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Apoiadores dos candidatos à presidente Carlos Mesa e Evo Morales são separados por forças de segurança em frente à sede da apuração das eleições em La Paz, 21 de outubro de 2019
Apoiadores dos candidatos à presidente Carlos Mesa e Evo Morales são separados por forças de segurança em frente à sede da apuração das eleições em La Paz, 21 de outubro de 2019| Foto: JORGE BERNAL / AFP

Final de semana e segunda-feira cheios no mundo eleitoral. Foram três novos pleitos e dois possíveis novos pleitos em pouco mais de cinquenta horas. Ocorreram eleições federais na Suíça, eleições parlamentares no Canadá, eleições presidenciais na Bolívia, mais um novo revés na novela do Brexit e a desistência de Netanyahu em formar um novo governo em Israel. Duas das dez maiores economias do mundo, Reino Unido e Canadá; a segunda maior economia per capita, a Suíça; um país-chave no Oriente Médio; e o país com a maior fronteira terrestres do Brasil. Apenas esses exemplos já mostram a importância desses dias.

Na terra da rainha

A Câmara dos Comuns no Reino Unido se reuniu num sábado pela primeira vez desde a guerra das Malvinas, em 1982. O “Super Sábado” seria para votar o acordo negociado por Boris Johnson, quem deveria estar a frente do Brexit desde o inicio. O acordo teve aprovação da República da Irlanda, o aspecto mais sensível das negociações. Boris Johnson garantia que teria votos suficientes para aprovação, mesmo sem os parlamentares unionistas da Irlanda do Norte. Em seus cálculos, os antigos dissidentes conservadores e parte das bancadas dos outros partidos, incluso o trabalhista, votariam pelo acordo.

Só que o acordo sequer foi votado. Os parlamentares anti-Brexit conseguiram manobrar a pauta da Câmara, colocando um voto anterior: que todas as mudanças legislativas internas causadas pelo acordo deveriam ser votadas uma a uma. O resultado era óbvio: não haveria tempo hábil de votar o acordo. Uma carta foi enviada pelo parlamento, sem a assinatura do premiê e sem timbre, solicitando mais um adiamento do Brexit. Boris Johnson enviou outra carta para as autoridades europeias. Uma terceira carta também foi enviada pelo Foreign Office. No fim das contas, só há uma forma de destravar esse processo.

Uma vitória eleitoral de alguém. Uma vitória, deve-se frisar. Nada de maiorias apertadas, coalizões. Os britânicos devem votar em peso ou em Johnson ou na oposição, que se distingue. Os liberais-democratas querem reverter o Brexit como um todo, pedindo um novo referendo. Os trabalhistas querem que a proposta de acordo seja submetida ao voto popular. Johnson já tentou dissolver o parlamento e convocar eleições, sem sucesso, acusando o líder trabalhista Jeremy Corbyn de covardia. O líder conservador já lançou seu slogan de campanha, pedindo endosso ao seu acordo.

Nos Alpes

Pode-se fazer muitas críticas à Suíça, como país. A mais conhecida é sobre a opacidade de seu sistema bancário, que tem diminuído. Em outras coisas, entretanto, os helvéticos são salutares. A realização de consultas populares diretas é uma delas. Um país onde facilmente pode-se propor legislações e onde a aprovação via referendo é necessária para diversas pautas. Nesse domingo foi a vez de realizar as eleições federais parlamentares, com 200 cadeiras na câmara baixa e outras 46 na câmara alta. O sistema suíço é bastante descentralizado, para garantir a representação dos cantões.

Menos da metade do eleitorado compareceu e os grandes vitoriosos suíços foram os verdes. Na câmara baixa, o Partido Verde ficou com 28 cadeiras, enquanto o Partido Liberal Verde ficou com 16. Isso representa 26 parlamentares verdes a mais do que na última legislatura. O maior partido continuou sendo o conservador Partido Popular Suíço, com 53 cadeiras, perdendo 12. Em segundo lugar os sociais-democratas e, em terceiro, os liberais. Os democratas-cristãos ficaram em quinto, com 25 assentos. Os próximos passos serão talvez confusos, no típico sistema suíço.

O país não é governado por um premiê ou por um presidente, mas por um Conselho Federal formado por sete integrantes, que coletivamente são a chefia de Estado e de governo da Suíça. A presidência é rotativa anualmente entre os sete integrantes, e cada um possui uma função. O Conselho é eleito numa sessão conjunta de ambas as câmaras do parlamento. Como os resultados da câmara alta ainda não estão prontos, com possíveis segundos-turnos, é difícil prever a composição do Conselho para os próximos anos, mas ele certamente terá alguns tons de verde em suas sete cadeiras.

Nos Andes

Domingo também foi dia de pleito eleitoral na Bolívia, para presidente, 130 deputados e 36 senadores. Supostamente, Evo Morales foi reeleito no primeiro turno; para isso, um candidato precisa ter 50% dos votos mais um, ou então 40% dos votos com mais de dez pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado. O “supostamente” se dá por uma estranha paralisação na publicação dos resultados. Quando a contagem estava em 83% dos votos, Evo Morales tinha 45% dos votos e seu principal adversário, o ex-presidente Carlos Mesa, tinha 38%. Ou seja, muito provavelmente um segundo turno como resultado.

Na noite do domingo, entretanto, os resultados pararam de ser publicados, supostamente aguardando a contagem em regiões mais remotas. A contagem só foi retomada na tarde de segunda-feira, com o aumento da vantagem de Evo, que foi declarado vencedor pelo Tribunal Superior Eleitoral boliviano, mesmo antes da total publicação dos resultados. A Organização dos Estados Americanos soltou nota condenando a discrepância e a paralisação na publicação dos resultados, pedindo por transparência. Já era tarde, Mesa disse que não aceitará o resultado, acusando de fraude.

Milhares de pessoas foram para as ruas, ocorreram confrontos com a polícia, incêndio de prédios eleitorais. Só que o problema boliviano antecede a contagem eleitoral. O clima era tenso e de desconfiança desde que Evo decidiu concorrer por um quarto mandato, passando por cima de um referendo popular que vetou essa possibilidade, como explicado aqui nesse espaço. Seus opositores alegam que, se ele não aceitou uma derrota anterior, o que indica que ele aceitaria agora? Quando um candidato coloca em xeque todo um sistema eleitoral antes mesmo do pleito, dificilmente sairia coisa boa.

Em Israel e no norte

Em Israel, Netanyahu avisou ao presidente do país que ele fracassou em sua tentativa de formar uma coalizão que governe o país. Cenário previsível e também explicado nesse espaço, num texto que então despertou algumas paixões desnecessárias, como o correr dos fatos estão mostrando. Agora o presidente dará ao líder do Azul e Branco, Benny Gantz, a chance de formar um governo no parlamento fragmentado entre religiosos e seculares. Será a primeira vez em 11 anos que uma pessoa que não é Netanyahu terá a chance de formar um governo no país.

Os cálculos continuam os mesmos. Gantz quer o Likud, mas sem Bibi, ao menos até ele responder todas as acusações na justiça. Gantz não quer a direita religiosa nem os árabes. Na balança estão o futuro de Netanyahu, inclusive criminalmente, e de seu partido. Finalmente, segunda-feira, dia 21 de outubro, foi dia de eleições no Canadá. Os resultados ainda não foram publicados quando da escrita dessa coluna; aparentemente, Trudeau continuará no poder, embora agora com menos cadeiras do que antes, fruto de escândalos recentes. E semana que vem teremos pleitos nos vizinhos Uruguai e Argentina.

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