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O primeiro-ministro do Japão, Suga Yoshihide, anunciou a sua renúncia à liderança do Partido Liberal Democrata
O primeiro-ministro do Japão, Suga Yoshihide, anunciou a sua renúncia à liderança do Partido Liberal Democrata| Foto:

Dois primeiros-ministros de países diferentes que vão enfrentar eleições em breve renunciaram. Em ambos, a pandemia teve algum papel em causar essa crise política e de imagem. Também em ambos, os partidos governistas realizarão convenções internas para decidir o futuro de cada legenda. Os dois países podem, inclusive, terem sua primeira mulher na chefia de governo. Nem parece que estamos falando de duas nações tão diferentes entre si quanto a Suécia e o Japão.

No dia 22 de agosto, o premiê sueco Stefan Löfven, do Partido Social-Democrata, anunciou que vai se aposentar da vida pública. Com isso, o próximo congresso do partido, marcado para novembro de 2021, irá escolher o novo líder partidário e, consequentemente, o novo primeiro-ministro ou a nova primeira-ministra do país. Isso acontece pois quem lidera a coalizão de governo é o partido, não o indivíduo. Ou seja, a pessoa que lidera o partido, seja quem for, terá o mandato do executivo nacional.

Os suecos vão eleger um novo parlamento em setembro de 2022. Dentre as razões do anúncio, Löfven apontou que a nova liderança teria, então, quase um ano de governo para “mostrar serviço” e conquistar a confiança do eleitorado, o que, hoje, ele não teria. Hoje, as pesquisas apontam que os social-democratas continuariam como maior partido do parlamento, mas com uma bancada menor do que a atual. Os partidos conservador, de esquerda e de direita nacionalista, entretanto, cresceriam.

O que explica essa falta de confiança do eleitorado que Löfven alega não ter mais? Seu governo passou por dois problemas no último ano. A principal delas, em junho de 2021, quando a Esquerda retirou seu apoio ao governo após uma proposta de remoção dos controles de aluguel de residências recém-construídas. O partido socialista já havia alertado o premiê de que sairia do governo caso ele insistisse em modificar a lei que regula os aluguéis no país.

Com isso, Löfven sofreu um voto de desconfiança formado por uma união insólita, entre a Esquerda e o Partido Democrata Sueco, de direita nacionalista cujas raízes históricas estão nos movimentos fascistas suecos das décadas de 1940 e 1950. Um de seus fundadores, Gustaf Ekström, combateu na Segunda Guerra em serviço na Waffen-SS nazista. No dia 21 de junho, o governo sofreu o voto de desconfiança e Löfven preferiu renunciar do que convocar novas eleições.

Pandemia na Suécia

Coube então ao presidente do parlamento dar o direito ao líder da oposição, Ulf Kristersson, de formar um governo. Ele não conseguiu e a chance então retornou à Löfven, que conseguiu a abstenção da Esquerda. Sua renúncia, então, evitou novas eleições e o manteve no governo, embora comandando uma minoria, agora. No dia 7 de julho, seu governo foi aprovado com 116 votos a favor, 173 contra e 60 abstenções. Mais dois votos contra e o país teria enfrentado eleições antecipadas.

A segunda crise foi a da imagem sueca perante a pandemia. Ao contrário do que chegou a ser alardeado em alguns círculos brasileiros, a Suécia não foi um sucesso contra o coronavírus e teve os piores indicadores entre os países escandinavos. Com 1.452 mortes por milhão de habitantes, o número é mais que três vezes as mortes na Dinamarca, seis vezes mais que as mortes na Finlândia e quase dez vezes o número de mortes na Noruega. Economicamente, o PIB sueco encolheu 3,1%, também mais que seus vizinhos.

Em dezembro de 2020, o rei sueco, Carlos Gustavo, afirmou que a estratégia do país foi falha e que o número de mortos foi alto demais. Em junho de 2021, o Comitê Constitucional do parlamento, uma espécie de “CPI” sueca, publicou um relatório culpando o governo por erros durante a pandemia. O impacto direto na imagem do governo, no fim das contas, foi aliviado pelo fato de que Anders Tegnell, o “rosto da pandemia” na Suécia, é um servidor de Estado, não alguém cuja nomeação é política.

Isso não salvou Löfven de quedas em sua popularidade e a junção de todos esses elementos leva, então, ao anúncio de sua renúncia disfarçada de aposentadoria. Sua sucessora provável é a atual ministra da Economia, Magdalena Andersson. Caso ela vença as eleições internas do partido, se tornará a primeira mulher a chefiar o governo sueco. Curiosamente, os três países vizinhos escandinavos são governados por mulheres, com duas social-democratas, na Dinamarca e na Finlândia, e uma conservadora na Noruega.

Japão

Pandemia, baixo índice de popularidade e eleições vindouras também são o coquetel que explicam a renúncia de Suga Yoshihide como líder do conservador Partido Liberal Democrata e, consequentemente, como premiê do Japão. No caso japonês também há o fator dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que dividiram a opinião popular do país. Outra diferença é que há pressa. Suga anunciou sua renúncia no dia três de setembro. A convenção partidária será no dia 29 e a eleição no dia 28 de novembro.

Curiosamente, os índices japoneses perante a pandemia estão bons comparados com as médias mundiais. Os problemas do governo japonês são a opinião de muitos eleitores de que os jogos não deveriam ter sido realizados e de que o governo está agindo mal perante a pandemia comparado não com o mundo, mas com o desempenho e a expertise japonesa com epidemias anteriores, como a da gripe em 2009. Desde o início dos jogos, os casos japoneses de Covid quintuplicaram.

Dentre os nomes que podem suceder Suga, desponta Takaichi Sanae, parlamentar desde 2005 e que, por quatro anos, foi ministra do governo Abe Shinzo. E é justamente o apoio público e a benção de Abe que fazem de Takaichi uma das favoritas. Tudo indica que o partido conservador vai continuar no poder, e Takaichi seria, então, a primeira mulher premiê do Japão, no ano seguinte à reeleição de lavada que manteve Koike Yuriko como governadora de Tóquio, também a primeira mulher no cargo.

A menção à essa reeleição se deve ao fato de que, por muito tempo, se especulou sobre as chances de uma mulher japonesa ser eleita para um alto cargo, devido ao machismo da sociedade. Seria um marco histórico, claro, mas um detalhe dentro de um cenário de crise de confiança no governo, de pandemia e de desafios futuros. E esse diagnóstico serve para o governo do Japão, para o governo da Suécia e, de certo modo, para todo e qualquer governo do mundo no futuro próximo.

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