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Cartazes de campanha em Varsóvia, Polônia, antes das eleições de outubro de 2019
Cartazes de campanha em Varsóvia, Polônia, antes das eleições de outubro de 2019| Foto: Wojtek RADWANSKI / AFP

A direita saiu menor do que entrou nas eleições da Hungria e da Polônia nessa semana. Embora ainda os vencedores, os partidos Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, e o polonês Lei e Justiça perderam cargos e assentos. Um indicativo de, no mínimo, descontentamento da população depois de anos dos mesmos protagonistas no poder. Mais além, um início de articulação entre movimentos de centro e de esquerda desses países.

Eleições gerais na Polônia

Domingo, dia 13 de outubro, foi dia de eleições gerais na Polônia. Estavam em jogo os 460 assentos do Sejm, a câmara baixa do Parlamento, e os 100 assentos do Senado, a câmara alta. As pesquisas apontavam uma vitória de larga escala do Lei e Justiça, conhecido pela sigla PiS no idioma polonês. O comparecimento de 61,74% dos eleitores foi o maior desde 1989, quando do surgimento do Solidariedade.

Desses eleitores, 43,59%, a maior parcela, votaram no PiS. Proporcionalmente mais votos do que na última eleição, inclusive. No total, o partido ficou com 235 cadeiras no Sejm, o que lhe dá a maioria simples e o direito de formar governo sem a necessidade de coalizão. Oras, como dizer então que o partido saiu menor do que entrou? Primeiro, ficou com cinco cadeiras a menos do que tinha antes das eleições.

Mesmo com mais votos. Pelas regras eleitorais de distribuição dos votos pelos distritos, o PiS, mesmo com o “bônus” de ser o vencedor, perdeu cadeiras; os 43,59% do voto popular traduziram-se em 51% das cadeiras. Em segundo lugar na câmara baixa está a Coalizão Cívica, partido de centro que governou o país de 2007 à 2015, com 134 cadeiras; uma perda de 32 assentos.

A perda foi especialmente para o novo A Esquerda, partido que estreou ganhando 49 cadeiras. Depois está a Coalizão Polonesa, cristã-democrata, com 30 assentos, ganhando 14. Finalmente a Confederação, de extrema-direita, uma dissidência do PiS, que ganhou seis cadeiras, para um total de 11. Por lei, a Sejm também conta com um assento que representa a minoria alemã do país.

Nesse tema, o mapa eleitoral polonês é extremamente curioso. A divisão entre as zonas mais conservadoras, onde o PiS triunfa, ao leste, e as zonas mais progressistas, ao oeste, são quase um encaixe exato das antigas fronteiras dos impérios que governavam a Polônia; Rússia na leste e o Império Alemão no oeste. Foi no Senado, a câmara alta, entretanto, a maior perda do PiS.

O partido ficou com apenas 48 assentos, uma perda de 13 cadeiras e, principalmente, a perda da maioria. Isso deve dificultar a aprovação de leis mais sensíveis e, especialmente, eventuais alterações na constituição polonesa. Dificultar, não tornar impossível, já que o número de cadeiras ainda é bastante alto e o partido precisa apenas de três votos a mais.

Para nota, completam o Senado a Coalizão Cívica, com 43 assentos, nove a mais; a Coalizão Polonesa, com três assentos, dois a mais; A Esquerda, com dois assentos, e quatro senadores independentes. No final do dia, Mateusz Morawiecki continuará premiê do país, mas agora com a vida mais difícil. Uma oposição maior e que promete ser mais ferrenha contra seu partido.

Eleições locais na Hungria

Na Hungria as eleições, no mesmo dia, foram locais. Estavam em jogo os 381 assentos em conselhos distritais das zonas rurais, a prefeitura das 23 maiores cidades e a prefeitura e o conselho de Budapeste, a capital onde reside quase um quinto da população húngara. E foi em Budapeste a maior, e mais inesperada, derrota do nacionalistas do Fidesz.

Gergely Karácsony, politólogo de 44 anos de idade representando uma plataforma verde, disputou a eleição por uma coalizão de cinco partidos; verdes, socialistas, centristas liberais e democratas cristãos. Basicamente “todos contra o Orbán”. E venceu pela estreita margem de 50,86% dos votos. István Tarlós, aliado não muito próximo de Orbán que ocupava o cargo, era o grande favorito das pesquisas.

Mais que isso. Dos 33 assentos da assembleia de Budapeste, a maioria, 18, foi para a coalizão de Karácsony. Pela primeira vez em quase duas décadas o Fidesz será a minoria na capital, conquistando 13 assentos. A assembleia de Budapeste é uma mistura de Câmara dos Vereadores com subprefeituras, fazendo uma analogia com o sistema brasileiro, com todos os problemas das analogias.

No geral a Hungria está numa clara clivagem. Nas zonas rurais o Fidesz nadou de braçada. Foi o vencedor em todos os distritos. Da soma nacional de 381 assentos em conselhos distritais, o partido ficou com impressionantes 245, praticamente dois terços do país. Nas cidades maiores, entretanto, o partido governista colecionou derrotas.

Das 23 cidades, apenas três não eram governadas pelo Fidesz. Esse número subiu para dez, com diferentes partidos da grande coalizão anti-Orbán vencendo prefeituras. Além das sete derrotas, em outras três cidades o prefeito do Fidesz terá que lidar com uma assembleia local dominada pela oposição. De um cenário de virtual monopólio do cenário político, o Fidesz enfrentará seus maiores desafios.

Viktor Orbán não se fez de rogado. Em discurso após os resultados agradeceu as regiões rurais, disse que elas podem contar com ele, assim como ele pode contar com elas. Afirmou que o partido continua o maior da Hungria. E sim, é verdade. Em um número bruto de votos o Fidesz foi o mais votado, na soma geral. Na distribuição, entretanto, perdeu pontos chave, que podem fortalecer a oposição.

Tanto na Polônia quanto na Hungria não é possível falar em uma derrota da direita ou dos governistas, isso seria muito radical e, principalmente, não condizente com a realidade. Ainda assim, o aparente sucesso não pode esconder que, em ambos os países, a direita saiu das eleições menor do que entrou, seja com menos assentos no parlamento nacional, seja com menos governos locais.

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