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O presidente da França, Emmanuel Macron
O presidente da França, Emmanuel Macron| Foto: EFE/EPA/LUDOVIC MARIN

Na esperança e no desejo de que todos os leitores do nosso espaço de política internacional tenham tido boas festas e uma virada de ano tranquila, começamos o ano de 2022 com o habitual levantamento das principais eleições que nos esperam. Já é o quarto ano que começamos juntos e, como sempre, vamos dividir geograficamente as eleições. Primeiro, vamos aos pleitos europeus, destacando cinco deles.

Portugal

Já no dia 30 de janeiro os lusitanos vão às urnas eleger um novo parlamento e, provavelmente, uma nova coalizão de governo. Como mencionamos dois meses atrás, quando da dissolução do parlamento, o que está em jogo em Portugal é o futuro da “Geringonça”, a aliança de esquerda que governava o país, formada entre o Partido Socialista, social-democrata, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda.

Das 230 cadeiras da Assembleia, a Geringonça possuía 137, uma maioria até confortável. A nova eleição pode manter a Geringonça? Sim, mas não é esse o desejo do Partido Socialista, dono de 108 cadeiras. O partido torce para conseguir ter a maioria absoluta, sem a necessidade de alianças. No campo dos conservadores, os dois principais partidos de direita querem “nacionalizar” os ganhos nas últimas eleições municipais.

Pelas pesquisas recentes, o PS continuaria como maior partido e possivelmente teria uma maioria simples. Por outro lado, as mesmas pesquisas indicam uma queda nos votos dos outros partidos de esquerda. Ou seja, caso o PS não consiga a sua maioria, teria menos aliados disponíveis para uma nova “Geringonça”, com o risco de Portugal ver um parlamento travado, emulando os últimos anos da vizinha Espanha.

Sérvia

No dia três de abril é a vez dos sérvios irem às urnas. Pela segunda vez no ano, na verdade, já que o país vai realizar um referendo no próximo dia 16. O parlamento sérvio já aprovou uma reforma do judiciário nacional, e a reforma precisaria ser aprovada pelo voto popular. Em linhas gerais, a reforma busca adequar o judiciário sérvio aos parâmetros da União Europeia, como parte do pleito do país de ser um membro da UE.

A opinião sobre o referendo segue linhas ideológicas. Os partidos mais de centro e liberais defendem a reforma e defendem a ideia de integrar a UE. Já os partidos da esquerda radical e da direita nacionalista são contra a reforma, por razões diversas. As pesquisas, entretanto, apontam vitória tranquila do governo conservador, tanto no referendo quanto nas eleições gerais de abril. Caso uma reviravolta ocorra nas próximas semanas e o governo perca no referendo, certamente acenderá uma luz amarela para o pleito de abril.

França

Abril também é a vez dos franceses votarem para definir seu presidente. Caso nenhum consiga a maioria, o segundo turno será disputado em 24 de abril e, finalmente, no dia 12 de junho, os franceses escolherão os ocupantes das 577 cadeiras da Assembleia Nacional, a câmara baixa do Congresso francês. Tudo indica que Macron está garantido no segundo turno do pleito presidencial, o que está em disputa é quem concorrerá contra ele.

Provavelmente será um nome da direita francesa. No último dia quatro de dezembro, o partido Os Republicanos, a principal sigla da centro-direita francesa, consagrou Valérie Pécresse como candidata no pleito presidencial, desbancando Éric Ciotti e, principalmente, Xavier Bertrand, que chegou a despontar como principal nome do partido. Hoje ela é a segunda colocada nas pesquisas.

Ainda assim, em virtual “empate técnico” com Marine Le Pen e com Éric Zemmour, ambos mais à direita que Pécresse e representantes de eleitores nacionalistas, com pautas anti-imigração e críticos da União Europeia. O papel francês na integração europeia terá um grande destaque na campanha, já que Macron “substituirá” Merkel como o líder europeu, tanto de fato quanto de direito, já que a França assumirá a presidência rotativa do bloco.

No segundo turno o cenário será apertado, com o eleitor movido pela rejeição. A esquerda e o centro votarão em Macron, para ser um voto “anti” quem for, e a mesma coisa na candidatura da direita. Nesse sentido, Macron certamente prefere enfrentar alguém mais extremista como Le Pen ou Zemmour. Pécresse pode atrair parte do eleitorado do próprio Macron, além de um contar com um partido com grande capilaridade por trás de sua candidatura, menos personalista que as outras três.

Suécia

Em setembro os suecos vão às urnas para decidir se mantêm Magdalena Andersson como primeira-ministra. A ex-ministra das Finanças sucedeu Stefan Lofven como líder do Partido Social-democrata em novembro e, consequentemente, tornou-se a primeira mulher no cargo de primeira-ministra do país escandinavo. Agora, busca manter-se no cargo e também tornar-se a primeira mulher eleita como primeira-ministra.

Quando Löfven anunciou sua aposentadoria da vida pública, apresentou, dentre outros motivos, que a nova liderança teria, então, quase um ano de governo para “mostrar serviço” e conquistar a confiança do eleitorado, o que ele não teria. Hoje, as pesquisas apontam que os social-democratas continuariam como maior partido do parlamento, mas com uma bancada menor do que a atual. O voto sueco em setembro será, então, uma espécie de referendo sobre o pouco menos de um ano de governo interino de Magdalena Andersson.

Hungria

Ainda sem data específica, a próxima eleição húngara certamente vai atrair muitos olhares, dentro e fora da Europa. De um lado, Viktor Orbán e sua coalizão Fidesz–KDNP. Do outro lado, Peter Márki-Zay e todo o resto dos partidos húngaros. Já explicamos aqui antes o tamanho da aliança anti-governo, que necessitou de eleições primárias, em dois turnos, para decidir quem seria o nome nas urnas em disputa contra Orbán.

O pleito húngaro será disputado em abril ou em maio e, certamente, estará presente no nosso espaço outras vezes. A eleição será vendida na mídia europeia como um pleito pelo “futuro da alma europeia”. Sob Orbán, que controla seu partido e os recursos do partido com punho cerrado, a Hungria despencou em índices de liberdade de expressão, de imprensa e acadêmica, além da diminuição da separação entre os três poderes. Tudo isso é alvo de críticas da União Europeia.

Do outro lado está uma candidatura conservadora, mas, ao contrário de Orbán, baseada em uma frente ampla partidária e europeísta. O governo já adotou a retórica de que seu oponente seria uma “marionete” de Bruxelas ou de George Soros. E as pesquisas? Praticamente empate técnico, e o resultado da eleição certamente será decidido pelo comparecimento eleitoral. Quanto maior o comparecimento, pior para Orbán, que contará com seu eleitorado fiel em qualquer circunstância, mas, até lá, muita água vai correr.

Na próxima coluna vamos ver os pleitos de destaque para 2022 na África, na Ásia e na Oceania.

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