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O deputado federal Marco Feliciano
O deputado federal Marco Feliciano.| Foto:

Não tenho dúvidas de que o leitor da Gazeta do Povo, sempre antenado com tudo que acontece no mundo da política brasileira, deverá lembrar da conturbada eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, em 2013, do deputado federal e pastor evangélico da Assembleia de Deus Marco Feliciano. Houve manifestações de toda ordem, insultos e até mesmo colegas democratas do deputado que recorreram ao STF, contra a soberania do voto. Nem nos momentos sagrados de adoração a Deus o pastor e deputado estava livre de manifestações, gritos de guerra e, claro, todo tipo de insulto. A Gazeta informava, na época dos fatos: “O pastor afirma que foi agredido com palavras de baixo calão, ameaças de violência e depredação. ‘O pastor Marco Feliciano estava acompanhado de sua família, inclusive com suas crianças que, aos choros, se apavoraram quando os manifestantes atacaram o carro onde estavam’, diz a nota. Por fim, ele argumenta que ‘já está procurando as autoridades para tomar todas as medidas cabíveis’”.

Passaram-se alguns anos e o clima parece ter piorado. Agora as ofensas e insultos não são direcionados a uma pessoa ou a um fato, como ocorreu com Feliciano, mas aos evangélicos de maneira geral. Gigantes da indústria do entretenimento, como a Netflix, veiculam películas que difamam, ofendem e ironizam símbolos sagrados; colunistas alegam que pastor não pode ser ministro, não importa que seja qualificado; enquanto outros usam o pequeno espaço que possuem para dizer que “é necessário pegar as espadas que Pedro lançou contra os soldados romanos, e cravá-las nos filhos do inferno que estão no nosso meio”, referindo-se a evangélicos.

O fato é que cada dia os ânimos estão mais acirrados e os vilões da vez são os cristãos; isso foi, inclusive, objeto de parecer do Instituto Brasileiro de Direito e Religião, que o leitor acompanhou em nossa postagem mais recente. Trazendo estes fatos, passados e atuais, resolvemos entrevistar alguém que tem sofrido na pele, há alguns anos, tais atos de intolerância e preconceito religioso. Pastor Feliciano, abra seu coração!

Deputado e pastor Marco Feliciano, há alguns anos o senhor foi alvo de muitas críticas quando assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Muito foi falado à época, mas, gostaríamos de ouvi-lo sobre o porquê de tais críticas e se guardavam alguma relação com o fato de o senhor exercer, também, o ministério eclesiástico, ou seja, a função de ministro do evangelho.

Esse episódio ocorreu em 2013, quando o Brasil era governado por um partido de extrema-esquerda, o PT, que por sua vez dominou a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados por vários anos. A perseguição se deu única e exclusivamente por causa da minha fé, da minha ideologia cristã e por saberem que minhas pautas sempre foram conservadoras. Já havia tido embates com os progressistas a respeito do aborto, do aborto dos anencéfalos, da união civil entre pessoas do mesmo sexo e de muitos projetos comunistas. Como tenho milhares de seguidores em mídias sociais, e havia sido eleito com mais de 200 mil votos, eles se assustaram. Então tentaram me transformar em “exemplo”, buscando me amedrontar, humilhar, perseguir e destruir minha reputação. Acreditavam que, se me calassem, calariam todos os demais cristãos.

"Embora nossa grande massa brasileira seja conservadora, os esquerdistas fizeram muitos acreditarem que havia o monopólio progressista, isso porque conservadores são pacatos, silenciosos, ordeiros e respeitosos"

Marco Feliciano, pastor e deputado federal

Por mais que este assunto da presidência da comissão esteja no passado, percebemos atualmente a tentativa de se criar uma narrativa de que a crença é importante, mas deve ser exercida dentro de casa, ao estilo francês. Na verdade, a concepção constitucional da crença no Brasil revela sua natureza particular, mas também pública, garantindo a expressão e defesa da fé em qualquer lugar. Qual a diferença entre o primeiro fato (a presidência da CDHM) e as narrativas atuais em torno da laicidade? Não lhe parece que atualmente existe uma tentativa orquestrada de impedir a influência dos valores cristãos na sociedade?

