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Friends holding up thought bubbles with social media concept icons
Friends holding up thought bubbles with social media concept icons| Foto:

Imagine uma cena comum no intervalo de qualquer escola: alunos e alunas com celulares em punho, trocando mensagens e rindo dos memes compartilhados. Toca o sinal, todos de volta à sala para a aula de língua portuguesa para aprender a identificar e interpretar os diversos gêneros literários entre livros e apostilas. Mas e os memes? Também são textos? Já que os jovens gastam tanto tempo produzindo conteúdos diversos em suas redes sociais – posts, fotos, vídeos –, essas linguagens deveriam ser inseridas no currículo escolar? A digitalização da comunicação trouxe novos tipos de gêneros textuais?

A resposta para todas essas perguntas é a mesma: sim. E quem diz isso é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino fundamental, aprovada no fim de 2017. Dividido por competências gerais, o texto considera conhecimentos, habilidades, atitudes e valores fundamentais para a vida em sociedade no século 21. Algumas dessas competências referem-se, inclusive, à fluência digital, e compreendem as habilidades necessárias para analisar e publicar informações no ambiente digital de forma crítica, ética e responsável.

Assim, preparar as crianças e os jovens para aprender com senso crítico e responsabilidade é mais complexo do que parece, por um simples motivo: as formas pelas quais consumimos informação e produzimos conteúdo mudaram radicalmente nas últimas décadas. Neste mundo de hiperconectividade, é necessária uma nova abordagem porque se antes éramos apenas receptores, hoje também ocupamos o lugar de produtores de dados e informações. Publicar textos, editar vídeos, postar fotos, criar um blog ou um site nunca foi tão fácil, e as possibilidades são infinitas — inclusive de disseminar conteúdos falsos e maléficos.

A escola, portanto, não pode se isolar desse contexto. Aprender em um mundo conectado subentende um conjunto de habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos — dos impressos aos digitais. A isso, damos o nome de educação midiática, também conhecida como alfabetização midiática. E é justamente esse conceito que a BNCC exige a partir de agora, especialmente na parte de língua portuguesa do documento — mas não só nela, pois as outras disciplinas não podem ser excluídas desse cenário.

A educação midiática pressupõe questionar fontes de dados, suspeitar da procedência de uma informação, manusear os diferentes gêneros digitais e dominar o conceito de credibilidade, entre outras habilidades que transformam o ato de ler em algo que exige interpretação, criticidade, autonomia e até uma pitada de investigação. Dominar as novas ferramentas e linguagens e formar novos leitores (e escritores) em meio a um mundo perpetrado por desinformação são grandes desafios, porém podem se transformar em realidade a partir do momento em que tivermos a consciência de que educar para a informação é uma decisão nossa como sociedade.

Que tipo de sociedade queremos? Se nossa escolha for por cidadãos livres e capazes de fazer escolhas conscientes, não podemos ignorar a urgência da educação midiática como tema central nas escolas. Precisamos transformar a relação dos jovens com o conhecimento, para que saibam aprender a aprender — e, para isso, os professores obviamente são fundamentais, e necessitam de apoio, formação, material e conteúdo para colocar a BNCC em prática nesse mundo digital que não para.

*Mariana Mandelli é antropóloga, jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta, entidade que lidera o EducaMídia - Programa de Educação Midiática. Isabella Galante é estudante de jornalismo na Universidade de São Paulo (USP) e estagiária do Palavra Aberta
O Instituto Palavra Aberta colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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