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Igreja anglicana
Igreja anglicana na Inglaterra: cultos foram suspensos por decisão das autoridades religiosas.| Foto: Pixabay

Infelizmente, os desdobramentos do Covid-19 continuarão sendo o tema central a prender a atenção do mundo todo. Vivemos ainda as semanas iniciais dentro desta tempestade, e temos pela frente muitos desafios aqui no Brasil, tanto no tocante à saúde pública, quanto na defesa das estruturas institucionais de nosso país.

Dizem que nos dias da adversidade é que nossa fibra mais íntima é testada. Esta situação sem paralelo em nossa geração é considerada, por alguns líderes mundiais, a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Em nossa atual ordem constitucional, obviamente, estamos enfrentando o pior cenário social – e com quadros dramáticos ainda por vir, conforme dizem muitos especialistas.

Assim sendo, de acordo com as várias vocações humanas, somos chamados às linhas de frente: os profissionais da saúde, heróis anônimos, fazendo valer seu juramento de promover e proteger a vida humana; agentes políticos, buscando honrar seus mandatos de cumprir e fazer cumprir as leis; profissionais do Direito, defendendo a ordem constitucional vigente; as forças de segurança, garantindo a tranquilidade dos cidadãos à medida que as ruas vão se esvaziando.

Dizem que nos dias da adversidade é que nossa fibra mais íntima é testada

Neste contexto surge o perigo às instituições democráticas que alertamos em nosso texto inaugural. As organizações religiosas são dotadas de autodeterminação no sistema de laicidade colaborativa, e não são simples súditos do Estado. Portanto, enquanto não houver apropriadamente a decretação de uma exceção constitucional – estado de defesa ou de sítio –, não pode a autoridade estatal obrigar o fechamento de locais sagrados ou de culto, apenas recomendar.

Como forma de mostrar à sociedade brasileira que a liderança eclesiástica responsável está plenamente ciente dos riscos desta pandemia e quer fazer a sua parte voluntariamente, um grupo de teólogos bastante conhecidos no meio evangélico, denominado “Coalizão pelo Evangelho”, está fazendo um chamamento nacional para despertar a comunidade religiosa brasileira de modo que coopere e colabore com a sociedade toda – inclusive com o Estado – neste enfrentamento da pandemia.

Abaixo reproduzimos o texto na íntegra, mas, além deste grupo de teólogos, muitas igrejas pelo Brasil inteiro têm feito sua parte, orientando e, principalmente, confortando os fiéis em um momento tão difícil como o presente. Os templos de qualquer culto têm como natureza prover a espiritualidade da pessoa em busca do bem comum de todos e, de forma a colaborar com o Estado brasileiro, sempre estiveram presentes em situações de crises e calamidades. Basta lembrar o caso de Mariana, ou ainda, mais recentemente, de Brumadinho. O fato é que certamente a Igreja brasileira, não importando a confissão, não se furtaria de manter seu incondicional apoio ao governo brasileiro, em todas as suas esferas, em busca do bem comum. A Igreja orienta, acolhe e, se necessário, fecha as portas de seus cultos, por amor. O Estado organiza e protege, a Igreja ama.

“Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes.” (Jeremias 33.3)

O texto do grupo Coalizão pelo Evangelho

(disponível também on-line)

“Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” (Salmo 121.1-2)

Diante da disseminação do coronavírus (Covid-19) em diversos continentes do globo e do número considerável de mortes na China, Irã, Itália e Espanha entre a população de saúde mais vulnerável (principalmente pessoas em idade avançada), a Coalizão Pelo Evangelho no Brasil, com a chegada da doença ao nosso país, através de seus membros subscritos, vem a público trazer alguns esclarecimentos e orientações, bem como, principalmente, conclamar à Igreja brasileira que se coloque em oração pelo não agravamento da atual situação.

Reconhecemos que o coronavírus representa uma ameaça real à saúde pública do Brasil e configura uma condição de crise nacional, merecendo atenção urgente das autoridades, assim como a colaboração da população acerca de qualquer medida governamental em âmbitos federal, estadual ou municipal.

Reforçamos nossa posição, já manifestada em outras oportunidades, de que a Igreja e, individualmente, os cristãos podem e devem cooperar em participação com a sociedade, seja por meio de medidas educativas, ações concretas ou orações públicas pelo país e por nossas autoridades, quanto mais que o modelo brasileiro de laicidade é colaborativo com a religião.

Cremos que as autoridades são ministros de Deus para o bem, conforme Romanos 13.3, e suas medidas e orientações neste momento delicado devem ser seguidas em espírito de colaboração para o bem comum.

Lamentamos , destarte, qualquer leviandade por parte de autoridades públicas acerca do problema, o que denota uma negação daquilo para o qual foram instituídas por Deus.

"No decorrer da história a Igreja regularmente mostrou-se presente em tempos de calamidade ou emergência pública"

Manifestamos, de igual modo, nossa discordância com líderes eclesiásticos que diminuem a importância de medidas concretas de prevenção em suas comunidades locais de fé, e que, tentando a Deus, acabam por colocar em risco a saúde de muitas pessoas dentro e fora de suas igrejas.

Recomendamos, portanto, em termos práticos, que as congregações locais ajudem a divulgar as seguintes orientações: 1. Se alguma pessoa estiver com sintomas de gripe, não deve participar de encontros, cultos ou reuniões; 2. Fazer profilaxia com álcool gel, lavar sempre as mãos com sabão, evitar tocar o rosto com as mãos, evitar contato físico, cobrir o rosto com o antebraço ao espirrar ou tossir, usar lenço descartável; 3. O grupo de risco (idosos, pessoas com dificuldades respiratórias ou com baixa imunidade) deve evitar sair de casa.

