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Bolsonaristas foram às ruas pedir reforma da Previdência. O que isso significa?
| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Há algo de inédito nas manifestações em defesa de Jair Bolsonaro realizadas no domingo (26). Pela primeira vez, vimos gente na rua pedindo por uma reforma da Previdência.

Era um público bastante específico, é verdade. Os que se manifestaram eram, em sua maioria, o que podemos chamar de bolsonaristas "raiz": 76% se diziam de direita, 72% muito conservadores, 68% nada feministas e 88% muito antipetistas, segundo pesquisa do Monitor do Debate Político no Meio Digital* feita na Avenida Paulista.

Além disso, nos atos havia muito mais gente enaltecendo o ministro Sergio Moro e seu pacote anticrime. Ao contrário do que se viu com o "Super Moro", não há relatos de bonecões infláveis de Paulo Guedes.

Mesmo assim, a menção à reforma da Previdência chama atenção. A legislação proposta por Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes nada tem de boazinha. Assim como as reformas dos governos anteriores, ela busca fazer com que as pessoas trabalhem e contribuam por mais tempo – e com valores maiores, no caso dos mais bem-remunerados – para, em troca, se aposentarem mais tarde e recebendo menos.

Segundo a pesquisa feita em São Paulo, nada menos que 75% dos manifestantes afirmaram que o motivo determinante para participarem dos atos foi o “apoio às reformas propostas pelo governo”. Os demais se dividiram entre “apoio à Lava Jato” (8%), “repúdio à atuação dos ministros do STF” (6%), “contra o boicote do Centrão ao governo” (6%) e “intervenção militar” (2%). Os 3% restantes afirmam que foram por “nenhum desses motivos” (2%) ou não sabiam (1%).

Até certo ponto é natural que os bolsonaristas fiéis saiam em defesa do principal projeto econômico do governo. Mas, vale destacar, a campanha que levou Bolsonaro ao Planalto mal falava na reforma. E seus eleitores não estavam preocupados exatamente com o futuro do sistema previdenciário quando digitaram 17.

De lá para cá, os adeptos fiéis do bolsonarismo parecem ter sido convencidos da necessidade de mudar as regras de aposentadoria e pensão para garantir algum controle sobre as contas públicas e, assim, manter o país minimamente administrável em tempos de recursos escassos e despesas crescentes. Por trás do apoio à reforma pode estar a percepção de que, sem a “nova Previdência”, a economia – hoje à deriva – vai naufragar de vez, levando consigo o capitão do navio.

Seria um erro de Bolsonaro, no entanto, contar com a vitória. Achar que o apoio manifestado no domingo signifique a certeza de que a reforma será aprovada, e que será robusta.

Pesquisas que refletem o humor do conjunto da população – e não apenas dos bolsonaristas – mostram que a rejeição a mudanças na Previdência é menor do que já foi, mas ainda é grande.

Segundo levantamento feito em abril pelo Datafolha**, 51% dos brasileiros são contra a reforma e 41%, a favor. Outra pesquisa feita no mesmo mês, da Confederação Nacional da Indústria (CNI)***, revelou que 59% consideram a reforma necessária, mas apenas 36% conhecem pelo menos os principais pontos dela – e, destes, 51% são contrários.

O ambiente no Congresso também é mais favorável do que foi no passado. A começar porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tratado como inimigo nas manifestações de domingo, é grande defensor de uma nova legislação – mais do que o próprio Bolsonaro, que volta e meia declara que preferia não fazer a reforma.

Mas Maia sabe que muita gente ainda precisa ser convencida. Segundo monitoramento do “Valor”, hoje 103 deputados são favoráveis à reforma e 117 dão apoio parcial a ela – juntos, eles somam 220 votos, 88 a menos que o mínimo de 308 necessários para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Câmara.

Como 145 deputados se dizem contrários à reforma, Bolsonaro terá de buscar os votos faltantes entre os 148 que se dizem indefinidos. Como ele vai conquistá-los? Não parece que só o grito dos bolsonaristas nas ruas bastará.

O que o mercado espera da reforma

No mercado financeiro, entusiasta do presidente até o início do ano, 80% acham que a reforma será aprovada em 2019, conforme sondagem da XP Investimentos****. Mas a expectativa mediana de impacto é de R$ 700 bilhões em dez anos, o que corresponde a uma "desidratação" de mais de 40% em relação ao efeito projetado pelo governo em caso de aprovação integral da nova legislação (R$ 1,237 trilhão).

*A pesquisa entrevistou 436 pessoas com manifestantes espalhados entre as ruas Augusta e Alameda Campinas entre 13h e 17h de domingo (26). A margem de erro é de 5 pontos porcentuais.

**Entrevistas com 2.086 brasileiros com 16 anos ou mais, em 130 municípios, nos dias 2 e 3 de abril. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

***Pesquisa feita pelo Ibope Inteligência com 2 mil pessoas em 126 municípios entre 12 e 15 de abril. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

****Sondagem com 79 investidores institucionais (gestores de recursos, economistas, consultores e outros) feita de 22 a 24 de maio.

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