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Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo| Foto:

Enquanto caminha trôpego rumo ao fim, o governo Temer segue com seu espetáculo melancólico. A greve dos caminhoneiros, prova definitiva da fragilidade e incompetência do Planalto, vai ficando mais fraca na memória da população, mas ainda gera muito bate-cabeça entre os notáveis do presidente.

Exemplo disso são os dois tabelamentos que Temer endossou para encerrar a paralisação: o desconto de 46 centavos no litro do diesel e o preço mínimo para o frete.

As duas medidas sofreram oposição dentro do próprio governo, principalmente no Ministério da Fazenda e arredores. Mas, no desespero, Temer e seus conselheiros mais próximos não deram ouvido. O que aconteceu de lá para cá não deveria surpreender.

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Ministros ameaçaram usar o poder de polícia do governo e o que mais fosse preciso, mas em nenhum lugar o combustível baixou o prometido, muito embora o contribuinte já esteja pagando a conta do subsídio. E a tabela do frete virou um vaivém que ora favorece os caminhoneiros, ora as empresas que precisam de transporte – um reflexo esperado da impossibilidade de se agradar aos dois lados na caneta, ignorando a infinita variedade de condições de oferta, demanda, estradas e preços de combustíveis num país do tamanho do nosso.

Uma das consequências: boa parte da produção agrícola (talvez o único setor que andava bem) está parada na origem, porque para viagens longas o frete tabelado ficou caro para o produtor e para as curtas ficou inviável para o caminhoneiro. Cerca de 60 navios estão parados nos portos à espera de cargas que não chegam.

Não é só o governo que se ilude. No Supremo Tribunal Federal, suposto guardião de uma Constituição que fala em liberdade de iniciativa e concorrência, o pensamento mágico também criou asas. O ministro Luiz Fux, espécie de mediador entre governo, caminhoneiros e empresas, crê numa solução que contemple a todos. Enquanto isso, mantém na gaveta mais de 50 ações que questionam a constitucionalidade da tabela de frete. Na quarta (20), decidiu adiar por mais uma semana sua decisão, por absoluta falta de acordo.

Como é típico de um governo em frangalhos, ninguém mais fala a mesma língua, e ninguém parece se importar com isso. Não há outra explicação para o vídeo que o Planalto publicou nesta semana nas redes sociais. Nele, um ator comenta a dificuldade das pessoas de perceber a queda da inflação. E de repente passa a falar, com clareza espantosa para os padrões governamentais, sobre as consequências de um tabelamento de preços.

“Ah, mas o governo podia tabelar os preços. Tá louco? Não é assim que as coisas funcionam. Se o governo congela o preço, o produtor pode se recusar a vender ou parar de produzir. Se decide bancar a diferença, o dinheiro tem que sair de algum lugar, e não tenha dúvida: vai sair da grana dos impostos. Um dinheiro que já tá contadinho. O governo não tá com dinheiro sobrando. Pelo contrário, tá faltando”, diz o ator.

E prossegue: “A crise pegou para todos, né. Tem um rombo gigante, e se a gente não controlar as contas, aí sim, vai faltar ainda mais para as coisas mais básicas, como saúde, educação, segurança. Já tentaram fazer esse tipo de tabelamento de preços no passado. E a gente viu que não dá certo. Esse tipo de política pode ter péssimas consequências”.

É isso mesmo, você não entendeu errado. O gerente ficou louco: o mesmo governo que acaba de tabelar preços divulga um vídeo criticando o tabelamento. Ideal seria exibi-lo para os ministros. Mas talvez seja um pouco tarde.

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