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Volodymyr Zelenskyy e Vladimir Putin iniciam um jogo perigoso, que ninguém sabe como vai terminar
Volodymyr Zelenskyy e Vladimir Putin iniciam um jogo perigoso, que ninguém sabe como vai terminar| Foto: Colagem de Tetiana Kolesnichenko, RFE/RL Graphics

Após meses de suspense, Putin finalmente movimentou as peças do tabuleiro geopolítico: reconheceu a independência de Donetsk e Luhansk, na região do Donbass, no leste da Ucrânia. Não apenas isso: para garantir a proteção das populações de maioria russa que habitam o local, Moscou enviou “tropas de paz”. Para a presidente da Comissão Europeia, a atitude representou uma total violação do direito internacional. Potências ocidentais estão prometendo fortes sanções comerciais em reposta. A Alemanha, por exemplo, suspendeu a autorização para o gasoduto Nord Stream 2, tema que já abordei extensivamente em coluna anterior. Essa interrupção pode lançar a Europa numa crise energética ainda maior, principalmente elevando ainda mais o preço do gás natural, tão necessário para aquecer os lares durante o inverno. Entretanto, a pergunta que todos estão fazendo hoje é: afinal, haverá guerra?

Tudo vai depender da reação da OTAN e dos Estados Unidos. Eles podem “rifar” a Ucrânia, oferecendo apenas ajuda econômica e materiais bélicos, mas deixando que os ucranianos encarem o problema por conta própria. Porém, caso o Ocidente decida agir de forma mais direta, a coisa pode escalar.

Podemos tomar como exemplo o que aconteceu em 2014. O presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovycht caiu após uma série de distúrbios civis iniciados em Kiev, capital ucraniana. Isso abriu caminho para que chegasse ao poder um líder mais afeito ao Ocidente. Isso foi interpretado pelos russos como uma interferência ocidental. Em resposta, Moscou decidiu invadir a Crimeia, para garantir que a OTAN não assumisse o controle local e conquistasse vantagem estratégica. E assim ficou. Não houve uma escalada, uma vez que não foi organizada uma ofensiva para retomar o território conquistado.

No caso atual, resta saber se o Ocidente aceitará que a Ucrânia fique sem as regiões de Donetsk e Luhansk. Hoje, tudo parece indicar que sim, uma vez que o discurso crítico tem se resumido a sanções econômicas, e não a uma direta ação militar. Contudo, existe a possibilidade de o Kremlin optar por seguir até Kiev e fomentar uma troca de poder, instalando um novo governo pró-Rússia. Assim, impediria os ucranianos de continuar as tratativas para integrar a OTAN.

Esta seria uma manobra mais ousada, uma vez que, para os padrões europeus, a Ucrânia é um país de grandes dimensões territoriais e população maior de 40 milhões de habitantes. Essa opção poderia tornar-se muito cara, trabalhosa e provocar uma interferência direta da aliança ocidental, que seria capaz de envolver outras nações e criar uma instabilidade ainda maior. Putin também deverá escolher se está disposto a suportar as pesadas sanções econômicas, e que podem trazer grandes dificuldades para a população russa.

Uma eventual guerra será definida com base na decisão ocidental de “rifar”, ou não, a Ucrânia à sua própria sorte, assim como pelo tamanho da vontade russa de redesenhar a estrutura geopolítica da região. Independente de termos um conflito ou não, as consequências são claras, inclusive em nosso cenário doméstico. O Brasil conta com a importação de insumos para fertilizantes agrícolas, assim como de milho e trigo originários daquela região. Uma instabilidade generalizada no cenário europeu poderia interromper a recente valorização do real frente ao dólar e aumentar os índices de inflação, principalmente quanto ao preço dos combustíveis.

No final das contas, tudo dependerá do humor dos autocratas de plantão, e do tamanho de sua ganância. Que Deus nos proteja.

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