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Quando a pressa vira desinformação
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Se a pressa já era inimiga da perfeição nos tempos de minha avó, quando a vida era quase toda analógica, imagine agora. 
Conectados à internet durante boa parte do dia, temos — jornalistas e cidadãos — a possibilidade de consumir e produzir informações praticamente em tempo real. Conseguimos acompanhar cena a cena os mais variados acontecimentos, de tragédias globais a eventos cotidianos.

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Tamanha agilidade, no entanto, não está livre de erros. Ainda que não sejam intencionais, os equívocos podem ter consequências graves e tumultuar um cenário informacional já comprometido por fenômenos como o das “fake news”.

Em episódios de grande comoção para a sociedade também não é raro acompanhar análises apressadas ou tentativas de “encontrar um culpado” o quanto antes. Em alguns casos, a pressa anda de mãos dadas com a irresponsabilidade.

No fim de janeiro, uma notícia chocou o mundo: Kobe Bryant, ídolo do basquete, havia morrido em um acidente de helicóptero. Não demorou muito para que o assunto dominasse as conversas nas redes sociais e, enquanto as autoridades ainda apuravam o caso, a internet fervia em teorias e boatos. O que aconteceu? Quem mais morreu? O atleta estava acompanhado de uma filha ou de mais pessoas da família? Como a NBA responderia? Algum jogo de basquete seria cancelado?

O compartilhamento desenfreado de mensagens, mesmo quando a intenção era apenas a de desabafar, teve a desinformação como efeito colateral.

“Por favor me digam que não é verdade que as quatro filhas estavam no helicóptero com ele”, dizia uma mensagem no Twitter. Fica claro que o autor não tinha o objetivo de espalhar um boato — mas o fato é que, de post em post, o destino das demais filhas de Kobe Bryant já circulava pela internet.

Em 2018, mais um triste evento teve repercussão na internet. O Museu Nacional no Rio de Janeiro pegou fogo e, enquanto os bombeiros ainda trabalhavam no rescaldo da tragédia, as redes sociais eram recheadas de opiniões e trocas de acusação.

Somente no Twitter, o incêndio mobilizou mais de 1,6 milhão de postagens das 19h do dia da tragédia às 13h do dia seguinte. Os dados são da Sala de Democracia Digital, uma iniciativa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A análise mostrou que o movimento se deu em função de uma “guerra de versões” sobre quem era o responsável pelo desastre. O mesmo burburinho aconteceu em outros ambientes digitais.

A internet abriu espaço para que todos tenhamos voz. A comunicação deixou de ser feita de “poucos para muitos” e agora temos a chance de falar de “muitos para muitos”. Essa democratização dos meios de comunicação traz, ao mesmo tempo, oportunidades e desafios.

Situações repentinas e chocantes como a morte de uma celebridade ou a destruição de um patrimônio público vão sempre ser acompanhadas de algum tipo de informação desencontrada, principalmente no início das divulgações. Mas é papel de todos nós contribuir para que o cenário seja um pouco menos caótico.

Adotar o hábito de interrogar a informação antes de passá-la adiante é uma atitude saudável para a sociedade, não só em momentos de catástrofes. Algumas perguntas básicas podem nos ajudar nessa reflexão: Quem está por trás da informação que eu recebi ou que eu penso em compartilhar? Qual é a evidência? O que outras fontes de informação estão dizendo sobre o mesmo assunto?

Em muitos casos, para combater a desinformação, basta parar um pouquinho para respirar e refletir, sem sucumbir à pressa.

*Texto escrito por: Daniela Machado, jornalista e coordenadora do EducaMídia, o programa de educação midiática desenvolvido pelo Instituto Palavra Aberta. O Palavra Aberta colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação e Mídia.

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