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Criança, Mídia e Consumo: limites e relações
| Foto:
Fernando Aguiar

Como despertar nas crianças uma postura para um consumo consciente e para a sustentabilidade do planeta? Em alguns momentos, isso pode até parecer quase impossível, uma que vez que todos nós somos bombardeados por estímulos que nos conduzem a consumir, a gerar lixo e a estabelecer relações cada vez mais superficiais.

No entanto, esse despertar pode ser concreto, e mais simples do que aparenta. Basta vontade e acreditar em uma educação transformadora, que faça a diferença não apenas dentro da escola, mas para a vida toda. Com este pensamento e determinação, a escola Trilhas, em Curitiba, realiza diversas atividades para incentivar o pleno exercício da cidadania, desde cedo, entre seus alunos. Um desses projetos é chamado Simpósio Criança, Mídia e Consumo, que ocorre anualmente e mobiliza toda a comunidade escolar para uma reflexão sobre a ação da mídia para o consumo na infância. A comunicação permeia toda a preparação e produção do Simpósio. Meses antes do evento, as crianças já começam suas pesquisas e são constantemente estimuladas a questionar o que e o porquê consomem, tanto na televisão e no computador, quanto no shopping e no supermercado.
A Trilhas percorre um caminho educomunicativo quando propõe, em primeiro lugar, que sua equipe pedagógica olhe para as mídias criticamente e leve essa criticidade para a sala de aula em cada momento do ano. Além do olhar crítico, os alunos são estimulados a desenvolver pesquisas, produzir conhecimento e comunicar suas descobertas à comunidade. Durante o simpósio, cada turma apresenta um produto: telejornais, reportagens, adaptações críticas de propagandas de TV, encenações teatrais, levantamento de dados sobre os malefícios do lixo para o planeta, etc. “O objetivo é lançar um olhar cuidadoso e crítico sobre a estratégia de mercado em transformar crianças em consumidores vorazes. Acreditamos que a infância pode ser vivida de maneira mais simples, feliz e sustentável”, explica uma das diretoras, Maria Inês Weigert Galvão. Ao falar sobre o projeto, ela se emociona, pois afirma ficar sensibilizada com o grau de envolvimento dos alunos.
Com este projeto, as crianças também exercitam o diálogo e a discussão de temas como o consumo e a produção de lixo. “Precisamos mesmo comprar isso?”. Essa é a pergunta que ecoa coletivamente quando o simpósio termina. “Eu não alimento o lixo” é uma resposta a essa pergunta. Estampado na capa da agenda escolar, esse lema passa a fazer parte do cotidiano dos pais, tios, avôs…

Realizado anualmente, o simpósio reúne a produção dos trabalhos de todos os níveis de ensino, que já têm sua temática definida e associada com o momento de vida daquela faixa etária. Os pequenos trabalham com a pergunta “Você brinca comigo?”. Para isso, fazem pesquisas na família, conversam com os pais e avós sobre as brincadeiras de sua infância e depois apresentam essas brincadeiras no dia do simpósio. Já o Infantil 3 mergulha no universo dos brinquedos feitos à mão. E até um desenho animado já foi resultado de uma das turmas, que estudou e observou suas mensagens subliminares. Depois, produziram a sua própria animação. Veja o vídeo do “Turma da Floresta”:

Apontar o problema não basta. A Trilhas se propôs a fazer mais do que isso, demos uma volta. Além de apontar o que está acontecendo com o planeta, envolvemos a criança na construção de soluções”, diz Maria Inês. A diretora fala que as crianças passam a ficar mais atentas e a cobrar mudanças de postura dentro de casa. Um exemplo são relatos de pais que contam que o filho, ao ir ao supermercado, confere o rótulo dos alimentos e não deixa a família adquirir produtos com conservantes.

Este ano, o simpósio irá contar com a participação de alguns alunos como repórteres-mirins. Após o evento, a escola irá produzir um vídeo, com entrevistas dos próprios alunos com os educadores sobre os projetos apresentados. Em 2011, a Trilhas experimentou essa linguagem e agora voltará a colocá-la em prática. Para Maria Inês, a aliança entre Comunicação e Educação é o que proporciona a possibilidade de voz, de fazer com que tudo o que é trabalhado pedagogicamente saia dos muros da escola. “Geralmente, a escola é muito fechada em si mesmo, na circulação de seus projetos e propostas. Vejo no simpósio uma porta para acontecer e solidificar o diálogo entre a família e a escola”.

A 9a edição do Simpósio Criança, Mídia e Consumo irá acontecer no dia 28 de setembro, na escola Trilhas. Neste ano, o evento é voltado para a comunidade escolar (professores, alunos e famílias). Mas, em 2014, será aberto para o público em geral.

>> Patrícia Melo é jornalista desde 2001 e há oito anos atua em benefício da Educação por meio da Comunicação. Cátia Reis, também jornalista, doutoranda em Tecnologia e Sociedade pela UTFPR, estudando a linguagem audiovisual na escola.

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