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A infiltração dos “cristãos progressistas” na igreja cristã
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“Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo.” (Agostinho de Hipona)

Conquistando a cidade de dentro

Seguindo a Nova Esquerda e suas políticas identitárias, os assim chamados “cristãos progressistas” se notabilizam, na atualidade, por entenderem que a classe que salvará o mundo será a dos “excluídos” e das minorias. E dão status de dogma a temas como o estabelecimento de novos conceitos de família a partir da união homoafetiva, aborto, maioridade penal além de todo tipo de estatismo.

Mas a defesa veemente desses temas são sinais de um mal maior. Parece que esses “cristãos progressistas” têm reinterpretado profundamente a fé cristã, tornando-a em algo amorfo, totalmente distinto daquilo que se pode receber como revelação de Deus nas Escrituras Sagradas.

Crença e descrença

Em linhas gerais, os “cristãos progressistas”:

  • Repudiam a Bíblia como Palavra de Deus inspirada e infalível;
  • Falam da irrelevância da Trindade ou defendem o teísmo aberto;
  • São indiferentes aos ensinos sobre o pecado original e pessoal, e a salvação pela graça;
  • Repudiam o nascimento virginal de Cristo Jesus,
  • seu sacrifício expiatório e substitutivo na cruz
  • e sua ressurreição corporal;
  • Rejeitam todo e qualquer milagre ou sinal divino;
  • São críticos das igrejas ou estão desigrejados;
  • São indiferentes ou abandonaram qualquer crença na segunda vinda de Cristo.

Assim, há, da parte desses “cristãos progressistas”, uma ruptura com “aquilo que foi crido em todo lugar, em todo tempo e por todos [os fiéis]” (Vicente de Lérins, Commonitorium II,3); isto é, esses “cristãos progressistas” se caracterizam não só por um afastamento, mas por uma rejeição de todo o ensino consensual entre os cristãos legítimos.

Se há tal ruptura com a tradição cristã mais ampla, como reconhecer esses ditos “progressistas” como cristãos?

Ao mesmo tempo, estes “cristãos progressistas” tornam absoluta toda a agenda atrelada aos anseios hegemônicos da esquerda e extrema-esquerda, defendendo ferrenhamente:

  • a redefinição do conceito de família, estendendo-a para qualquer relação de duas ou mais pessoas;
  • a defesa do aborto;
  • a liberalização das drogas;
  • o antissemitismo e antissionismo, e Israel como um “estado terrorista”;
  • a evolução, percebida como um processo espiritual religioso (Michael Dowd);
  • a divisão marxista da sociedade em categorias de opressor e oprimido/vítima;
  • uma política identitária que divide a sociedade, sem nenhum interesse em reconciliação;
  • a crença de que o homem branco cristão é o opressor, “o diabo” (James Cone), e “a igreja ‘branca’ é o Anticristo” (Jeremiah Wright);
  • a satanização dos opressores e imposição aos indivíduos de pagar por opressões históricas das categorias a que pertencem;
  • que aqueles que não concordem com eles são fascistas, homofóbicos, racistas, misóginos etc.
  • e a fé de que o Estado controlador, sob o domínio do Partido, pode moldar e controlar a sociedade civil, levando-a a um milênio secularizado.

E alguns dos autores referenciais para os “cristãos progressistas” são Jürgen Moltmann, Hans Küng, Paul Tillich, Rob Bell, Brian McLaren, John Howard Yoder, Rosemary Radford Ruether, Leonardo Boff, Frei Betto, Gustavo Gutiérrez, Severino Croatto, entre outros.

Este é todo o “evangelho” que os “cristãos progressistas” têm para oferecer. Por isso, os “cristãos progressistas” não podem ser considerados evangélicos.

Na verdade, são adeptos devotos da igreja vermelha do politicamente correto. Se veem como parte de um tipo de nova ordem religiosa, totalmente leais ao Partido e ao santo graal da Ideia. E todos aqueles que não concordam com eles são tratados, simplesmente, como “não-pessoas”.

Assim, estes têm por alvo subverter os alicerces mais básicos da fé e da ética cristã para que a Igreja seja controlada (Gleichschaltung), subordinada à agenda do Partido/Estado esquerdista, com sua agenda inflexível e colossal.

