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O ministro da Defesa israelense, Benny Gantz (à esquerda), conversa com Joe Biden em Tel Aviv em julho, durante a viagem do presidente americano a Israel
O ministro da Defesa israelense, Benny Gantz (à esquerda), conversa com Joe Biden em Tel Aviv em julho, durante a viagem do presidente americano a Israel| Foto: EFE/EPA/GIL COHEN-MAGEN

No próximo dia 1º de novembro, os israelenses vão às urnas pela quinta vez em menos de quatro anos. Os leitores de nosso espaço certamente sabem disso, já que a política israelense é um tema bastante presente por aqui. Nas últimas semanas, inclusive, tivemos algumas novidades com interessante potencial em relação ao pleito, e cabe vermos essas mudanças por aqui.

A principal novidade veio no último dia 14 de agosto. Benny Gantz, o líder do partido centrista Azul e Branco e atual ministro da Defesa de Israel, anunciou a criação de um novo partido. Em julho ele já havia anunciado uma aliança com o Nova Esperança, Tikva Hadasha, mais à direita. Agora, a aliança recebeu os reforços do ex-chefe do Estado-Maior das forças armadas, Gadi Eizenkot, e do parlamentar ex-Yamina Matan Kahana.

Nova legenda

A nova legenda será chamada de Partido da Unidade Nacional e certamente agradará mais eleitores de direita. Com isso, Benny Gantz provavelmente terá poder de substituir Avigdor Lieberman, do Yisrael Beiteinu, como o “kingmaker” do Knesset, o parlamento israelense. O termo em inglês significa literalmente “fazedor de rei”. Um ator político de influência que pode viabilizar, ou deter, alguém no poder.

Esse mesmo ator, por sua vez, não possui a capacidade de ser ele mesmo um ocupante desse poder. Um pilar essencial cujas graças podem decidir o futuro de um país. O termo é mais usado em regimes parlamentaristas, como o israelense, quando um Parlamento pulverizado entre três ou mais forças implica em uma coalizão. Um partido menor, então, não pode ocupar por si só o poder, mas torna-se essencial para um governo viável.

Até as últimas eleições, Lieberman e os sete parlamentares de seu partido decidiam a viabilidade de uma coalizão. Após recusar compor uma aliança com Netanyahu e os partidos da direita religiosa, por divergências com esses partidos já explicadas em nosso espaço, Lieberman ainda tinha trânsito na direita secular e no centro, apoiando a formação do governo de Naftali Bennet e, agora, de Yair Lapid.

Benny Gantz fez parte tanto do último governo Netanyahu, como primeiro-ministro alternante e ministro da Defesa, quanto do atual governo Lapid, mantendo o cargo na Defesa, o segundo mais importante do governo israelense. Ao agregar mais figuras de peso na política local ao seu partido, Gantz aumenta o valor de sua participação em uma coalizão. As pesquisas eleitorais projetam ao Unidade Nacional cerca de 13 assentos.

Enfraquecimentos

Ou seja, mais de 10% de um parlamento que está pulverizado nos últimos anos, exigindo delicados cálculos, políticos e literais, para compor um governo minimamente viável. Coisa que não tem ocorrido, vide a atual situação eleitoral. Quem for governar Israel precisará de Benny Gantz, embora não necessariamente será Gantz o ocupante do governo. A mesma coisa que acontecia com Lieberman.

Acontecia, no passado. Lieberman continuará com algum peso na formação de coalizões, mas não será mais o fiel da balança, ainda mais depois do seu partido perder o parlamentar e ex-diplomata Eli Avidar, que saiu no início de agosto e fundou um novo partido, o Israel Livre. Muito provavelmente, entretanto, o novo partido precisará compor alguma aliança eleitoral, já que, sozinho, dificilmente passará da cláusula de barreira.

As atuais pesquisas projetam o Yisrael Beiteinu com cinco assentos, menos do que possui hoje. Interessante será ver se a invasão russa da Ucrânia afetará os votos no partido, já que parte razoável de seu eleitorado é composto de judeus nascidos em países da ex-União Soviética que fizeram a aliyah, a migração para Israel, após a década de 1990, além dos descendentes desses.

Outra novidade é um racha em uma das principais alianças da direita ultraortodoxa israelense, com o partido Poder Judaico, Otzma Yehudit, decidindo disputar as eleições sozinho. O partido defende um Estado de Israel judaico e religioso, herdeiro das ideias do rabino Meir Kahane, que foi condenado por terrorismo e assassinado em Nova Iorque, em um tema que merece uma coluna própria.

Essa cisão entre os partidos da direita religiosa ultraortodoxa pode comprometer a capacidade deles de ultrapassar a cláusula de barreira, na prática excluindo-os do Knesset. Isso pode mudar ainda, entretanto, já que o prazo para as alianças partidárias eleitorais vai até meados de setembro. No tema de alianças, a última novidade foi firmada no final de julho, entre o Yamina e o Derekh Eretz, a Espírito Sionista.

Alianças e cálculos

O Yamina era o partido do ex-premiê Naftali Bennet. De direita nacionalista, saiu bastante dividido e enfraquecido da polêmica coalizão anti-Netanyahu. A negociação, embora tenha empossado Bennet como premiê, integrou partidos de esquerda e, pela primeira vez, um partido árabe. Netanyahu acusou Bennet de trair os eleitores do Yamina e a acusação, com certo sentido, fez seu efeito.

De partido do premiê o Yamina precisou fazer uma aliança para não correr o risco de ser detido pela cláusula de barreira. E nem a aliança parece que vai salvar o partido, já que as últimas pesquisas apontam que ele fica abaixo da cláusula de barreira. Outra coisa que as pesquisas apontam, e não é novidade, é que os dois primeiros lugares das eleições ficarão com Netanyahu, do Likud, de direita, e com Yair Lapid, atual premiê, do centrista Yesh Atid.

Bibi Netanyahu, ansioso por retornar ao poder, ficaria com algo em torno de 34 cadeiras, das 120 do Knesset. Lapid teria algo em torno de 24. Dois destaques. Primeiro, desde que foi oficializado no cargo, Lapid cresceu nas pesquisas. Isso talvez também tenha relação com a resposta de seu governo aos ataques do Jihad Islâmica Palestina, já que questões de segurança sempre possuem peso enorme nas pesquisas eleitorais em Israel.

Segundo, pelas atuais pesquisas, o impasse no parlamento continuaria. O Likud de Netanyahu mais a direita religiosa não conseguiriam as 61 cadeiras necessárias. Yair Lapid e os atuais partidos de sua coligação também não conseguem o “número mágico”. Nenhum partido religioso vai integrar o governo de Lapid. E a Lista Conjunta árabe, que não pretende integrar nenhum governo, fica “sobrando”.

A possibilidade que domina o campo político, então, é se Benny Gantz pode abandonar Lapid e formar governo com Netanyahu. Hoje, ele possui a faca e o queijo na mão. Pode pedir o que quiser para formar uma coalizão e, obviamente, deseja ele mesmo ser o premiê um dia. Nos próximos meses, uma coisa é certa: o telefone de Benny Gantz não vai parar de tocar e ele vai receber uma chuva de abraços com tapas nas costas.

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