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Novamente, e sempre: as socioemocionais
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A notícia é velha. Mas há necessidade em republicá-la: as sequelas de uma escola que se move a passos lentos, em um mundo que se transforma a cada segundo, são possíveis de ser percebidas em quase tudo que vivemos cotidianamente. Entretanto, só chegam com a devida veemência ao debate público quando uma tragédia está claramente mais perto da porta de casa.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), sem menosprezar a crise de saúde pública em si, chamou a atenção para uma não menos importante pandemia: a de informações, trazidas pelo COVID-19. O fenômeno da “desinformação” (excesso de notícias, jornalismo mau apurado, guerra de narrativas, fake news, entre outros fatores) ganhou contorno catastrofista dessa vez, sob a alcunha de “infodemia”.  Afinal, as consequências das chamadas “fake news” para a política e economia são sentidas geralmente em médio prazo. No caso da pandemia, a falta de informação (ou excesso dela) pode matar, literalmente, neste exato momento.

Não demorou muito para a população relembrar, como acontece em situações-limite, o importante papel da escola em meio ao caos, e o que fizemos com ela nas últimas décadas. Há mais uma vez pairando no ar o melancólico sentimento de que perdemos o “trem da história” e desperdiçamos oportunidades de desenvolvimento de professores, métodos e olhares.

A maior parte dessa triste ruminação remete à antiga batalha entre conteudismo e desenvolvimento socioemocional que soa, como nunca, anacrônica e despropositada. Demos pouco importância a uma educação que busca desenvolver no estudante a empatia, a autonomia e pensamento crítico. "Bem agora que precisávamos!” - é a sensação geral.

Afinal, que educação é essa que não nos prepara para sermos curadores de informação, resilientes, empáticos, criativos, digitais e trabalharmos em grupo para enfrentar a vida que impõe verticalmente neste momento? A escola é de fato o local ideal (mas não o único) para desenvolvermos competências que poderiam salvar vidas e transformar a dura lida diária com as informações, aprendizado e trabalho em um processo mais assertivo e, de certa forma, ponderado.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular ) é uma boa notícia, como as Leis de Diretrizes e Bases (LDBs) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) também os foram às suas épocas. O pessimismo vem da velocidade das transformações, das gerações perdidas e do impacto imediato disso no mercado de trabalho, cada vez mais evidente.

A especialista em trabalho e carreira, Heather McGowan, publicou recentemente, na edição norte-americana da revista Forbes, um artigo e um gráfico que apontam como as transformações nos ecossistema de trabalho têm acelerado drasticamente  - curva ascendente, nos meses de pandemia.  O Coronavírus funciona como uma enzima no caso; o que duraria anos, está levando meses para se transformar. Os ambientes voláteis, ambíguos, incertos e complexos (VICA, como chamamos em português) são uma realidade imediata. Trabalhar nessas condições exige cada vez mais uma formação na educação básica condizente com o espírito do tempo em que vivemos.

No contexto nacional, as socioemocionais precisam ser mais valorizadas pelas avaliações de forma geral, como as conhecemos, inclusive as de admissão em universidades, que são ainda focadas em conteúdo, distantes do “aprendizado”. Essa pode ser a enzima educativa para que não fiquem tão distantes do radar comum quando não vivemos uma tragédia.

Nesse sentido, os constantes esforços da imprensa, do mundo acadêmico a das organizações sociais (como o Todos pela Educação) em manter sistemicamente a educação como um assunto no debate público é fundamental para que não voltemos a lamentar sobre a mesma situação na próxima crise global. Afinal, educação é constituída por um processo contínuo, e não por uma série de eventos.

  • Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e educador. Atualmente é diretor da consultoria ZeitGeist e co-chairman da aliança GAPMIL, de educação para a mídia da UNESCO/ Paris. É membro do Conselho Consultivo do Programa Educamídia (Instituto Palavra Aberta e Google) e do Conselho Científico da Revista Comunicar (Universidade de Huelva, Espanha). É autor de livros, dentre eles "Idade Mídia - A Comunicação Reinventada na Escola" (Editora Aleph). Mais informações:  alexandresayad.com
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