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Esquerda espanhola se une
O líder da aliança eleitoral de esquerda “Unidas Podemos”, Pablo Iglesias (D), cumprimenta o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez| Foto: GABRIEL BOUYS/AFP

No último final de semana os espanhóis foram às urnas pela quarta vez em quatro anos, a segunda vez no ano. As eleições foram convocadas pela falta de acordo entre os partidos de esquerda após o pleito de Abril, já que o Partido Socialista Trabalhista Espanhol, conhecido pela sigla PSOE em castelhano, ficou em primeiro, porém sem a quantidade necessária de deputados para uma maioria no parlamento.

A falta de entendimento somou-se à crise política decorrente da condenação penal dos líderes separatistas catalães. Os principais partidos catalães com representação no parlamento são de esquerda, ou seja, possíveis aliados do PSOE, o tradicional partido trabalhista do país. O repúdio de Pedro Sánchez, líder do PSOE, aos pleitos separatistas, entretanto, azedou essas relações.

Governo vs. Catalunha

Sánchez é o Presidente do Governo da Espanha desde Junho de 2018; esse é o nome oficial do cargo de primeiro-ministro no país ibérico. Ele ocupa o posto como líder do maior partido do Congresso dos Deputados, mas sem conseguir viabilizar uma maioria. Nesse período, ele negou um novo referendo separatista na Catalunha e aventou a possibilidade de usar a polícia nacional contra os protestos catalães.

Essa foi reação aos protestos que começaram no último mês de Outubro. A cidade de Barcelona chegou à ficar tomada por protestos e barricadas, com centenas de prisões, como reação ao julgamento chamado de “Causa Especial”. A Suprema Corte da Espanha condenou nove políticos catalães por sedição e mau uso de recursos públicos; as penas chegam aos treze anos de prisão.

Mesmo com a perda dos partidos catalães, o maior problema para a formação de um governo foi a falta de entendimento entre as duas maiores bancadas de esquerda do parlamento, o PSOE e o Unidas Podemos, um agrupamento de diversas siglas e movimentos. A principal discórdia foi pelo direito de ocupar a pasta do ministério do Trabalho, interessante aos dois partidos.

Além disso, o estilo de liderança de Pablo Iglesias, do Unidas Podemos, foi bastante divisivo. De fora de seu partido a acusação foi a de ser intransigente na negociação de uma coalizão, um comportamento destoante da sua posição de parceiro júnior, de menor bancada. Também ocorreram críticas de dentro do partido, ao ponto da criação do Más País, uma dissidência.

Novo parlamento

Como consequência da falta de acordo, as novas eleições modificaram o desenho do parlamento, mas não ao ponto de eliminar a necessidade de um acordo; nenhum partido, como previsto, conseguiu maioria por si. Um primeiro sinal foi o esperado cansaço eleitoral dos espanhóis. Enquanto as eleições de Abril contaram com quase 72% do eleitorado, as de Novembro tiveram dois milhões e meio de eleitores a menos.

Nos resultados, o pleito consagrou a ascensão do Vox, partido da extrema-direita com diversas bandeiras herdadas do Franquismo, como a defesa fervorosa da identidade castelhana em uma Espanha centralizada, não admitindo os regionalismos. Sua bancada saltou de 24 para 52 cadeiras, o maior vencedor, ganhando uma fatia de 15% dos votos, contra os 10% da eleição anterior.

O segundo maior vencedor foi o tradicional Partido Popular (PP), de centro-direita, a segunda maior bancada do parlamento. O PP ganhou 23 cadeiras, para um total de 89, representando 20% dos eleitores. Ainda assim o partido não se recuperou da surra eleitoral do início do ano, quando pagou o preço dos anos de governo de Mariano Rajoy; quando 2019 começou, o PP era a maior bancada, com 135 cadeiras.

Os crescimentos do Vox e do PP foram sobre o prejuízo do Ciudadanos, que prometia se tornar a nova sigla da direita espanhola, somando bandeiras conservadoras, uma postura pró-União Europeia e liberalismo de mercado. Ele foi o maior derrotado do novo pleito. Sua bancada de 57 parlamentares caiu para apenas dez, menos de 7% do eleitorado. Muito disso é explicado pela liderança de Albert Rivera.

Rivera foi acusado de ser passivo demais, especialmente perante os protestos catalães. Um espaço preenchido pelo Vox, com uma postura veemente de condenar qualquer catalanismo. O fundador do Ciudadanos, líder do movimento desde 2006, renunciou ao cargo depois do vexame eleitoral.

Se os partidos de direita, em sua maioria, cresceram, o mesmo não pode ser dito da esquerda.

Acordo já feito

Pensando nos três maiores partidos, o PSOE continua sendo a maior bancada, agora com três cadeiras a menos, para um total de 120. Já o Unidas Podemos perdeu sete assentos, ficando com 35. A Esquerda Republicana da Catalunha ficou com 13 assentos, dois a menos. Outros dez partidos completam a câmara, especialmente partidos de bandeiras regionais, como bascos e galegos.

Isso não quer dizer que todas essas 31 cadeiras são apenas de um espectro político. No caso do País Basco, por exemplo, a direita basca ficou com seis cadeiras, enquanto a esquerda com cinco. O Navarra Suma é um regionalista de direita, com duas cadeiras, e o Junts da Catalunha é um regionalista de esquerda, com oito cadeiras. No geral, é possível dizer que, comparando com Abril, a esquerda espanhola ficou menor.

E é isso que explica a pressa de Iglesias em anunciar um acordo do Unidas Podemos com o PSOE para a formação de uma coalizão pelo prazo máximo de quatro anos. Um choque de realidade para alguém que achava que novas eleições significariam um crescimento de sua bancada; mesmo eventuais partidários do Unidas Podemos priorizaram um voto útil no PSOE, para garantir a liderança da esquerda.

Enquanto os dois partidos tinham 165 parlamentares, agora terão 155, com uma oposição ainda mais radical. Ou seja, ainda precisam de 21 cadeiras de outros partidos. Para contornar as discordâncias em relação à Catalunha a retórica provavelmente será a de união contra um adversário comum, o Vox. No final das contas, a ilusão de Iglesias sobre seu próprio tamanho custou meses, e cadeiras, à esquerda espanhola.

Conteúdo editado por:Isabella Mayer de Moura
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