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Manifestantes nos protestos contra e a favor de Bolsonaro: atos do último fim de semana antes do segundo turno deram recados para o PT e ao capitão da reserva.  Fotos: Evaristo Sá/AFP e Nelson Almeida/AFP
Manifestantes nos protestos contra e a favor de Bolsonaro: atos do último fim de semana antes do segundo turno deram recados para o PT e ao capitão da reserva. Fotos: Evaristo Sá/AFP e Nelson Almeida/AFP| Foto:

As manifestações contra Jair Bolsonaro (PSL) e contra o PT deste fim de semana deixaram uma série de recados tanto para o capitão da reserva quanto aos petistas. Um deles é de que o candidato do PSL tende a vencer a eleição, como indica a última pesquisa eleitoral, da XP/Ipespe. Mas o mais importante é que a voz das ruas pede para que Bolsonaro e o PT baixem a bola – embora isso possa não parecer tão claro no calor desta última semana antes do segundo turno; ao menos para o candidato do PSL.

Os atos do fim de semana mostraram que Bolsonaro não tem um cheque em branco da população para fazer o que quer se for eleito. E que o PT, se realmente perder a eleição, não poderá querer mandar na oposição a Bolsonaro e que terá de fazer a autocrítica que vem se recusando a fazer.

Alerta de humildade: atos pró-Bolsonaro não chegam nem perto das manifestações de 2013 e pelo impeachment

Os protestos contra o PT (ou a favor de Bolsonaro), realizados no domingo (21), foram aparentemente maiores do que os de setembro, às vésperas do primeiro turno. É necessário, contudo, fazer uma ponderação: os atos realizados no mês passado não foram planejados com tanta antecedência como os de agora. Portanto, é natural que as manifestações deste fim de semana tenham sido mais expressivas.

Isso não significa necessariamente que mais pessoas estejam dispostas a sair às ruas para defender o candidato do PSL do que há um mês. Mas, considerando que o número de eleitores mais engajados tenha crescido (o que é provável), ainda assim as ruas pedem humildade a Bolsonaro. Não as ruas deste domingo. Mas as de 2013, 2015 e 2016. As manifestações a favor do candidato do PSL foram muito menores do que as jornadas de junho de 2013 (quando os brasileiros pediram em massa o fim da corrupção e serviços públicos melhores) e do que os atos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), realizados em 2015 e 2016.

Bolsonaro não é “amado” a ponto de reunir milhões de pessoas nas ruas. Sua possível eleição à Presidência, nesse sentido, deve ser creditada mais às circunstâncias – a rejeição ao PT e aos políticos – do que à figura do capitão da reserva em si. As ruas mostram que ele é popular, mas não o “mito” no qual acreditam seus eleitores mais apaixonados. Sua possível eleição, portanto, não será uma carta branca dos brasileiros.

“Ele Não” enfraqueceu quando praticamente virou um “PT Sim”

Já os protestos do “Ele Não”, realizados no sábado (20), aparentemente foram menores do que os de setembro. Isso pode ser afirmado com base em alguns números de manifestantes que participaram dos atos, divulgados pelos próprios organizadores em algumas cidades que já haviam tido protestos anteriormente. E também por meio da comparação de fotografias dos protestos realizados nos mesmos espaços públicos.

A primeira leitura possível de ser feita é comparativa. Enquanto as manifestações pró-Bolsonaro crescem, as contra ele diminuem – o que reflete as pesquisas e indica que o candidato do PSL tende a vencer a eleição.

É possível especular uma explicação para o fenômeno do enfraquecimento do “Ele Não”: a grande diferença entre Bolsonaro e Fernando Haddad nos levantamentos eleitorais pode ter criado um clima de “não tem mais jeito”, desestimulando a participação de manifestantes. Se for isso, o recado das ruas é de que a candidatura de Haddad não decola mais, pois uma parcela significativa de seus possíveis cabos eleitorais voluntários não acredita mais numa virada. E largou mão de tentar convencer outras pessoas a mudar de voto.

Leia também: A espiral do radicalismo – o PT alimentou Bolsonaro

A segunda hipótese explicativa é de que muita gente que não quer Bolsonaro vai votar em Haddad apenas como a escolha do mal menor e não porque simpatiza com o PT. Nesse sentido, esse eleitor não se sentia envergonhado de ir às ruas na campanha do primeiro turno para dizer “Ele Não” porque havia outras opções de candidatos. Agora, em que o “Ele Não” é quase como um “PT Sim”, a situação mudou. E esse brasileiro não quer ser visto como um petista.

O recado das ruas para o PT, portanto, é claro: a rejeição a Bolsonaro é algo que transcende o partido. Se os petistas quiserem comandar a futura oposição como costumam fazer com tudo, tentando ser hegemônicos e impondo sua visão, haverá uma divisão de forças entre os oposicionistas.

Para evitar isso, o PT necessariamente terá reconhecer seus erros – como a corrupção. Terá ainda de abandonar a inclinação autoritária de desqualificar qualquer instituição que se coloque no seu caminho: imprensa, Judiciário, Ministério Público, outros partidos. Caso contrário, é possível que ocorra, durante o possível governo Bolsonaro, o mesmo que aconteceu no sábado: muita gente contrária ao capitão da reserva não vai querer estar ao lado dos petistas.

Bolsonaro, nesse caso, só irá se fortalecer. E isso será muito ruim para o país se ele decidir governar de forma autoritária, como o próprio PT diz que ele fará.

Metodologia da pesquisa citada

A pesquisa XP/Ipespe, divulgada na sexta-feira (19 de outubro), mostrou Bolsonaro com 58% dos votos válidos contra 42% de Fernando Haddad. O levantamento foi realizado entre os dias 15 e 17 de outubro com 2.000 entrevistados em todo o país. Realizada pelo instituto Ipespe, a pesquisa foi contratada pela XP Investimentos. a margem de erro é 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o grau de confiança, de 95%. O levantamento está registrado no TSE: BR-05349/2018.

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