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Tóquio e Curitiba: custo de vida

Estamos costumados a comparar o custo de vida do Brasil com o de outros países. É comum a afirmação de que o Brasil está caro. Talvez, em certa medida, esteja, como explicaram um post da Forbes (clique aqui) sobre a vida no Brasil comparada com a Europa e o Big Mac Index, da The Economist (clique aqui).

E como seria a comparação com o outro lado do mundo? Como é a vida em Tóquio? Pedi que meu ex-aluno  Eduardo Mesquita Pereira Alves, pesquisador na Universidade de Tóquio, advogado, formado em Direito pela UFPR, sócio da Sunyé, Pereira Alves e Oliveira Viana – Sociedade de Advogados, blogueiro, revelasse como vem sendo sua vida no Japão. Enviou-me alguns artigos e publicá-los-ei aos poucos.

A leitura é agradável. Leia abaixo seu relato.

Durante muito tempo Tokyo ocupou o posto de cidade com o maior custo de vida no mundo. Em 2014 a cidade foi não apenas “destronada” por Cingapura, que agora ocupa o topo, como perdeu 5 posições, ficando atrás de Paris, Oslo, Zurique e Sydney, ocupando agora o sexto lugar  junto com Caracas, Genebra e Melbourne (dados retirados do último relatório do The Economist Inteligence Unit cujo resumo pode ser conferido aqui).

Mesmo com a perda de posições, as estatísticas do custo de vida em Tóquio ainda são um pouco assustadoras. Entretanto, esses dados médios nem sempre correspondem ao que efetivamente se experimenta ao viver no local, especialmente considerando que os preços variam até mesmo dentro da cidade, conforme a região, a distância do centro e etc. E claro, estudantes sempre tem um jeito de viver com muito menos que o cidadão comum.

O objetivo dessa análise é passar uma visão geral dos custos na cidade e como eles se comparam aos custos no Brasil. Comento ainda um pouco de como contorno esse custo de vida alto com opções mais baratas que a média.

Antes de entrar nos números, preciso mencionar que utilizei os valores gerais com base em um site muito interessante chamado Expatistan, que compara o custo de vida em várias cidades do mundo. Vou utilizá-lo como base para essa comparação, mas já aviso que é confiável para uma visão geral, mas pequenos erros e a existência de uma margem de erro é inevitável em uma pesquisa de preços que não segue métodos rigorosos.

Segundo o site (link aqui), Tokyo é no geral 72% mais cara que Curitiba (e apenas 29% mais cara que São Paulo). Como sou de Curitiba, vou usar a cidade como base de comparação, mas para quem quiser ver como seria em sua cidade, basta acessar o site e alterar o critério de busca.

Ps.: Nas tabelas o primeiro preço, em Iene, é o de Tóquio, o segundo de Curitiba, e o terceiro número é o quão mais caro (+) ou mais barato (-) é Tóquio em comparação com Curitiba.

Ps.2.: No momento da elaboração dessa lista minha renda era de ¥146.000. O suficiente para sobreviver e, fazendo um bom de controle de gastos, é possível até guardar um pequeno valor.

Alimentação: Tokyo é 63% mais cara que Curitiba

Como podemos observar pela tabela, só o combo do Big Mac é mais barato em Tokyo. Porém, é sempre possível se alimentar com qualidade abaixo do custo médio

Como estudante, tenho acesso aos restaurantes e refeitórios da Universidade de Tóquio (que a bem da verdade são abertos à comunidade em geral), onde uma refeição varia de algo em torno de ¥ 320 (R$7) à ¥510 (R$11,20). Para café da manhã ou lanche, costumo me ater a um pacote com 8 fatias de pão de leite, na faixa de ¥98 (R$ 2,15) e 7 fatias de queijo (processado), em torno de ¥180 (R$3,95). Para quem cozinha é possível economizar mais, mas a despeito da escolha de refeição, a maioria dos estudantes consegue manter os gastos com refeição próximos a ¥ 1000.

Habitação: Tokyo é 63% mais cara que Curitiba

No meu caso o custo é evidentemente menor. Moro em uma quarto de 15m²(com banheiro) no The University of Tokyo International Lodge Komaba Lodge, cujo aluguel custa ¥48.900, mais ¥ 1.500 pelo uso das áreas comuns, ¥1.200 pela internet e ¥ 2.000 pelas “utilidades” (energia elétrica e etc) das áreas comuns.

