Opinião

Bras(is)

28/01/2022 17:53
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Acabo de retornar de mais uma viagem Brasil adentro, desta vez à Floresta Amazônica. Responsável por 20% da água doce e 15% da biodiversidade de todo o planeta, a Amazônia tem ainda 60% de suas espécies desconhecidas. Um verdadeiro tesouro no qual, não hesito em afirmar, reside o futuro do Brasil.
É uma missão de cada brasileiro a defesa voraz pela proteção de tamanho patrimônio! Faz-se necessário valorizar os diferentes saberes e fazeres que traduzem a alma de cada local. Não deve existir uma única forma de expressão no que tange à música, à arte, à arquitetura e ao design.
É de suma importância entendermos quem de fato somos nós. Não no sentido particular, ego-centrado de cada um, mas no sentido mais amplo. De onde se origina o solo em que pisamos? Quem esteve por aqui anteriormente? Quais os pontos mais representativos de nossa cultura?
Para tanto acredito que políticas públicas e instituições de ensino precisam construir uma maior diretriz para a construção do orgulho de ser brasileiro.
Acabo de ler sobre a formação da nação Itália, que diferentemente do que muitos possam imaginar, se delineou no decorrer dos últimos 150 anos, período posterior à Unificação Italiana. Por lá, houve uma diretriz maior, por parte do governo, para a construção e entendimento do que era o SER italiano.
O poder de um governo pode ser fundamental para a transformação de uma nação. Estive há pouco tempo na Coréia do Sul, convidado pelo governo para uma palestra sobre Design. Por lá, o design faz parte de uma linha guia sobre o desenvolvimento do país. Talvez por isso tenham se transformado tanto, desde a década de 1980, quando figuravam ainda como uma das mais pobres nações mundiais. Hoje o país é a 11ª economia mais rica do mundo.
Acredito que a valorização de tal pluralidade, o respeito às diversidades e a valorização de nossa cultura e biomas são o caminho correto para o desenvolvimento sustentável.
Trazendo o tema para o mundo do Design, motivo dessa coluna, talvez um maior conhecimento de toda a envergadura de nossas diferentes culturas nos leve a uma criatividade ainda mais plena e única. Não é possível por exemplo designs de produtos (ou de interiores) similares criados por designers de regiões tão diferentes do Brasil.
Meu sonho é observar, cada vez mais, um design cearense que explore a beleza de seu sertão e de suas praias. Um design paraense e/ou amazonense que explore as cores e biodiversidade da Floresta Amazônica.
Acredito que o Brasil precisa de um processo interno de colonização. Cada estado valorizando suas próprias raízes. Produtos de design que expressem uma cultura plural oriunda dos diversos Brasis. Uma casa brasileira que represente o costume, o clima, a forma de ser de cada um de seus habitantes.
Voltando à Itália, que cito por ser considerada uma das maiores capitais do design e da cultura, temos por lá a valorização das diversas Itálias. O saber fazer em madeira oriundo do Vêneto, a alta industrialização da Lombardia, o trabalho do couro “vera pelle” oriundo da Toscana e assim sucessivamente.
Tenho aprendido a alimentar minha criatividade a partir dessa pluralidade brasileira. As diversas etnias oriundas principalmente de índios, negros, europeus. Os diversos biomas continentais e marinhos. Enfim, um verdadeiro caldeirão cultural que gera um turbilhão de ideias.
Não por acaso, não me canso de ler bibliografias sobre o (nosso) compositor Heitor Villa Lobos. Compositor de fama global e alma local, compôs mais de 2 mil obras que eternizaram a cultura brasileira. Porém, como grande conhecedor da música europeia, agregou as formas clássicas europeias ao regionalismo brasileiro em suas composições chamadas Bachianas Brasileiras. Nelas, eternizou o “Trem Caipira”, o “Canto do Sertão” e a “Floresta do Amazonas”.
Em suas palavras, dizia: “Eu não uso o folclore, eu sou o folclore.” Que possamos, cada vez mais, transcender nossas criações à porta estandarte de nossa(s) cultura(s). Meu maior desejo para 2022 é a formação de um governo que valorize nossa maior riqueza, nossos diversos Brasis.