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Arte, exposições e memes: a inesgotável fonte de criatividade para a escola
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A exposição “Tarsila Popular” bateu recorde de público ao receber mais de 402 mil visitantes entre abril e julho deste ano. Ao longo do período, multiplicaram-se as selfies e outros registros fotográficos nas redes sociais e a #tarsiladoamaral alcançou 37,5 mil postagens no Instagram.

Quem visitou o Museu de Artes de São Paulo (MASP) nos últimos meses foi obrigado a ser paciente e perseverante. Teve de lidar com as filas, se espremeu e revezou com outras milhares de pessoas na busca do ângulo mais favorável e da melhor pose para capturar imagens de uma das 92 obras em exibição.

Antes vetadas nestes espaços, as fotos não apenas estão sendo gradativamente autorizadas, como estimuladas em boa parte dos principais museus ao redor do mundo. Uma das iniciativas mais conhecidas é a do Metropolitan Museum of Art (Met), em Nova York, que criou um departamento especializado em promover estratégias voltadas às redes sociais.

Em São Paulo, o Museu da Imagem e do Som (MIS) e o Instituto Tomie Ohtake também estão na vanguarda neste tipo de ação. Mais do que flexibilizar e autorizar os registros imagéticos, eles criam espaços temáticos para que os visitantes possam se posicionar e interagir com as obras.

Museu e educação 

Visitas a museus são comuns durante os ensinos fundamental e médio, sobretudo nas grandes cidades. As excursões, por exemplo, que com frequência estão relacionadas ao conteúdo de alguma disciplina ou podem simplesmente ser planejadas com o objetivo de oferecer uma experiência para além dos muros da escola, cumprem outras finalidades no processo de formação dos alunos: conhecer a nossa história, a valorização da memória e do conhecimento, o estímulo às práticas culturais etc.

Apesar da importância e do caráter pedagógico, o resultado destes eventos nem sempre são bem-sucedidos. Diante de artefatos, quadros, objetos, esculturas... que, em princípio, não possuem aderência com sua realidade imediata, os jovens espectadores, não raro, encontram dificuldade de interagir e de vivenciar a esperada relação de transcendência no contato com as obras.

As estratégias que estão sendo adotadas por tais espaços, que contemplam e permitem o uso de smartphones, podem contribuir para a promoção de um diálogo maior e mais efetivo entre estudantes e museus. Cada vez mais presentes no cotidiano de crianças e adolescentes, os dispositivos comunicacionais seriam utilizados para mediar e facilitar a relação entre os contempladores juvenis e o conjunto de manifestações culturais em exibição.

Caberia ao professor a elaboração e aplicação de atividades educativas, como: desafiar os alunos a registrar, montar e publicar perspectivas individuais a respeito das exposições; propor a utilização de aplicativos dirigidos; ou ainda sugerir a realização de pesquisas na internet sobre os acervos, fatos e nomes dos artistas antes, durante e depois das visitas.

Memes e obras de arte

Os memes na internet são, sem dúvida, um ponto de conexão cultural entre jovens e obras de arte. A linguagem das redes sociais, recheada de paródias e montagens, costuma usar clássicos das artes visuais como matéria-prima para a "zoeira". Vejamos alguns exemplos:

A obra “Arcanjo Gabriel expulsa os anjos rebeldes do Paraíso” (1652), pintura em óleo de Luca Giordano, costuma ser utilizada nos memes com a legenda “sambando na cara das inimigas”. Ou seja, o quadro renascentista é capaz, a partir das interações em plataformas como Instagram e Twitter, de reorientar sentidos e representar a vida de jovens do século 21. Sambar na cara das inimigas significa, no caso, “se sair bem” frente aos adversários, como o fez Arcanjo Gabriel na tela do artista italiano.

Talvez a célebre pintura, “Amor Desarmado” (1885), do pintor francês William Adolphe Bouguerea seja a principal referência entre as obras de arte que se tornaram memes.

O célebre “me solta” é diariamente utilizado nas redes sociais por estudantes para provocar, debochar e brincar com situações da vida cotidiana. Reside nessa dinâmica um amplo material para que professores, a partir da “zoeira”, instiguem os jovens a entenderem o contexto e a inspiração para o original,  “Amor Desarmado”, de William Adolphe Bouguerea.
A capacidade inventiva da internet permite que os jovens extrapolem os limites físicos e temporais de uma obra — nos exemplos acima, que datam séculos passados — para que possam tratar de assuntos do dia-a-dia.

A interação entre as obras de artes e a “cultura da internet” contribuem para que os estudantes exercitem a postura contemplativa sem abrir mão da criatividade e de uma atitude mais ativa. Os memes são formas de apropriação, que reinterpretam e ressignificam o sentido original de pinturas e esculturas.
É nesse sentido que o museu se torna ambiente fértil para que estudantes simbolizem a vida cotidiana a partir da história narrada em exposições. Os docentes podem, assim, aproveitar dessa mediação para estimular a pesquisa sobre “qual a origem” da obra de arte que se tornou meme e assim por diante.

*Texto escrito por: Douglas Calixto, jornalista, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA-USP. A dissertação “Memes na Internet – entrelaçamentos entre Educomunicação, cibercultura e “zoeira” de estudantes nas redes sociais” rendeu o prêmio de melhor mestrado da ECA-USP em 2017 e o prêmio de melhor mestrado do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom) em 2018. É atualmente supervisor de Comunicação do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) e pesquisador do MECOM (Grupo de Pesquisa Mediações Educomunicativas).

* Rogério Pelizzari, Doutor e mestre em Ciências da Comunicação, especialista em Gestão de Processos Comunicacionais pela ECA-USP. Jornalista e publicitário, atua há 20 anos com comunicação pública e desde 2010 é professor universitário. Pesquisador pelo Grupo de Mediações Educomunicativas (MECOM), desenvolve trabalhos voltados à cultura juvenil e, em especial, ao papel da música no processo de formação de estudantes da educação básica. O MECOM colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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