De acordo com Peter Leithart: “A religião da justiça social se apropria dos elementos chaves da ortodoxia cristã – uma análise do pecado e do mal, um modo de salvação, disciplinas espirituais, uma comunidade com uma missão, uma esperança por um futuro de paz e justiça. […] Porém, todas as apropriações cristãs que a religião da justiça social faz são distorcidas por causa daquilo que lhe falta: Deus, Jesus e o Espírito. É uma Santa Igreja de Cristo sem Cristo” (A Igreja de Cristo sem Cristo).

Uma paixão religiosa

Impressiona a intransigência ideológica dos “cristãos progressistas”, em sua ferrenha defesa das pautas esquerdistas.

O livro sagrado destes poderia ser O Capital, mas o O capital no século XXI pode servir; não faltam “profetas”; acham que o ser humano surgiu bom e foi corrompido pela sociedade; pecado seria toda suposta agressão contra as minorias e os pobres; a salvação seria por meio da crença cega na ideologia; se veem como parte da Igreja Vermelha, a única correta e verdadeira; e esperam um milênio glorioso, desfrutado pelas minorias e pelos pobres – ao menos os que forem leais à Ideia.

Parecem não ter Deus. Mas têm o Estado. Ou o Partido.

Como escreveu Theodore Dalrymple: “Há um tom evangélico nas declarações [… dos adeptos da política de esquerda], uma triagem do trigo do joio, das ovelhas das cabras, das salvas dos condenados. Eles não querem apenas mudanças formais, como, por exemplo, uma mudança perfeitamente razoável na lei após o que podem ser anos de discriminação injusta. Eles exigem uma reforma do coração humano e pretendem realizá-lo. Também não desejam tolerância, pois tolerar implica aversão ou mesmo desaprovação, uma vez que ninguém simplesmente tolera o que gosta ou aprova. Assim, não basta que as pessoas vivam e deixem viver; eles devem expressar sua aprovação do que antes lhes era desagradável. As consequências totalitárias disso são, ou deveriam ser, evidentes.”

Em suma, os “cristãos progressistas” defendem com fervor uma paródia macabra da fé cristã, tornando tal revisão da fé subserviente ao programa político da esquerda.

Uma reinterpretação da missão cristã

Para os “cristãos progressistas” que são membros de igrejas cristãs, “tudo é missão”. E, para esses, a missão principal do cristão é o serviço aos pobres ou a defesa das causas das minorias. Então, passam a julgar todos os demais cristãos com base nas pautas esquerdistas. E estes “cristãos progressistas”, no geral, desprezam as igrejas tradicionais. Geralmente, priorizam agências paraeclesiásticas ou ONGs apartadas das igrejas tradicionais.

Como Leithart escreveu: “Os devotos da religião da justiça social exibem uma paixão admirável por consertar o mundo, bem como um zelo implacável por abnegação e disciplina. Essa paixão e zelo são equivocados. Mas o fato de que essa fé cativa a imaginação de tantos jovens é uma acusação a uma igreja […] letárgica, que promete pouco e exige menos”.

Mas foram justamente as igrejas tradicionais no Brasil, presentes do Oiapoque ao Chuí e do asfalto às favelas, que fundaram em nosso país hospitais, escolas, universidades, orfanatos, asilos, institutos para portadores de necessidades especiais, etc. A “Cristolândia”, projeto de uma denominação batista, é exemplo de um programa de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos, que busca a transformação destas vidas por meio do evangelho de Jesus Cristo.

E o que os “cristãos progressistas” fundaram no país?

Assim, os “cristãos progressistas” tendem por subverter a Igreja como a comunidade da Palavra e do Sacramento, transformando-a numa mera associação social e humanitária a serviço dos partidos ou do Estado esquerdista. Mas quando isso ocorre, pastores progressistas, metidos a intelectuais, ricos e bem vestidos, não mais cuidam dos membros da igreja – somente os usam.

Ao fim, parece que estes “cristãos progressistas” são somente agitprop de partidos de esquerda e extrema-esquerda.

E como Stephen Neill afirmou, “se tudo é missão, nada é missão”.

