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O litoral paranaense oferece ostras de boa qualidade.
| Foto: Maryane Vioto Silva

O nosso litoral não só é rico em paisagens paradisíacas, como também somos produtores de ostras da melhor qualidade. Nos doces confins de Guaratuba, algumas famílias de Cabaraquara nos oferecem as melhores ostras do Brasil, uma das três melhores do mundo. No parecer de especialistas japoneses, a ostra nativa de Guaratuba, na parte sensorial, é das melhores do mundo. O que contribui para a rara qualidade são as características da região, com águas quentes e de estuário, que fornecem as condições ideais para o cultivo do fruto do mar, que tem grande valor nutricional.

Servida com espumantes, champanhes e vinhos, degustadores advertem: saboreie com os devidos cuidados, com muito gosto e sem moderação. Um verdadeiro e saudável drinque do mar que, como não podia deixar de ser, envolve certos riscos. A carne é fraca e a ostra deve ser consumida fresca. O maior segredo da degustação do molusco bivalve é a sua procedência. Não seja uma maria-vai-com-as-ostras. Quem tem juízo, compra direto do cultivo e dos pescadores. Ou então em restaurantes com fornecedores certificados.

As ostras também são lendárias pelo apetite sexual que proporcionam. Pai de todos os manezinhos da Ilha de Floripa, o falecido jornalista Aldírio Simões tinha a fórmula de uma garrafada batizada como “freio de mão”, composta com ostra, vinho tinto, pitadas de viagra e mentruz. Segundo Aldírio, dos que provaram do bálsamo energético, todos falam maravilhas da inusitada infusão: “Quem bebeu e foi para um bailão, nunca mais retornou.”

No litoral de Santa Catarina, maior produtor de ostras do Brasil, as mais saborosas são cultivadas na Ponta do Papagaio, ao sul de Florianópolis. Em águas paranaenses, o rico legado do rei Netuno está registrado num pequeno trecho (com livre atualização ortográfica) de um dos capítulos da obra de Antônio Vieira dos Santos, o pai da história paranaense: “Dos Peixes mariscos e crustáceos que povoam o reino de Neptuno, dentro das Bahias, Lagôas e Rios de Paranaguá”.

“Desde a mais remota antiguidade, sempre foram as baías de Paranaguá abundantes de pescados de todas as classes, pois que em muitas ocasiões foram levados socorros deste gênero à praça de Santos, Rio de Janeiro, Bahia e Colônia de Sacramento (Uruguai). (…) Parece que Netuno, esse Deus marítimo, junto à bela Dóris e às lindas ninfas Naiades e Nereidas, de propósito escolheram suas habitações nessas formosas baías, povoando-as com imensos peixes de diferentes formas e delicados sabores, que só o insigne Cuvier* poderia classificar. Os lugares mais piscosos das baías são em derredor das Ilhas das Peças, das Cobras, Cotinga, Rasa Grande e Pequena, Jurerê, Guararema e Teixeira, em diferentes canais das baías, em lugares especiais de suas margens, onde turbilhões de peixes entrando do grande oceano pela barra adentro se encontrarão naqueles lugares. Principalmente na barra do Sul, entre os meses de maio até agosto. São ocasiões em que entram do Sul milhares de tainhas em corrida. É então o tempo mais divertido, para quem quiser ver o modo e a maneira como os pescadores dão os seus lances de rede em que apanham dois, três, até doze mil peixes. (…) Grande é a bondade divina, mostrando aos homens a imensidade de sua grandeza. (…) As baías de Paranaguá são abundantíssimas de muitos mariscos que serviram de principal alimento aos primeiros índios carijó, como ainda hoje se vê das grandes ostreiras e sambaquis de cascas de ostras e berbigões que eles fizeram. Substancioso alimento, temos ainda grandes ameijoas, os berbigões, bacucus, sururus, ou mexilhões, os camarões e finalmente os caranguejos: desde dezembro até março eles são tão numerosos que, nas fases da Lua, cobrem as praias e facilmente milhares deles são colhidos com as mãos, depois carregados em cestos e canoas cheias. É por tudo isso admirável a grandeza Daquele Onipotente que tudo criou”.

*Georges Cuvier foi um naturalista e zoologista francês da primeira metade do século XIX. É por vezes chamado de “Pai da Paleontologia”.

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