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Tecnologia, criatividade e inovação: transgressão na escola contemporânea?
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Começo com uma provocação: disponibilizar equipamentos de última geração, em perfeitas condições de uso, é garantia de que os alunos aprendam mais e melhor?

Minha resposta é, seguramente: não! Essa pergunta exige de nós uma análise mais complexa sobre os diferentes fatores que atuam em conjunto para que a tecnologia, a criatividade e a inovação ainda sejam um desafio na maioria das escolas do mundo todo. Como, então, podemos prosseguir e avançar nessa discussão e superar as limitações que hoje encontramos? Que limitações são essas? Sabemos que não há uma solução mágica, muito menos que os desafios se originem de uma única causa, mas alguns pontos se destacam na possibilidade de superação dessa discussão.

A infraestrutura precária é o primeiro aspecto (e talvez a mais fácil porque, geralmente, depende do outro e não de mim) a ser utilizada como justificativa do não uso no processo ensino aprendizagem. Esse ponto nefrálgico merece um olhar mais aprofundado, pois depende de financiamento público, o que se torna uma dificuldade, pois são materiais de alto custo, se comparados a outros que a escola utiliza e precisam de manutenção e atualização permanente. Isso exige da escola pública um fôlego que hoje ela não tem. A infraestrutura física de escolas mais antigas, algumas vezes, não está preparada para uma sobrecarga tão grande de consumo de energia, exigindo uma revitalização da rede elétrica. Por isso, investimentos financeiros são essenciais.

Mas com pouco dá para fazer muito?

Minha resposta é, seguramente: sim! Tenho visto diferentes iniciativas nas redes públicas do Brasil e de alguns países, que tem enfatizado a questão da metodologia frente à tecnologia. Aqui está o coração pulsante dessa discussão. Se não é possível ter o ideal, é possível fazer com o real. Cada vez mais, as metodologias têm apontado para aprendizagem por projetos, caindo por terra a metodologia do “todos fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo”. O mundo não é mais esse tão linear. Também, há diversas iniciativas de uso casado entre high tech/low tech, como a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa vem demonstrando.  Aproveitamento sustentável de recursos é outra tendência e necessidade atual.

Como isso tem sido feito?

A iniciativas mostram alguns computadores, internet, rádio, caixa de som, microfone, celulares usados, óculos de realidade virtual feitos de papelão, espaços para planejamento e troca de ideias, livros, cadernos, pilhas, leds, papel alumínio, motores e peças de objetos inutilizados, papelão cortado virando um novo kit de montar, serrote, martelo, alicate, solda, material reciclado - muito material reciclado - massinha, projetor, mas acima de tudo, o professor como maestro daquela experiência de aprendizagem “mão na massa” e a mente cheia de ideias, compartilhada e conectada com a de seus alunos, colegas e comunidade.

E como os professores podem chegar até lá?

A formação continuada é outro aspecto fundamental para avançar na discussão. Pode-se ter a sala mais moderna do mundo, mas utilizá-la para ensinar as crianças a decorarem a tabuada, por exemplo. Hoje em dia, a aprendizagem permanente do professor, não só dos conteúdos a ensinar, mas muito mais das maneiras com que ele pode fazer que seu aluno aprenda, é o foco dos programas de formação. A formação em serviço tem se mostrado uma necessidade iminente na melhoria da educação. Como um todo e cada vez mais, estou convencida que ela deva ser na escola, no locus onde tudo se dá de maneira tão tramada e complexa. A aprendizagem por pares supera a visão de que somente aprendemos quando vamos a um curso e um ser mais iluminado do que nós, revela algo que nunca tínhamos pensado (se dermos sorte), ou replica aquilo que já estamos cansados de ouvir. Aprender com o outro, na experiência diária, com os alunos, com vídeos, livros, palestras, manipulando materiais, refletindo juntos sobre o que estamos fazendo e como podemos fazer melhor, são algumas maneiras de avançar naquilo que é o grande desafio: conectar à escola o aprendizado dos alunos e a atuação do professor com as necessidades da escola contemporânea .

Qual é essa escola contemporânea que estamos falando?

A escola contemporânea, voltada a uma formação humana, que visa o bem individual, social e planetário, procura valorizar os potenciais criativos, as capacidades empreendedoras e o desenvolvimento humano em sua máxima plenitude. Como afirma Maria Isabel Cunha, é uma mudança de paradigma, que supera a simples inclusão de tecnologias, mas sim, a maneira de entender e construir conhecimento. Para ela, a mudança é o pilar principal da inovação e não o fato de ser “novo”, como é o caso das tecnologias.

Em sua obra “Inovações pedagógicas: o desafio da reconfiguração de saberes na docência universitária”, ela afirma: “Inovar evoca a mudança do que é considerado normal, das linearidades, para receber novas possibilidades de conhecer, transcender as regularidades e produzir novos conhecimentos, avançar as fronteiras. Inovar vai além dos muros da escola. Está dentro e fora dela, na relação que a mesma tem consigo e com o mundo. Quem faz a escola inovadora? Seres criativos com propósito de tornarem o conhecimento vivo na busca de soluções para atender a sua realidade social.  Nesse momento, a inovação se torna uma tarefa de transgressores. Daqueles que estão convencidos de que a ordem habitual e rotineira do ensino deve ser alterada por novas formas de compreender o mundo e exercer a docência”

* Texto escrito por Estela Endlich, doutoranda em educação pela Universidade Federal do Paraná. Coordenadora de Tecnologias Digitais e Inovação na Secretaria Municipal da Educação de Curitiba. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM, no Blog Educação e Mídia.

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