Por isso, é necessário afirmar que a missão suprema da igreja é proclamar que todo ser humano é pecador e está destinado à morte eterna; e que crer no evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus – que, de acordo com a Escritura morreu e ressuscitou por pecadores – é o que nos assegura o perdão e a vida eterna.

Um jogo de sombras

Também é curioso notar que vários desses “cristãos progressistas” se identificam como “pastores”. Mas – sobretudo aqueles que se identificam com as igrejas cristãs históricas especialmente de tradição independente – é difícil descobrir quando ou quem os ordenou ao ministério pastoral.

Seria interessante saber se os pastores que se identificam com o progressismo e que foram ordenados em denominações históricas ainda mantêm as crenças defendidas em sua ordenação ministerial. Ou se, depois de ordenados, volveram ao liberalismo teológico, trocando o evangelho do Senhor Jesus Cristo por uma mixórdia gnóstica.

Assim, se aproveitando da falta de uma confessionalidade clara por parte de muitas igrejas cristãs históricas, substituída por afirmações ingênuas do tipo “nenhum credo, só a Bíblia”, alguns desses “cristãos progressistas”, que romperam com as afirmações doutrinais que são consensuais aos cristãos, malandramente também tentaram se esconder por trás de linguagem ambígua, em seu esforço de infiltração nas igrejas – assim, muitas vezes serão os discípulos “milicrentes” desses que levarão o discurso dos “pastores progressistas” às últimas consequências.

Diferente de alguns destes “progressistas”, que se criaram em grupos paraeclesiásticos, eu fui enviado pela igreja batista onde cresci para estudar teologia formalmente, num seminário teológico. E eu ainda lembro de professores de Antigo Testamento, teologia do Antigo Testamento, filosofia da religião, metodologia teológica etc., despejando sua incredulidade sobre mim e meus colegas.

Ainda lembro de um destes professores, esquerdista teimoso sem temor a Deus, proferindo blasfêmia grosseira sobre Jesus Cristo em sala de aula. Ao mesmo tempo que eram propagandistas da teologia liberal ou da teologia da libertação, eram devotos esquerdistas – e isso no começo da década de 1990. Na verdade, alguns dos professores com quem estudei no seminário eram agnósticos ou ateus ou transformaram suas igrejas em ONGs.

Pois, parafraseando Bento XVI, pode-se afirmar que os “cristãos progressistas” procuraram “criar, já desde as suas premissas, uma nova universalidade em virtude da qual as separações clássicas da Igreja devem perder a sua importância. […] [São uma] nova interpretação global do cristianismo […] [que] revira radicalmente as verdades da fé […] e as opções morais” (Eu vos explico a teologia da libertação).

Assim, toda noção de cristianismo foi subvertida pelos “cristãos progressistas”, subordinados que estão a uma Ideia. Se isso é assim, estes não podem ser reconhecidos como cristãos, pois colocaram a fé na Ideia, não na Revelação. São mais próximos do gnosticismo que do cristianismo. Portanto, devem ser caracterizados como “cavalos de Tróia” dentro da igreja cristã.

Discernimento e renovação da fé cristã

E a igreja cristã no Brasil precisa entender que o mesmo adversário que parasitou e predou a igreja na América do Norte e na Europa está presente em nosso país, e age com todas as forças para seduzir alguns em nosso meio.
Faríamos bem em considerar o alerta de A. W. Tozer: “É inútil grandes grupos de crentes gastarem horas e mais horas implorando que Deus mande um avivamento. Se não pretendemos nos reformar, também não devemos orar”.

Que os cristãos se tornem passionalmente engajados no anúncio do evangelho do Senhor Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para perdoar pecadores, inseri-los numa santa comunidade e lhes assegurar a vida eterna com Deus.
E que os cristãos retornem ao “o manancial de águas vivas” (Jeremias 2.13), às Escrituras Sagradas, a única Palavra de Deus. E, sendo que “a única reforma verdadeira é a que emana da Palavra de Deus (J. H. Merle D'Aubigné), roguemos que o Deus todo-poderoso, que é Pai, Filho e Espírito, renove e reforme a igreja cristã nesse país.

*Franklin Ferreira é diretor do Seminário Martin Bucer, Presidente do Coalizão pelo Evangelho - TGC e secretário do Conselho Deliberativo do IBDR.

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