Recordamos, outrossim, que no decorrer da história a Igreja regularmente mostrou-se presente em tempos de calamidade ou emergência pública, inclusive em meio a epidemias, tendo cristãos colocado sua própria vida em risco pelo bem do próximo, tal como aqueles que agiram diferentemente dos pagãos que abandonavam seus familiares durante a Peste Antonina, que matou um quarto da população do império Romano no segundo século; quando Lutero orientou acerca de como os cristãos deveriam ser porta quando a Peste Negra, que matou 75 milhões a 200 milhões de pessoas na Eurásia no século 14, voltou a assolar Wittemberg em 1527; ou como na cólera que atingiu Londres nos anos 1850, a qual Charles Spurgeon viu como oportunidade para pregar a pessoas ansiosas pelo evangelho.

Encorajamos, destarte, que pastores e diáconos cumpram seu papel de servos de Deus diante daqueles que, eventualmente, estejam contaminados e necessitem de oração e consolo, ou a seus familiares, confiando suas vidas e saúde Àquele que é soberano sobre cada um de nós.

"A Igreja e, individualmente, os cristãos podem e devem cooperar em participação com a sociedade"

Conclamamos , por fim, a todos os cristãos em nosso país que se unam em oração a fim de clamar a Deus da seguinte maneira:

1. Que o Senhor Deus tenha misericórdia do povo brasileiro e não permita que o coronavírus se alastre em grandes proporções em nossas cidades e em nosso território;

2. Que as autoridades públicas recebam sabedoria do alto para pensar em medidas que sejam efetivas para conter a propagação da doença;

3. Que Deus proteja e sustente os profissionais da saúde, que estão na linha de frente dessa luta;

4. Que o povo esteja atento e aja de maneira responsável em colaboração para o bem público;

5. Que os já enfermos sejam fortalecidos e curados da doença, e que a resposta à essa oração se traduza em um número pequeno de fatalidades em nosso país;

6. Que nos países onde o vírus já alcançou grandes proporções consiga-se reverter o quadro desfavorável o quanto antes para frear o crescimento do total de pessoas infectadas;

7. Que as consequências econômicas sejam logo superadas, tanto em níveis nacional e internacional, bem como que os negócios locais se recuperem rapidamente a fim de que o sustento das famílias seja afetado no menor grau possível;

8. Que a Igreja brasileira demonstre bom testemunho em palavras de moderação e em amor ao próximo quando tiver a oportunidade de falar e agir.

Concluímos exortando a cada irmão e irmã em Cristo a não temer mal algum (Sl 23.4), a não estar preocupado por coisa alguma (Fp 4.6-7), ser prudente, sábio e a amar ao próximo (Pv 13.16; Mc 12.31), e a trazer à mente que há um único Deus verdadeiro que controla toda a história (Sl 103.19), e que promete que todas as coisas cooperam para o nosso bem (Rm 8.28). Do mesmo modo que não fazemos bem em negar o problema, também não o faremos se não demonstrarmos moderação e serenidade.

Convocamos a todos, finalmente, que se unam a nós no dia 22 de março, no qual se estabelece um Dia Nacional de Jejum e Oração em razão do surto mundial do coronavírus.

18 de março de 2020.

Augustus Nicodemus é pastor auxiliar na Primeira Igreja Presbiteriana do Recife. Cleyton Gadelha é pastor titular da Igreja Batista de Parquelândia e diretor executivo da Escola Teológica Charles Spurgeon (Fortaleza-CE). Davi Charles Gomes é pastor da Igreja Presbiteriana Paulistana (São Paulo-SP). Emílio Garofalo é pastor da Igreja Presbiteriana Semear (Brasília-DF). Euder Faber é pastor da Igreja O Brasil para Cristo e presidente da Visão Nacional para a Consciência Cristã. Franklin Ferreira é diretor-geral do Seminário Martin Bucer (São José dos Campos-SP) e presidente do Conselho da Coalizão pelo Evangelho. Hélder Cardin é chanceler das escolas teológicas Palavra da Vida Brasil, e professor pesquisador no Seminário Bíblico Palavra da Vida. Jonas Madureira é pastor da Igreja Batista da Palavra (São Paulo-SP), professor no Seminário Martin Bucer e vice-presidente da Coalizão pelo Evangelho. Leonardo Sahium é pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea (Rio de Janeiro-RJ), vice-presidente da Junta de Educação Teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil e diretor do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas (CTPI). Luiz Sayão é pastor sênior da Igreja Batista Nações Unidas e professor no Seminário Martin Bucer. Mauro Meister é pastor da Igreja Presbiteriana – Barra Funda (São Paulo-SP). Renato Vargens é pastor sênior da Igreja Cristã da Aliança (Niterói-RJ), escritor e conferencista. Sillas Campos é pastor da Igreja Batista Central de Campinas e presidente do Ministério Fiel. Solano Portela é presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, servindo na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro (São Paulo-SP), e docente no Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper e no Seminário Teológico JMC. Tiago Santos é um dos pastores da Igreja Batista da Graça (São José dos Campos-SP), cofundador e diretor do programa de estudos avançados no Seminário Martin Bucer e editor-chefe na Editora Fiel. Valter Reggiani é pastor da Igreja Batista Reformada de São Paulo e presidente da Convenção Batista Reformada do Brasil. Wilson Porte Jr. é pastor da Igreja Batista Liberdade (Araraquara-SP) e presidente do conselho e professor do Seminário Martin Bucer. [Com a colaboração de Warton Hertz, Pastoral Resident em Chicago na Addison Street Community Church em conjunto com Neopolis Network e Holy Trinity Church]

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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