dispostos a desrespeitar e manusear, ao seu bel prazer, até mesmo o caráter transcendental e imaculado da confissão de fé cristã, que serviu de base para a fundação da nação norte-americana – basta lembrarmos o início do preâmbulo de sua carta de independência: “Consideramos estas verdades como autoevidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão vida, liberdade e busca da felicidade”.
Esta onda de desconstrução dos valores que fundaram nossa civilização já está no Brasil, dando as caras em todos nossos rincões. Vejam o caso da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, denunciado pelos vereadores Ramiro Rosário (PSDB) e Felipe Camozzato (Novo), em que cinco vereadores de esquerda, alegando racismo na letra do hino oficial riograndense, recusaram-se a cantá-lo e até mesmo a permanecer em postura de respeito. O que diz o hino? “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”, típica estrofe que remete às virtudes aristotélicas e à escravidão dos vícios decorrentes quando as mesmas não são praticadas.
Pois é: se não nos atentarmos, nossa civilização ruirá até o fim desta década.
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