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Novo CD de Nelson Freire: o triunfo de um Bach romântico
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Lançado no início deste mês, o mais novo CD de Nelson Freire, todo voltado a obras de Bach, nos remete à discussão de se executar compositores barrocos em instrumentos modernos.O grande pianista e teórico americano Charles Rosen (1927-1912), em sua obra “A geração romântica”, afirmava que Chopin amava a obra de Bach pela ótica do piano romântico, onde o uso do pedal ressonante e o possível destacamento de uma voz secundária distorciam e alteravam as ideias do compositor barroco. No entanto esta visão romântica de Bach, segundo o próprio Rosen, deu origem a obras primas incontestáveis do compositor polonês, especialmente seus Prelúdios opus 28 (escritos em 1839), obra estruturada nas 24 tonalidades existentes como Bach fez em seu “Cravo bem temperado”.

A discussão estilística

Quando progressivamente, a partir de 1950, houve a revalorização dos instrumentos de época houve sempre a discussão sobre se a música de Bach para cravo deveria ser tocada nele ou num piano, e muitos viam como um verdadeiro crime tocar Bach ao piano fazendo uso do pedal ressonante. Não há dúvida que muitos pianistas souberam fazer uso inteligente dos recursos de seu instrumento e foram mesmo mais fiéis ao que acreditamos ser o estilo barroco adequado do que muitos cravistas. Exemplo máximo disso foi o pianista romeno Dinu Lipatti (1917-1950), que ao executar a Partita Nº 1 de Bach (existem duas gravações) conseguiu unir a beleza de toque a um rigor admirável. Com um toque mais agressivo marcaram época o canadense Glenn Gould (1932-1982) e o russo Sviatoslav Richter (1915-1997). O exemplo mais notável nos dias de hoje acontece com o pianista húngaro András Schiff, para muitos o maior interprete vivo de Bach ao piano nos dias de hoje. Curiosamente um dos mais rigorosos pianistas em termo de estilo atuaimente é o pianista de Jazz Keith Jarrett. Isso não impede que excelentes pianistas cultivem uma visão mais romântica do compositor alemão, alcançando resultados altamente satisfatórios do ponto de vista instrumental e muito questionáveis do ponto de vista estilístico. É o caso da argentina Martha Argerich, do americano Murray Perahia e do russo Mikhail Pletnev. Ouvir Bach com eles é muito prazeroso para muitos, mas causam um arrepio nos mais exigentes em termos musicológicos.

Um grande pianista romântico toca Bach

Nelson Freire em seu último CD, dedicado a obras de Johann Sebastian Bach, se revela um pianista maravilhoso entre estas duas maneiras de se encarar a música de Bach. Sua visão da Partita Nº 4 em ré maior se afasta de qualquer rigor musicológico (ignora uma boa parte das repetições solicitadas por Bach) e o uso generoso do pedal, especialmente na Allemande, cria uma aura muito mais próxima a Chopin de que a um compositor barroco. Ao contrário, ao executar a Suíte Inglesa Nº 3 em sol menor mantém um rigor estilístico de fazer inveja aos mais exigentes cravistas. Esta alternância se mantém na Fantasia Cromática em ré menor, que ele executa de maneira austera e na Tocatta em dó menor, um item que ele executa de maneira acentuadamente romântica. Nas transcrições feitas de chorais realizadas por Busoni, Silotii e Myra Hess a opção é mesmo um Bach bem “derramado”. No entanto qualquer que seja a visão de estilo a arte de Nelson Freire continua a nos fascinar. Ele permanece como um dos grandes pianistas da atualidade.

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