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O Jornal Hoje desta quarta-feira começou com o áudio de uma briga entre o menino Bernardo, assassinado em abril deste ano, e os pais. A apresentadora destaca os pedidos de socorro do garoto. Mas isso não me choca tanto. O que me deixa angustiada, com um nó na garganta, são as ameaças feitas pela madrasta ao menino e a omissão do pai diante da discussão. Quando ele se manifesta, é para se juntar à mulher e ridicularizar Bernardo.

Essa foi só uma cena gravada pelo pai. As agressões, pelo que se sabe, eram constantes e o abandono, uma realidade. Imagino o quanto esse menino sofreu por não encontrar no pai o protetor que deveria ter e por a madrasta ser uma adversária dentro da própria casa.

Pena que não podemos voltar no tempo. Agir de alguma maneira efetiva para ajudar o menino e a família. Mas podemos fazer algo por outros tantos bernardos que existem por aí — considerando-se a quantidade de casos de crianças mortas pelos próprios pais, não são poucos.

Agora chegamos onde eu queria, na Lei da Palmada. Muita gente que critica a legislação nunca se deu ao trabalho de ler o que está escrito lá. Para quem tem curiosidade, segue o link.

Em resumo, com essa lei o Estado passa a ser claramente contra à educação por meio violência — física, verbal, psicológica. E, ao colocar como consequência aos pais pegos batendo e humilhando os filhos o encaminhamento para tratamento psicológico, programas de proteção e orientação familiar, ele se apresenta como um ponto de apoio às famílias.

E o Estado tem que se intrometer nisso? Não só o Estado, a sociedade toda tem de se intrometer. Quando vejo casos como o do menino Bernardo, como o da menina Rafaela Trates, dos irmãos de Osasco João Vitor e Igor Giovani Santos, eu tenho mais certeza disso. De que adianta ficarmos indignados depois que os crimes ocorrem, se a gente não fez nada para proteger essas crianças e resgatar essas famílias, antes que se chegasse a esse ponto?

Porque um longo histórico de agressões está por trás da morte dessas crianças. E em algum momento elas gritaram por socorro. Mas ninguém  quis se meter. E aí está o perigo naquela frase inocente que você, eu, a vizinha e tanta gente diz: “o filho é meu e eu crio como bem entender”.

Não é bem assim. Os nossos filhos não são nossa propriedade. Eles fazem parte de uma sociedade e devem ser protegidos pelo Estado e por todos nós. Essa proteção envolve também impedir a agressão como forma de educar e corrigir, envolve se intrometer. O pai/mãe pode até achar ruim na hora, mas depois vai te agradecer.

Se pensarmos bem, a agressão é mais uma forma de descontarmos nossa frustração e fúria naquele ser que, mesmo mais frágil, nos desafia. Em alguns momentos, é difícil de se segurar. Eu já bati no José e não foram poucas vezes. Hoje eu me arrependo muito e agora agradeço todas as vezes que o Emerson, minha mãe ou qualquer outra pessoa se intrometeu e me impediu de bater nele.

Muito bom seria se todos nós tivéssemos alguém que segurasse nossas mãos num momento de fúria e que nos falasse para pensar por dois segundos antes de iniciar a bronca. Criar filhos não é fácil. Fazer isso bem sem apoio e numa sociedade violenta, fica ainda mais difícil.

Vejo a Lei da Palmada como uma oportunidade para mudarmos esse quadro. Ajudar os pais a carregarem o peso da criação dos filhos, ouvir os pedidos de socorro das crianças e agir a tempo, com certeza, ajudará a evitar mais casos como o do menino Bernardo.

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obs.: Criação sem violência não quer dizer criação sem firmeza. Devemos ser firmes e claros nas regras. Educar assim é difícil, mas é melhor caminho a seguir.

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