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O futuro do trabalho será líquido

James Cichy

Força de trabalho

O futuro do trabalho será líquido

09/05/2022 22:29
Uma das principais características da transformação digital, sobre a qual já escrevi a respeito aqui, é a agilidade. O que as empresas têm feito – ou, ao menos, deveriam estar fazendo – é aproximar seus processos cada vez mais da cultura das startups, no sentido de não ter medo de falhar e testar rápido para, se necessário, corrigir rápido. Essa agilidade está muito atrelada à flexibilidade, à resiliência, em especial em tempos tão incertos, e, é claro, à tecnologia.
Nesse contexto, surge um conceito que, ao que tudo indica, vai definir os processos profissionais no futuro. Trata-se da “força de trabalho líquida”, ou, em inglês, liquid workforce. Artigo da Accenture explica que, do ponto de vista da organização, lançar mão da força de trabalho líquida significa organizar as equipes para que os profissionais possam se adaptar e mudar rapidamente, levando dinamismo ao ambiente de trabalho e fomentando a colaboração.
Ela está baseada, portanto, em projetos, reunindo times temporários e multidisciplinares voltados a atender a uma demanda específica. De acordo com a Accenture, a maior diferença entre a força de trabalho tida como “tradicional” e a força de trabalho líquida está no fato de que esta é multifacetada, marcada por um grande nível de autonomia e um forte senso de cocriação.
Essa lógica também acaba permitindo que pequenas e médias empresas possam contar com profissionais altamente especializados para a definição da estratégia e execução de um projeto, que muito provavelmente a organização não conseguiria contratar para um emprego full-time. Limitações geográficas também são eliminadas ou minimizadas, pois empresas têm usado a nuvem e outras tecnologias que permitem níveis mais altos de produtividade e trocas de habilidades sem que as restrições em relação à localização possam atrapalhar o andamento das atividades.
A companhia holandesa especializada em soluções de trabalho flexível e Recursos Humanos Randstad já previu que até 2025 69 % da força de trabalho será composta por trabalhadores ágeis e não tradicionais. Frise-se que, neste contexto, um negócio verdadeiramente líquido seria aquele no qual apenas a diretoria e o alto escalão da instituição poderiam ser classificados como “membros permanentes” do quadro de funcionários. Os demais seriam freelancers pontuais, chamados para participar de iniciativas para as quais seus conhecimentos são imprescindíveis.
Hoje, porém, já está nítida a possibilidade de estender a utilização da força líquida de trabalho também para escalões diretivos. Por isso, a viabilidade da liquid workforce amplia o leque de profissionais que podem ser contratados em todo o mundo, sob demanda. Há plataformas e empresas destinadas a intermediar o primeiro contato entre especialistas e companhias, como a BBX, para que o profissional certo seja encontrado. E para que essa relação dê certo, deve-se definir claramente o projeto, incluindo propostas detalhadas de entrega, qualificações, experiência de trabalho exigidas e, por último, mas não menos importante, o pagamento de cada profissional.
Os fluxos de trabalho baseados em projetos pontuais ainda reduzem custos para a empresa, que vão de obrigações trabalhistas ao gasto com aluguel de escritório, já que a tecnologia tem tornado possível contratar profissionais que estejam em qualquer lugar do mundo. A qualidade do serviço também é impactada positivamente. Por se tratar de profissionais especialistas nas áreas em que são contratados, os trabalhadores líquidos se tornam mais assertivos em suas tarefas e buscam entregar um trabalho de alto nível, até mesmo visando a contratação em projetos futuros.
É claro que, como em toda revolução que promete abalar as estruturas tradicionais do mundo profissional, de convenções consolidadas há décadas, há pontos de divergência. Muitos defendem que o formato desprotege e precariza o trabalho. No caso do Brasil, sindicalistas alegam que, sem os direitos apoiados na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada ainda na década 1930, durante a Era Vargas, existe o perigo de os brasileiros voltarem um século no que afirmam ser uma “evolução dos direitos trabalhistas”. De outro lado, defensores da força de trabalho líquida afirmam que o formato traz mais flexibilidade, cria mais empregos e de forma mais rápida, o que é bastante positivo ainda mais em tempos de pós-pandemia.
A discussão é válida e deve ganhar força nos próximos anos. Acredito, contudo, que se trata de um caminho sem volta, ainda mais por conta da chegada da chamada Geração Z, os nascidos a partir do fim da década de 1990, ao mercado de trabalho e para quem a jornada fixa de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, parece não fazer mais sentido.

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