Na política existe a máxima de que “não temos inimigos, mas adversários”; isso não funciona com a esquerda. Para eles, nós, cristãos conservadores, somos inimigos. Eles nos veem com preocupação, nos chamam de retrógrados, afirmam que somos obscurantistas. Já me chamaram de deputado medieval, e por aí caminham as ofensas. Por 30 anos nosso país foi governado pela esquerda, leia-se comunistas; lembre-se de Karl Marx et caterva, que ridicularizam a religião cristã e contra ela declararam guerra. Em 30 anos o Brasil foi aparelhado por eles. Culturalmente transformado.

E, embora nossa grande massa brasileira seja conservadora, eles fizeram muitos acreditarem que havia o monopólio progressista, isso porque conservadores são pacatos, silenciosos, ordeiros e respeitosos. Isso me faz lembrar de uma frase de Martin Luther King: “O que me assusta não é o grito dos maus e sim o silêncio dos bons”. Respondendo à pergunta, sim, eles continuam querendo nos paralisar via leis, via ameaças, via afronta de pseudointelectuais, via grande mídia e pela maioria da grande imprensa.

Quais são os principais valores do cristianismo? Se eles são bons, por que preocupam tanto certos grupos?

Temos um Deus a quem adoramos. Amamos e respeitamos a vida desde a concepção. Não confundimos liberdade com libertinagem. Por sermos conservadores, somos prudentes. Respeitamos as autoridades constituídas. Somos contra a erotização precoce. Somos contra a corrupção. Somos patriotas. Somos unidos. Basicamente o progressista é um revolucionário, e para um revolucionário os fins justificam os meios! Nossos valores, portanto, tornam-se uma barreira para que implantem um estado de caos. Para eles o Estado deve ser Deus.

O senhor acumula a função de cura de almas com a de deputado federal. São duas esferas distintas de soberania; a primeira é espiritual e a segunda é política, material. Existe confusão destas esferas no seu dia a dia? No plenário da Câmara estamos diante do deputado, na nave da igreja, do pastor; além destes dois locais, quando é um e quando é o outro?

Estou em paz quanto a estas funções. Na verdade é trabalho dobrado e cada um dos trabalhos exige uma postura, mas ambas podem caminhar juntas. Como parlamentar, eu me pauto pela Constituição Federal. Como pastor, eu me pauto pela Bíblia. E em ambos, sou guiado pelo caráter cristão e pelo temor do Senhor.

"como cristãos, tendo a mente de Cristo, isto nos legitima para exercermos cargos de excelência e oferecermos nossos talentos e sensibilidade espiritual na vida pública"

Marco Feliciano

Recentemente o senhor participou da 2ª Jornada Virtual de Estudos em Direito e Religião do IBDR, com o tema “Cristãos e o Poder, equilíbrio possível?” O tema da jornada foi em forma de pergunta; poderia respondê-la para nossos leitores?

Foi uma honra indizível participar da jornada. Estar entre ilustres juristas e servos de Deus de diversas denominações mostrou a grandiosidade desta instituição. Em resumo, eu disse que eu sou pastor e estou político. Amanhã posso não estar mais político, mas sempre serei pastor. No meu caso, tenho a política como braço profético do ministério que Cristo me confiou. Ser cristão não nos torna menos brasileiros nem uma sub-raça; assim o querem nossos detratores. Pelo contrário, como cristãos, tendo a mente de Cristo, isto nos legitima para exercermos cargos de excelência e oferecermos nossos talentos e sensibilidade espiritual na vida pública. Se há alguém que pode praticar com esmero a cosmovisão não política, é um servo de Deus.

O Estado brasileiro, embora laico, não é laicista, não é ateu. E o que sou comigo está, aonde vou. E sempre me lembro do texto bíblico de Lucas 12,48 “A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” – por isso oro e sou carente das orações dos santos, para exercer esta tarefa de forma a honrar a Cristo e a sua noiva, que me ungiu para esta tarefa.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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