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fascista
Vladimir Putin em missa na Catedral de Cristo Salvador em Moscou, em maio de 2021| Foto: SERGEI GUNEYEV/

O ditador russo Vladimir Putin diz que quer "desnazificar" a Ucrânia, justificativa usada por ele para bombardear escolas que servem de abrigo para civis e maternidades com bebês e grávidas dentro. Pura propaganda do Kremlin. Já que o nazismo está impresso no imaginário coletivo, e em especial no da população russa, como o mal absoluto, até o massacre de inocentes torna-se justificável para combatê-lo.

O governo de Volodimir Zelensky, judeu, não é nazista ou fascista, como já foi amplamente demonstrado. Existem elementos neonazistas na sociedade ucraniana como há em qualquer país da Europa e também na Rússia.

Mas o que tem chamado a atenção são as marcas fascistas na própria operação militar da Rússia na Ucrânia e na estética e nas mensagens da propaganda de guerra do Kremlin.

A letra Z, que inicialmente aparecia pintada nos tanques russos usados para invadir a Ucrânia, vem sendo considerada a suástica de Putin, pois foi incorporada por seu regime em vídeos de cunho nacionalista de promoção da guerra e em camisetas de apoiadores.

Um desses vídeos mostra um grupo de civis russos enfileirados em uma praça, como se estivessem se preparando para um protesto, enquanto camburões pretos se aproximam em alta velocidade. De dentro, saem policiais da tropa de choque, munidos de cassetetes. Desumanizados, seus rostos escondidos sob os visores escuros de seus capacetes, eles são como robôs a serviço da repressão do Estado. Mas então vem o plot twist: os policiais se misturam entre os civis e, em vez de espancá-los, alinham-se com eles e dão-lhes os braços. A câmara sobe e mostra a cena do alto. As fileiras dos policiais e civis russos formam o símbolo Z. A referência sombria à estética fascista é evidente.

Os símbolos e a propaganda de guerra, a mensagem de purificação da sociedade contida em discurso de Putin na semana passada e o seu belicismo. Tudo isso remete ao nazifascismo, mas é algo diferente. E não necessariamente melhor.

Como já expliquei antes, a ideologia fascista existiu como um evento histórico único, com características específicas, difíceis de serem repetidas na íntegra. Listei as principais delas com base nos livros Fascistas, do sociólogo inglês Michael Mann (Editora Record), e Enzyklopädie des Nationalsozialismus (editora DTV, sem tradução no Brasil): anticomunismo, antiliberalismo, antidemocracia, nacionalismo extremo, imperialismo racial, culto ao líder, monopólio de um partido forte, paramilitarismo, criação de um Novo Homem e a ambição de transcender à luta de classes.

Desses dez itens, Putin e seu regime cumprem quatro: antiliberalismo, antidemocracia, nacionalismo extremo e culto ao líder.

Putin não é anticomunista. Ao contrário, ainda que não possa ser chamado de comunista, ele é em grande parte movido por uma nostalgia do poder da Rússia no período do socialismo soviético. Trata-se inclusive de um dos motivos para ele ter iniciado essa guerra.

Apesar de sua retórica de cunho étnico, dizendo que ucranianos e russos são "um único povo", o que deveria impedir que os primeiros se unam ao Ocidente, o imperialismo de Putin não é racial como o do nazifascismo, no sentido de que não tem como finalidade a aniquilação de minorias dentro e fora de suas fronteiras.

A ditadura de Putin não é construída em torno de um monopólio de um partido forte. Rússia Unida, o partido que dá sustentação ao seu governo, é um grande saco de gatos sem ideologia definida. O único propósito é a manutenção do poder e, assim, garantir os privilégios e a roubalheira da classe política e dos oligarcas.

Exceto por grupos armados de fachada para operações extraoficiais das forças russas, Putin não investe na paramilitarização da sociedade, como fez, por exemplo, Hitler. Ao contrário, o russo prefere manter a população apática e apartada de atividades políticas ou militância de qualquer tipo, civil ou militar. O objetivo é que essa mobilização não se volte contra ele.

Por fim, o regime de Putin não tem qualquer aspiração revolucionária, inexistindo as ambições de se criar de um Novo Homem (evolução ou melhoramento do atual) e de transcender à luta de classes, como havia no fascismo histórico.

Nada disso, Putin quer mais é voltar para o passado. Ele mira na reconstrução de glórias antigas, quando a Rússia era um império monarquista ou um império socialista.

O pesquisador Richard Shorten, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, define Vladimir Putin muito apropriadamente como um "tirano reacionário". Ele se caracteriza por acusar outros países de decadência moral para ocultar o fato de estar à frente de uma potência decadente; por seu conspiracionismo doentio e pelo ressentimento histórico.

Putin é como aqueles desajustados sociais que se armam até os dentes e promovem massacres a tiros em escolas americanas. Eles se ressentem por não serem respeitados como acham que deveriam, são dominados pela paranoia e por fim se vingam de maneira covarde e brutal contra pessoas sem meios para se defender.

A Rússia é uma potência decadente que possui um arsenal de bombas nucleares. Só por isso Putin consegue impor "respeito e aterrorizar países vizinhos impunemente.


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