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Professor, não utilize tecnologias digitais em suas aulas!
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Assunto da vez na área da educação, o uso das tecnologias digitais, finalmente, tomou a importância esperada há décadas por seus defensores, nas discussões pedagógicas da atualidade. Temática que historicamente ficou à margem das acirradas discussões docentes pautadas na hegemonia de temas como currículo, avaliação, inclusão, planejamento e tantas outras, as tecnologias digitais deixaram de ser “aquele assunto que não era tão importante” e passaram a ser o assunto da moda nos sites sobre educação, nas formações, nas pesquisas e no ambiente docente.

A pandemia e a necessidade de se construir uma nova escola ou uma escola diferente, trouxe à tona o uso dos recursos tecnológicos neste processo de reinvenção da educação e de tudo que, enquanto educadores, sabíamos na ponta da língua e na ponta dos dedos sobre ela. Dedos até então marcados pelo pó de giz mas que agora se assumem como “batutas” que tocam os teclados dos computadores e das telas touch, até então muito utilizadas em atividades pessoais e não com a mesma intensidade, para o uso profissional docente.

As tecnologias digitais sempre foram muito bem-vindas em aplicações da nossa vida particular, cotidiana, principalmente para nos comunicarmos, fazermos compras, consumirmos informações, utilizarmos serviços públicos e corporativos com conforto e agilidade ou dedicarmo-nos ao lazer virtual e ao universo de informações que a internet propicia. Angustiante passar o dia sem celular conectado, para uso nessas atividades, mas perfeitamente possível passar o dia sem ele no exercício da atividade docente. Até bem pouco tempo atrás, não usar nenhuma tecnologia digital em sala de aula era perfeitamente aceitável e não fazia falta na maioria das salas de aula brasileiras.

E hoje? O professor, consegue ficar um único dia sem usar algum recurso digital na nova escola que está sendo construída em tempos de pandemia? Aquele que era um recurso dispensável para a grande maioria, hoje, se torna o recurso mais imprescindível para o exercício da atividade docente. O vírus bom, aquele que transmite o uso dos recursos digitais na prática docente, está contaminando a maioria dos educadores brasileiros. Precisou que o mundo adoecesse para que as tecnologias pudessem ser vistas como recursos potenciais para a aprendizagem docente e discente. Da crise pode brotar a transformação.

Aqui está o tema dessa conversa: professor, não use tecnologias digitais em sala de aula! Não use se a tecnologia servir apenas como um reforço de práticas tradicionais, pouco emancipadoras, que reproduzam uma pedagogia da repetição, da fragmentação dos conteúdos (que não são separados na vida cotidiana, no mundo, mas que a escola separou e esqueceu de juntar).

Não use tecnologias digitais se as opções que seu aluno tiver que escolher são sim e não num formulário virtual de perguntas e respostas, ao invés de proporcionar possibilidades para que eles recheiem um formulário com boas perguntas oriundas de sua reflexão e compartilhem uns com os outros. Não use tecnologias digitais se um estudante tiver que ficar parado em frente a uma tela apenas ouvindo sem poder interagir, construir, pensar, ousar e criar.  Não use tecnologias digitais para transmitir inverdades mascaradas em informações inverídicas sobre algum assunto ao invés de ensinar seus alunos (ou pedir que eles te ensinem) a como checar informações falsas. Não utilize tecnologias digitais para ditar regras e normas de maneira autoritária, mas sim para construir boas condutas de cidadania na internet.

Não utilize tecnologias digitais para manter vivas práticas que pouco produzem reais aprendizagens ao invés de usar a potencialidade dos recursos para processos de aprendizagem baseados na colaboração entre pares, em experiências significativas e prazerosas que coloquem os estudantes no papel de pensadores criativos, que tenham paixão por aquilo que estão aprendendo, sem medo de errar.

Não utilize tecnologias digitais para reproduzir ou manter viva a velha escola que precisamos renovar.  O momento que todos vivemos pede renovação, pede reinvenção, pede inovação. A crise sanitária nos obrigou a encontrar novos meios de fazer a educação. Tivemos que vencer nossos medos, principalmente o medo de errar, essência da aprendizagem como já dizia Piaget e tantos outros mestres. A oportunidade se abre a nossa frente, façamos a melhor escolha!

Estela Endlich é doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná, especialista em tecnologias digitais na educação em processos de inovação pedagógica e diretora do Departamento de Desenvolvimento Profissional, na Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. 

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