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Raízes- Design Filosófico
| Foto: Divulgação

Chapéu Panamá, apesar do nome, é oriundo do Equador. Historicamente, sua produção iniciou-se na região de Montecristi, por volta de 1.500. É produzido a partir da “Paja Toquilla”, uma palha de palmeira de trama bem fechada. É feito pelas mãos de camponeses descendentes de índios da Região. Sua confecção pode demorar até três dias. Recebeu o nome de Chapéu Panamá por ser utilizado pelo presidente Roosevelt em suas visitas às obras do Canal do Panamá (uma injustiça histórica tal denominação, na minha opinião).

O Brunello di Montalcino é um vinho produzido na Itália, mais especificamente na região situada ao Sul da cidade de Siena. É, necessariamente, composto por 100% da Uva Sangiovesse tipo Grosso. Envelhecido em tonéis de Carvalho Eslovaco (os tops) de 25 a 50 hectolitros. Dentre toda a região de Montalcino, chamada Castelnuovo dell Abatte, é a mais diferenciada em função de sua geografia e consequentemente de seu terroir. A safra de 2010 é considerada a melhor do milênio, em função de um verão estável, com muita luz e calor.

Poderia ainda falar sobre outros casos, nos quais a tradição e a origem geraram fortes e atemporais marcas. Tais como o charuto cubano, mais especificamente o Cohiba; ou ainda o ginseng, oriundo da Coreia do Sul. Em todos os casos acima existem variantes. Produções dos mesmos produtos, porém fora dessa exata localização geográfica, produzida em outros terroirs ou por diferentes mãos artesãs ou com menos histórias, e por consequência, menos valorizados. O simples fato de se distanciar da origem e tradição desvaloriza o custo e valor percebido.

Ok, e exatamente onde este colunista que deve escrever sobre design quer chegar? Outro dia uma jornalista internacional me perguntava como era criar o produto brasileiro. Qual a chancela? Imediatamente respondi: “Depende de qual Brasil estamos falando.”

Nosso Brasil é muito rico quando falamos deste certificado de origem. Seja em função da cultura e história do seu povo, seja em função de sua geografia e iconografia. Isso é maravilhoso! Um terreno fértil para qualquer criativo.

Nos últimos anos venho me alimentando dessa riqueza da diversidade brasileira. Levei para Milão a Coleção Cariri, local do interior do Ceará cheio de mestres de ofícios e de um (ser) tão bonito. Retratos pintados pelo Mestre Abdon, escultura do Mestre Noza, a fé e proteção de “padim” Ciço.

Em 2018, levei as belezas do Tocantins. O capim dourado, o fervedouro e o deserto do Jalapão estiveram presentes desde a concepção dos produtos à estética do sstande. E, por fim, em 2019, me inspirei na beleza da geografia e do entardecer de Fernando de Noronha. Esses diferentes tipos de certificado de origem brasileiro têm me alimentado no âmbito criativo.

Minha última coleção foi baseada nas Rendas Brasileiras. Um trabalho a quatro mãos com diversos artesãos de diferentes origens. Uma co-criação na qual se mistura a minha história e a história de cada um deles. Muitas vezes, me parabenizam pelo trabalho “benevolente”. De imediato não sei se agradeço o “elogio”. Será que sou eu o “benevolente” por emprestar um pouco da alma desses portadores de história do fazer manual brasileiro?

Pedro Franco - Design Filosófico
@pedrofrancodesign | Divulgação
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