Uma das questões mais interessantes no alojamento é a cobrança de água, gás e energia elétrica dos quartos individuais, feito a partir de um sistema pré-pago. São cargas de no mínimo ¥1.000 em uma central no próprio alojamento, e os valores depositados são controlados em um contador instalado na parede do quarto. O contador diminui de  ¥100 em  ¥100, e é uma forma bem prática de ter uma noção mais precisa do custo de um banho, ar condicionado e eletrônicos.

Vestuário: Tokyo é 26% mais barata que Curitiba

Esse é o único ponto em que Tokyo é mais barata que Curitiba: vestuário (especialmente de marcas conhecidas). Ressalto ainda que até mesmo as roupas que não são de marcas “genéricas” também costumam ficar mais em conta por aqui. De camisetas e camisas de que custam o equivalente a R$ 10 ou R$ 20 reais na Uniqlo, até as peças de vestuário de segunda mão, que são muito populares no Japão.

Transporte: Tokyo é 53% mais cara que Curitiba

No Japão, o valor da passagem de trem, metrô ou ônibus varia conforme a linha, distância e companhia. Por exemplo, do local onde moro até a estação de Shibuya, por meio da linha Inokashira operada pela empresa Keio, são  ¥124, os mesmos exatos R$2,70 que é a passagem de ônibus em Curitiba, porém, para percorrer meros 1,8 km. Os 9km de Shibuya até a Universidade de Tokyo custam, por outro lado,  ¥195 (R$4,26), trajeto esse que exige o uso de duas linhas de metrô (Ginza e Marunouchi), e um total quase R$ 14,00 ida e volta.

Cuidados Pessoais: Tokyo é 53% mais cara que Curitiba

Na questão dos cuidados pessoais, de fato, a média é cara mas é possível pesquisar e economizar substancialmente. É possível encontrar cortes de cabelo de até ¥ 1000, ou seja, menos da metade do valor normal Com uma boa pesquisa os demais produtos podem sair na mesma faixa do Brasil. São gastos que não podem ser evitados, afinal não é possível deixar na saúde e higiene em segundo plano, então uma boa pesquisa de preços é importante.

Entretenimento e Socialização: Tokyo é 37% mais cara que Curitiba

Apesar do nível e qualidade do entretenimento em Tokyo, em geral socializar por aqui não fica muito acima dos valores praticados no Brasil. De fato cinema e peças teatrais são supreendentemente caros, mas outras opções de entretenimento podem ser bem razoáveis.

O que pode ficar realmente caro é sair a noite com os amigos da Universidade ou happy hour com os colegas de departamento. Não que que os bares e restaurantes sejam caros, Cerveja, por exemplo, não sai por menos de 10 reais na grande maioria dos bares, mas sempre existem opções de ¥300, basta saber procurar e não se preocupar muito com a qualidade, além de aguentar o beber em pé em alguns casos. O problema é os colegas japonesas de departamento (ao menos os meus e de muitos amigos) não se esforçam para procurar locais baratos, pelo contrário, parecem escolher o pior custo benefício, e para aumentar o drama, dividem a conta ao final em vez de separar os gastos. Ou seja, o custo está mais relacionado aos hábitos que ao preço objetivamente.

Além disso, me interessa nesse aspecto de entretenimento especialmente o valor do café, que consumo bastante. São muitos estabelecimentos de alta qualidade especializados em Tokyo, e os valores não ficam longe dos praticados no Brasil, o que surpreende considerando que todos os grãos são importados.

Por fim, quanto ao celular, o instrumento por excelência de socialização no Japão, não conheço bem as tarifas, mas utilizo um plano da operadora Softbank com ligações ilimitadas para celulares da mesma companhia, internet 4G pelo valor de ¥6.000, ou seja, cerca de R$ 130,00. Não foge muito dos valores no Brasil objetivamente, mas a qualidade do serviço é muito superior.

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O blog Dinheiro Público agradece a contribuição do Eduardo. Mais artigos sobre o Japão serão publicados até o final do mês.

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