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Qual a verdadeira finalidade do ensino?
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Já dizia Montaigne¹, no século XVI, que “Mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia”. Séculos mais tarde, Edgar Morin² utiliza esse princípio em suaobra A cabeça bem-feita. Ambos querem nos chamar a atenção para refletir sobre o que deveria ser a principal finalidade do ensino: preparar para a vida, para um pensamento aberto, livre, sistêmico. Para resolver problemas, ser autônomo, aprender a lidar com adversidades e ser feliz.

Se somente nos preocuparmos em transmitir conhecimentos e saberes, em outras palavras, se ficarmos restritos ao aspecto apenas cognitivo, não teremos nenhuma garantia de preparar os jovens para a vida em sociedade. Precisamos abrir mão do ensino conteudista e fragmentado. Afinal, o conhecimento sozinho pode até fazer com que os jovens passem no vestibular, mas não os torna pessoas melhores, mais felizes e capazes de lidar com os desafios da vida. Desafios esses, que se configuram cada vez mais complexos. Basta olhar para a política, o meio ambiente, os conflitos religiosos e econômicos entre países. Isso sem falar dos desafios comportamentais e questões éticas. Quase tudo o que nos rodeia está marcado pelas tais multidimensionalidade e complexidade.

Comecemos com um olhar para nós mesmos ou para os jovens estudantes. Somos todos seres multidimensionais e complexos. Nossa constituição é biológica/física, emocional, afetiva, psicológica, cognitiva. Negar que a educação deveria se embasar na multidimensionalidade e complexidade, seria como negar a nós mesmos.

Sabe quando a gente vai ao médico ortopedista e tem que escolher se será um especialista em joelho, mão, coluna ou pé? Trazendo para o meio educacional, sabe aquele professor de Geografia que não se conecta com os saberes históricos que seriam necessários para sua disciplina? E o de Física que acha que se os estudantes não sabem regra de três, é um problema do professor de Matemática?

Pois é, a hiperespecialização e o fato de cada vez mais estarmos fechados em nossos quadrados nos trouxe ganhos, mas também problemas, e dos grandes! Afinal, se não saímos do nosso quadrado, somos impedidos de olhar o todo. E assim, seguimos despedaçando o conhecimento, esperando que os saberes se articulem sozinhos e que a educação avance nesse amontoado de cacos e pedaços.

Para encerrar, como de costume, deixo as seguintes provocações/reflexões: Estamos encorajando os jovens para que desenvolvam um olhar mais sistêmico, voltado para o autodidatismo que exige curiosidade, motivação real e intrínseca para aprender? Será que contextualizamos e significamos o ensino, mostrando sua aplicação para a vida?

Será que estamos contribuindo para que os estudantes tenham cabeças bem-feitas ou bem cheias?

¹ Michel de Montaigne - filósofo francês, estudava os dogmas de sua época e a humanidade. Crítico da educação livresca).

² Edgar Morin – filósofo, sociólogo, cientista político. Em suas mais de 30 obras, defende a importância do diálogo, a tese da “religação dos saberes” e do “pensamento complexo”.

* Ana Gabriela Simões Borges é doutoranda em Educação, Superintendente do Instituto GRPCOM e Educomunicadora. A profissional colabora voluntariamente com o Blog Educação e Mídia.

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